sexta-feira, junho 30, 2006

No que deu a democracia nos Estados Unidos

Nestes últimos seis anos a democracia americana tem dado grandes pulos e tem conseguido aquilo que muitos pensavam ser impossível. Na democracia norte-americana não é necessário obter a maioria do voto popular para ser eleito presidente. Al Gore democrata derrotou George Bush em 2000 e contudo este ficou com a Casa Branca. Há mecanismos democráticos, sumamente aperfeiçoados nos EUA, que garantiram alcançar esse milagre político: o que perde, ganha.As eleições realizam-se em dias laborais e em horários de trabalho. Na primeira terça-feira de Novembro, a cada dois anos. Desse modo, só os melhores e os mais responsáveis participarão nas eleições. Também os mais ricos. Os desempregados não devem ter a má ideia de querer votar. As forças do mercado poderão dar os recursos para comprar votos, políticos, fazedores de inquéritos, comunicadores sociais e o que for necessário para ganhar uma eleição. As grandes empresas oferecem dinheiro também ao seu adversário. Ou quando acontece que a política se degrada num simples jogo em que dois milionários competem para ver quem manda mais. Se George W. pode ganhar em 2000, apesar de haver perdido, foi porque dois Tribunais Supremos, o da Florida e o Federal, validaram a manobra que permitiu corrigir o erro do eleitorado. O da Florida foi reformatado pelo irmão Jeb governador, e o de Washington pelo pai George. Portanto, se quiser ser democrático, faça com que o seu pai e irmão designem um Tribunal Supremo de amigos incondicionais; caso eles não possam, faça-o por sua conta. A América não confia na cidadania. Faz um controle restrito dos livros que os americanos lêem, das bibliotecas que consultam, dos amigos que visitam, das organizações em que militam, dos manifestos que assinam. Os serviços secretos escutam e gravam as conversas telefónicas e registam a correspondência. Esquece-se cada vez mais as ordens judiciais ou as leis, que costumam proteger os acusados. Desqualifica-se os opositores como anti americanos, terroristas ou traidores. Com os mais recalcitrantes, é enviá-los em segredo a centros clandestinos de interrogatórios em países terceiros, defensores incondicionais da democracia e da liberdade, onde a tortura é legal. Desse modo desalenta-se os seus comparsas e obtêm-se valiosas informações para defender a democracia, a liberdade e os direitos humanos.Os órgãos de informação de massa só emitam informações oficiais. Veja o que se está a fazer em relação ao Iraque e ao Afeganistão: os grandes media impressos e electrónicos deste país só publicam o que o Rumsfeld e o Cheney querem. Em três anos de guerra, o público não viu nem uma gota de sangue, um morto ou um mutilado. Esqueça-se da Sociedade Inter americana de Imprensa ou dos Repórteres sem fronteiras. Esses são nossos e mantemo-los para atacar Cuba e a Venezuela. A América esquece-se dos direitos humanos. Isso é só um trunfo para fustigar os vermelhos, que não são pessoas e sim inimigos da civilização que devem ser combatidos sem quartel. Aprenda com o que fazemos em Guantánamo ou em Abu Ghraib: nem prisioneiros de guerra, nem detidos, nem processados. Não se deixe intimidar pela gritaria dos organismos de direitos humanos. Se não tiver instalações na Bolívia, podemos alugar-lhe um pavilhão em Guantánamo. Recorde que aos nossos terroristas nós os protegemos e chamamo-los de "combatentes pela liberdade". Não se deixe enganar pelos comunistas, que desvirtuaram Lincoln. Este jamais disse que a democracia era "o governo do povo, pelo povo e para o povo". A tradução correcta é "governo dos mercados, pelos mercados e para os mercados". Não tente governar contra os ventos da globalização. O FMI, o BM e o BID o ajudarão, como fizeram antes com imensos países.Se vir que algum vizinho promove políticas que poderiam afectar a segurança nacional, não permaneça de braços cruzados. Envie os seus agentes para organizar, financiar e desencadear a oposição, que nesses países dominados pela esquerda costuma ser fraca e impotente: acuse o governo de fazer parte do eixo do mal, bloqueie sua economia, promova sabotagens e atentados terroristas, impeça que se visite esse país, denuncie-o por sua conivência com Saddam, Bin Laden e os narcotráficos, e conceba uma proposta de "mudança de regime" para libertar o país dos seus opressores. Não se preocupe com a imagem internacional: haverá sempre alguém que porá rapidamente as suas canetas ao serviço da sua causa, para isso é que são pagos.
http://resistir.info/bolivia/decalogo_bolivia.html

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