quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Anarquismo, Individualismo e Coletivismo

O problema central das teorias anarquistas está muito mais na dificuldade em lidar com a contradição entre individualismo e coletivismo do que numa suposta incapacidade de aplicação de seus princípios à realidade objetiva. A resposta talvez esteja na tecnologia.

O que chamamos de anarquismo, sempre transitou numa certa zona nebulosa entre as idéias individualistas, das quais derivou o moderno capitalismo, e os princípios igualitários e coletivistas, presentes principalmente no cristianismo primitivo, das quais derivaram várias modalidades de socialismo.

De fato, sabemos que Pierre-Joseph Proudhon foi bastante influenciado por ambas as idéias. Em uma cronologia de sua vida e obra, somos informados que ele em 1828 se dedica a numerosas leituras. “’Os meus verdadeiros mestres,’ declara em 1848 ao amigo J.-A. Langlois, ‘quero dizer aqueles que fizeram nascer em mim idéias fecundas, são em número de três: a Bíblia em primeiro lugar, Adam Smith em seguida e finalmente Hegel’”. (1)

Não devemos nos surpreender que o patriarca supremo do capitalismo e do liberalismo econômico tenha servido de inspiração ao homem que Bakunin designava como “o mestre de todos nós”.

Na realidade, para a ortodoxia vigente no seu tempo, Adam Smith era um subversivo. Sua idéia básica de que os homens deviam se guiar pelos seus próprios interesses, e de que os regulamentos e governos, só podiam atrapalhar o desenvolvimento da sociedade, desagradavam simultaneamente à igreja e aos incontáveis monarcas despóticos da época.

Mas, notamos que esta é de fato, a mesma conclusão a que chega Proudhon, a diferença é que Smith nunca ousou militar politicamente, sua obra prima “A Riqueza das Nações”, apesar de criticar abertamente as medidas tomadas por certos monarcas, evita prudentemente criticar os próprios monarcas. Já Proudhon é um homem da revolução francesa.

Para ele, a questão política pode ser discutida abertamente. A propriedade questionada, o direito e mesmo a necessidade dos governantes era matéria em aberto. Essas questões, Smith não podia abordar, por razões óbvias. Suas críticas, no entanto, sempre que possível, são dirigidas a todo tipo de privilégio injustificado.

Notamos mesmo que Smith critica sem rodeios as desigualdades econômicas de seu tempo: “As leis das corporações (de oficio), porém, restringem menos a livre circulação do capital de um local para outro do que a do trabalho; é sempre muito mais fácil a um rico comerciante obter privilégio de comerciar numa cidade corporativizada do que a um pobre artífice trabalhar nela”.(2)

Por outro lado, não podemos deixar de notar que, ao contrário dos seguidores de Smith, como David Ricardo, Proudhon é claramente sensível à sorte dos pobres. Ao contrário de Ricardo, que condena explicitamente qualquer intervenção a favor dos “perdedores”, os seguidores de Proudhon, principalmente Bakunin, propõe idéias claramente coletivistas.

Não resta dúvida de que as propostas “mutualistas” e cooperativistas de Proudhon são uma tentativa de resolver o dilema causado pelas conseqüências do individualismo e as aspirações de fraternidade humana vindas das páginas dos evangelhos.

Daí para á frente, enquanto o liberalismo de Adam Smith é gradativamente apropriado pela burguesia, agora cada vez mais triunfante, o socialismo utópico e de fundo cristão, é apropriado pela elite intelectual também cada vez mais liberta das amarras do passado.

As duas correntes assumem pontos de vista claros. Os liberais defendem a liberdade individual, mesmo que isso sacrifique qualquer princípio de igualdade. Os socialistas “científicos” defendem a igualdade a qualquer custo, mesmo que a conseqüência seja a virtual eliminação da liberdade.

Ao romper com Marx, os anarquistas acabam ficando numa posição intermediária. Proudhon ao advertir Marx para que “não nos tornemos chefes de uma nova intolerância, não nos apresentemos como apóstolos de uma nova religião, mesmo que seja a religião da lógica, a religião da razão”, (3) assume uma indiscutível superioridade moral.

A partir daí, os anarquistas se sentem livres para criticar tanto os rumos do liberalismo econômico e as flagrantes injustiças daí decorrentes, como para denunciar o brutal autoritarismo presente no “socialismo real”. E o fazem sempre que podem. Em resposta, são cobrados pelo fato de não apresentarem nenhuma proposta concreta, seja para a superação do capitalismo, seja para a implantação de um socialismo libertário.

Os anarquistas lembram que tanto liberais como socialistas criticavam o governo, mas agora: “Todos contam com o governo: os liberais, ostensivamente, para preservarem a liberdade, mas na verdade para impedirem a igualdade; os socialistas, ostensivamente, para preservarem a igualdade, mas na verdade para impedirem a liberdade”.(4)

Mas o que de fato os anarquistas querem? Segundo Nicolas Walter: “O traço essencial da sociedade que os anarquistas querem, é que ela será o que os seus membros dela quererão fazer. Não obstante, é possível dizer o que a maioria deles gostaria de ver numa sociedade livre, lembrando nós que não há linha oficial, como de modo idêntico não há meio de reconciliar os extremos: o individualismo e o comunismo”. (5)

Em muitos casos os anarquistas se definem de forma solene: “Somos liberais, mas mais que isso; somos socialistas e mais que isso”.(6) É uma frase e tanto, mas como traduzi-la na prática. É notório que o liberalismo e sua filha dileta, a globalização neoliberal, apenas vem aumentando as desigualdades, gerando desemprego e miséria. O destino do socialismo autoritário dispensa comentários sobre seu retumbante fracasso.

Seria essa a oportunidade histórica do anarquismo? Talvez, mas não se pode deixar de lado o problema de “reconciliar os extremos”. Para isso é necessário o enfrentamento corajoso do desafio da tecnologia. O socialismo autoritário, ao não conseguir superá-lo, fez com que as populações a ele submetidas, e que eram mantidas na igualdade da pobreza e do racionamento, se lembrassem súbita e desordenadamente da liberdade.

O sistema capitalista global, ao se valer da tecnologia apenas para maximizar os lucros do capital, promove o desemprego crônico em escala planetária, pela substituição maciça de trabalhadores por robôs e computadores. Cedo ou tarde a contradição desse sistema irá se fazer presente, pois se o bom e velho proletariado pode ser substituído como fator de produção, não o pode enquanto consumidor.

Nesse caso, o desafio real é colocar a tecnologia a serviço de todos os membros da comunidade global. Se a tecnologia puder libertar o homem do trabalho ao invés de excluí-lo do processo de produção e privá-lo de renda, a antes insolúvel questão, representada pelo binômio “igualdade-liberdade”, poderá ser resolvido.

Aqui podemos voltar à afirmação de Adam Smith: “o desejo de alimento é limitado, em cada homem, pela estreita capacidade do estomago humano, mas o desejo de conforto, de ornamentos da casa, de roupas, de aparelhagem e de mobiliário parece não ter limite ou fronteira certa”. (7)

Ora, os partidários do coletivismo, consideram o Estado imprescindível porque o ser humano precisa comer, ter roupas para se vestir e se agasalhar, ter abrigo para morar, etc. Nisso todos os seres humanos são iguais, donde concluem que os desejos de “conforto e ornamento”, são desnecessários e anti-sociais.

Os partidários do individualismo argumentam que é justamente no desejo de “conforto e ornamento” que o ser humano manifesta sua liberdade e sua individualidade. Por isso o Estado deve existir para garantir aos que podem, desfrutar de seu patrimônio e realizar seus desejos sem ser perturbados.

Mas, ao contrário da época em que as teorias políticas convencionais foram formuladas, tanto a satisfação do “estomago” quanto à de “conforto e ornamentos”, dependiam de trabalho árduo e monótono de uma parcela imensa da humanidade. Portanto, a igualdade só podia existir caso as necessidades não passassem muito do simples alimento, ou a liberdade de desfrutar de conforto ficasse restrita a muito poucos.

Se a tecnologia puder garantir os meios necessários para satisfazer as necessidades básicas, e ainda algumas supérfluas, do ser humano, a igualdade será uma realidade. Por outro lado, o tempo livre e a criatividade, poderão ser usados com toda a liberdade para as demais ambições, que como já indicava Smith “não parece ter limite ou fronteira certa”. E é muito bom que não tenha mesmo.
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Notas:

(1) PROUDHON, Pierre-Joseph – Do Princípio Federativo – Ed. Imaginário – Pág. 21
(2) “Os Pensadores” – Abril cultural – Vol. XXVIII – Pág. 116
(3) Carta a K. Marx, 17 de Maio de 1846
(4) WALTER, Nicolas - Sobre o Anarquismo
(5) Idem.
(6) Idem.
(7) “Os Pensadores” – Abril cultural – Vol. XXVIII – Pág. 340
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br

Frank Zappa Video From Hell pt2

Frank Zappa Video From Hell pt1

A manchete que não o foi nos média: "DESIGUALDADE AUMENTA"

"O Eurostat acabou de publicar dados sobre a repartição dos rendimentos nos países da União Europeia. Esses dados já abrangem o 1º ano do governo de Sócrates, ou seja, 2005. E eles revelam que as desigualdades na repartição do rendimento nunca foram tão elevadas em Portugal e nunca aumentaram tanto num único ano como sucedeu neste 1º ano de governo PS.
Em 2005, em Portugal, os 20% da população com rendimentos mais elevados receberam 8,2 vezes mais rendimentos do que os 20% da população com rendimentos mais baixos, quando a média na União Europeia (25 países) era, nesse ano, de 4,9 vezes, ou seja, em Portugal a desigualdade neste campo era superior à média comunitária em 67,3%. Se se analisar a variação da desigualdade nos últimos dez anos conclui-se que é precisamente em Portugal o país onde ela mais cresceu. Entre 1995 e 2005, este indicador baixou na União Europeia dos 15 países mais antigos, onde Portugal se integra, de 5,1 para 4,8, enquanto em Portugal cresceu de 7,4 para 8,2. Mas é precisamente em 2005, com o governo de Sócrates, que as desigualdades neste campo aumentaram mais. Enquanto a nível da UE25 passou de 4,8 para 4,9, portanto agravou-se em 2%, em Portugal aumentou de 7,2 para 8,2, ou seja, registou um agravamento de 13,8%, isto é, 6,9 vezes mais que a média comunitária E tudo se verifica num País onde a riqueza criada por habitante é bastante inferior à média comunitária. Em 2006,por ex., o PIB por habitante SPA português correspondia apenas a 69,8% da média da UE25. A riqueza produzida é pouca em Portugal mas está cada vez mais mal repartida, o que torna a situação portuguesa ainda mais grave (interessa recordar que dois milhões de portugueses vivem actualmente ainda abaixo do limiar da pobreza)."
Eugénio Rosa
Não é triste para um governo socialista ver este aumentar da desigualdade na nossa sociedade?
Onde apareceu esta notícia como manchete? Não tinha essa dimensão?
Que reflexos tem este aumento da desigualdade a curto e médio prazo na Educação?
É dificil de medir em números, não é? Mas os problemas daqueles que estão cada vez mais no fundo da tabela vão repercutir-se nas escolas. Disso não tenho dúvidas.
http://edutica.blogspot.com/

Isto sim, é objecto de Óscar

Se as declarações de alguns responsáveis da Universidade Independente saírem em dvd, eu compro. E gostava, muito sinceramente, que fossem exibidas em salas de cinema.
Por enquanto é preciso que os advogados não se armem em parvos, impedindo estes poemas vivos de se difamarem na televisão. Deixem-nos falar.
E pode alguém ir escrevendo um livro, para sair no verão?
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/

Frei Gambozino, um padre grosseirão

Num artigo saído no Público no dia 24 de Dezembro de 2006, o cidadão Bento Domingues tratou os laicistas de «estúpidos sem fronteiras», «importante colecção de cretinos», «quadrilha de idiotas», e falou também em «manifesta tolice» e «burrice mais aguda».

Se o sr. Domingues tivesse escrito que os africanos são «cretinos», seria racista. Se tivesse designado os judeus por «quadrilha de idiotas», seria anti-semita. Se tivesse chamado «estúpidos» aos brasileiros ou aos chineses, seria xenófobo. Se o Público tivesse editado um artigo aludindo à «burrice» católica, dez bispos gritariam «a ICAR está a ser perseguida». Se o alvo fossem os muçulmanos, haveria uma crise internacional. Se um militante do PS (ou de outro partido) tratasse, nos jornais, os do PSD (ou de outro partido) de «estúpidos», «cretinos» e «idiotas», seria excluído do debate público. No entanto, este género de linguagem ordinária é permitido a um grupo específico de portugueses, os sacerdotes católicos. Haverá justificação para se ser eticamente menos exigente com estes senhores? Eu penso que não.

O artigo referido veio na sequência de uma célebre campanha do jornal Público, durante a qual o militante clerical António Marujo tentou convencer os leitores de que iam laicistas a casa das pessoas impedi-las de fazer presépios ou de sairem para a «missa do galo». A campanha era montada a partir de falsidades e meias-verdades, e duvido que Frei Gambozino Domingues não o soubesse. Foi grosseiro gratuitamente.

Por um misto de paternalismo e comiseração por quem ganha a vida a vender uma banha da cobra chamada «ressurreição», a contar patranhas sobre as leis da natureza e sobre acontecimentos históricos, e a meter-se na vida dos outros, muitas pessoas tendem a ter padrões éticos mais baixos para os sacerdotes católicos. É um erro. Qualquer padre pode compreender que a «ressurreição» é treta, e que não é por querer agradar a divindades abstractas que se deve ajudar as pessoas concretas. Resta acrescentar que certos ingénuos e ingénuas acham Frei Gambozino «tolerante». Eu não percebo se os insultos que profere são toleráveis para essas pessoas. Para mim, não são.

Ricardo Alves
http://www.ateismo.net/diario/

O Que Dói Mais Fundo

Eu sei que é hipocrisia afirmar que não custa ver as perspectivas de progressão na carreira, com as consequentes implicações materiais, cortadas por fórmulas economicistas congeminadas por senhores e senhoras de fato cinzento em grupos que antes eram de trabalho e agora são de missão, mas não de missionários.
Mas realmente o que acaba por doer mais à maioria dos colegas com quem falo, é a forma acerba, arrogante, azeda (e só estou a fazer uma breve digressão pela letra A) como a actual equipa ministerial, com destaque para a Ministra do momento, se refere aos docentes, como grupo profissional e como profissionais individuais. A sobranceria, o menosprezo, a desconfiança (agora vou substantivando com o resto do alfabeto) com que os professores são tratados é algo verdadeiramente inédito na relação entre a tutela e os docentes e traduz, desde o início deste mandato, um modo ínvio e soez de estabelecer uma relação que se pretenda profícua e de colaboração mútua.
Não quero saber de velhas inimizades pessoais ou ajustes de contas com o passado de nenhum dos três elementos que estão de passagem pelo ME com base em escolhas políticas e sem que o percurso profissional e curricular demonstrem mérito para tal (os secretários de Estado ainda teriam uns pontitos por passagens anteriores pela máquina burocrático-administrativa do Ministério, mas apenas com base no exercício de carggos e não no seu desempenho). O problema é que estas três pessoas chegaram onde chegaram e, não sei com que fundamento, começaram a usar uma linguagem imprópria para lidarem com uma classe profissional qualificada e, em vários casos, tão qualificada como eles.
Não quer dizer que com palavrinhas doces tudo se resolvesse. Mas pelo menos um mínimo razoável de lisura e civilidade no tratamento seriam bem-recebidos por todos nós. Não quero saber de traumas escolares ou de atitudes de menorização que este ou aquela tenham sofrido no seu passado mais ou menos recente. Eu e muitas dezenas de milhar de docentes não temos qualquer responsabilidade por isso. E não temos que pagar por pecadilhos alheios ou servir de carne para canhão para desforras particulares.
Eu gostaria de olhar para cima - para a generala e os seus coronéis. para reutilizar a linguagem militarista de há uns tempos - e encontrar modelos de comportamento ético e político (não se as coisas não se excluem entre si, mas vamos acreditar que ainda assim não seja) que pelo menos me inspirassem respeito e confiança.
E nada se passa de mais contrário aos meus desejos. Encontro percursos políticos passados sinuosos e comportamentos actuais opacos e mistificadores.
E desculpem-me lá, mas tenho um plafond de faces muito limitado para serem esbofeteadas e desconfio que aqui não se aplica aquela fórmula bíblica de serem “insondáveis os caminhos do(a) Senhor(a)”, ou mesmo a fórmula popular de “escrever direito por linhas tortas”.
E acho que aqui o direito à indignação, mais do que um direito é um dever cívico.
http://educar.wordpress.com/

Incentivar: o quê, e como

Tenho desabafado regularmente sobre piratas e partilhas, mas vejo pelos comentários que a minha posição acerca deste sistema de incentivo não é clara. O que é que se quer incentivar, como o fazer, e se ainda é necessário fazê-lo com a tecnologia que temos. Consideremos então as duas formas principais do que se chama «propriedade intelectual»: patentes e copyright.

As patentes aplicam-se à exploração comercial de inovações tecnológicas, o que geralmente exige uma infra-estrutura dispendiosa. Não se pode patentear teoremas, fórmulas matemáticas, ou descobertas científicas, e a patente é um documento público, pelo que a ideia se torna «propriedade» de todos. Por isso a patente não recompensa ideias; o seu papel é proteger o investimento necessário para se tirar proveito da ideia. É para incentivar fábricas e não invenções.

O copyright cobre expressões materiais de uma ideia, também não cobre a ideia em si. Ninguém é dono de uma música ou de um poema. O copyright apenas restringe o direito de criar certas representações da ideia. Restringe o direito de distribuir fotografias do Rato Mickey mas não o direito de desenhar o Rato Mickey. Restringe o direito de vender CDs mas não o direito de cantar no duche. Também aqui o propósito não é proteger a ideia, que se assume ser de todos, mas proteger o investimento necessário à sua divulgação.

As empresas de distribuição vendem o copyright como incentivo à criatividade, mas este sistema tem pouco mais de cem anos e já havia criatividade antes. O copyright não foi inventado para remediar uma falta de inspiração de músicos e escritores do final do século XIX, mas para regular a concorrência entre as editoras que imprimiam e vendiam livros e pautas. Este serviço era importante para todos e era preciso que a sociedade o protegesse.

A coisa começou a dar para o torto nos anos 1910-20 quando os estúdios de cinema aproveitaram a lei de 1909 sobre o trabalho contratado, uma lei que dava ao empregador o direito de autoria sobre a obra do empregado. Tinha sido criada para simplificar a gestão dos direitos sobre jornais e revistas, mas teve um impacto imprevisto ao mudar por completo a noção de «autor». Os estúdios passaram a contratar argumentistas e a ficar com os direitos sobre as suas obras. E a enriquecer. E a pagar aos políticos para dar uns jeitinhos na lei. Hoje em dia os artistas têm muito poucos direitos sobre a arte que criam, o período de exclusividade cresceu de catorze para cento e vinte anos, e a arte parece mais uma competição de vendas que uma expressão de criatividade.

Os direitos de «propriedade intelectual» são restrições que a sociedade se impõe para proteger o investimento que a exploração da criatividade exige. Isto concedeu aos distribuidores o poder de distorcer gradualmente o sistema a seu favor, e em prejuízo da criatividade artística e do consumidor. Mas agora esse modelo de distribuição é obsoleto, e podemos fazer com as músicas e histórias o que fazemos com a matemática, as receitas, ou o design de roupas. Deixemos que os artistas se entendam com o seu público como se entendem professores e alunos, cozinheiros e gourmets, desportistas e adeptos, e tantos outros que criam e apreciam as mais diversas coisas. Porque nenhum poeta deixa de escrever, nenhum pintor deixa de pintar, e nenhum músico deixa de compor só por medo que os fãs partilhem essas obras.
Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/

Patentear a vida

Você, ou alguém que você ama, pode morrer devido a uma patente de gene que, à partida, nunca deveria ter sido concedida. Parece improvável? Infelizmente, é apenas demasiado real.

As patentes de genes são agora usadas para deter a investigação, impedir testes médicos e manter informação vital longe de si e do seu médico. As patentes de genes retardam o passo dos avanços médicos sobre doenças mortais. E elevam os custos exorbitantemente: um teste para cancro de mama que poderia fazer se por 1.000 dólares custa agora 3.000 dólares.

Porquê? Porque o detentor da patente do gene pode cobrar o que quiser, e fá lo. Poderia alguém fazer um teste mais barato? Claro, mas o detentor da patente bloqueia qualquer teste por parte de um competidor. Possui o gene. Ninguém mais pode o testar. Na verdade, uma pessoa não pode sequer doar o seu próprio gene do cancro da mama a outro cientista sem o consentimento do detentor. O gene pode existir no seu corpo, mas é agora propriedade privada.

Esta situação bizarra acabou por acontecer devido a um erro por falta de financiamento e escassez de pessoal na agência governamental. O Escritório de Patentes dos Estados Unidos interpretou mal as decisões prévias do Tribunal Supremo e, há alguns anos, começou – para surpresa de todos, inclusive dos cientistas que decifraram o genoma – a emitir patentes de genes.

Os humanos compartilham principalmente os mesmos genes. Genes que também se encontram em outros animais. A nossa composição genética representa a herança comum de toda a vida na Terra. Não se pode patentear a neve, a águia ou a gravidade e não se deveria também poder patentear genes. Contudo, actualmente, um quinto dos genes no seu corpo são propriedade privada.

Os resultados têm sido desastrosos. Habitualmente, imaginamos que as patentes promovem a inovação, mas isso é porque a maioria das patentes são concedidas para as invenções humanas. Os genes não são invenções humanas, são rasgos do mundo natural. Como resultado, estas patentes podem ser usadas para bloquear a inovação e prejudicar o cuidado dos doentes.

Por exemplo, a doença de Canavan é uma desordem hereditária que afecta crianças a partir dos 3 meses; não podem gatear nem caminhar, sofrem paralisia progressiva e morrem durante a adolescência. Anteriormente não existia nenhum teste para dizer aos pais se estavam em risco. Famílias que suportam a angústia de cuidar destes meninos implicaram um investigador para identificar o gene e produzir um teste. As famílias com Canavan de todo o mundo doaram tecido e dinheiro para ajudar esta causa.

Quando o gene foi identificado em 1993, as famílias conseguiram o compromisso de um hospital de Nova Iorque para oferecer gratuitamente o teste a qualquer pessoa que o solicitasse. Mas o patrão do investigador, o Instituto de Investigação Infantil do Hospital de Miami, patenteou o gene e negou-se a permitir o teste a qualquer provedor de cuidados de saúde sem o pagamento de direitos. Os pais não acreditavam que os genes devessem ser patenteados e por isso não puseram os seus nomes na patente. Consequentemente, não tiveram qualquer controlo sobre o resultado.

Além disso, o dono de um gene pode também, em alguns casos, possuir as mutações desse gene, e estas mutações podem ser os marcadores da doença. Países que não têm patentes de genes na verdade oferecem melhores testes de genes do que nós, porque quando múltiplos laboratórios estão autorizados a fazer testes, mais mutações são descobertas, elevando assim a qualidade dos testes.

Os defensores das patentes de genes argumentam que o problema é uma tempestade num copo de água, e que as licenças das patentes estão prontamente disponíveis a custo mínimo. Isso é simplesmente falso. O dono do genoma da Hepatite C pede milhões aos investigadores para estudar esta doença. Não surpreende que muitos outros investigadores decidam estudar algo menos dispendioso.

Mas esqueçamos os custos: por que deveriam as pessoas ou as companhias, à partida, possuir uma doença? Não a inventaram. Contudo, actualmente, mais de 20 patogenias humanas estão em posse privada, incluídas a hemofilia, a gripe e a hepatite C. E já mencionámos que testes para o cancro da mama custam 3.000 dólares. Ah, mais uma coisa: se você se submeter ao teste, a companhia que possui a patente do gene pode guardar o seu tecido e fazer investigação nele sem pedir a sua permissão. Não gosta? Paciência.

A simples verdade é que essas patentes de genes não são benignas e nunca o serão. Quando o vírus do SARS se estava a disseminar pelo globo, os investigadores médicos hesitaram em estudá lo – devido a preocupações com a patente. Não há indicação mais clara de que as patentes de genes bloqueiam a inovação, inibem a investigação e põem nos a todos em risco.

Nem o seu médico pode obter informação relevante. Uma medicação da asma só funciona em certos pacientes. No entanto, o seu fabricante travou esforços de outros para desenvolver testes genéticos que determinariam em quem funciona e em quem não. Tais considerações comerciais interferem com um grande sonho. Durante anos prometeram-nos a era vindoura da medicina personalizada – medicina adequada à composição particular do nosso corpo. As patentes de genes destruem esse sonho.

Felizmente, dois deputados querem tornar disponível para todos nós o benefício total do genoma decifrado. Na sexta feira passada, Xavier Becerra, um Democrata da Califórnia, e Dave Weldon, um Republicano da Flórida, patrocinaram a Lei de Acessibilidade e Investigação do Genoma, para proibir a prática de patentear genes encontrados na natureza. Becerra teve o cuidado de dizer que o projecto de lei não estorva a invenção, antes a promove. Tem razão. Este projecto de lei alimentará a inovação, e devolver-nos-á a nossa herança genética comum. Merece o nosso apoio.

Michael Crichton
The New York Times
http://www.infoalternativa.org/ecologia/ecologia053.htm

Dream Theater I Walk Beside You

A ideologia dos senhores do mundo

Os Senhores do Mundo têm em comum valores e princípios fundamentais que são o cimento ou base de sua unidade, o seu denominador comum. A adesão a estes princípios é obrigatória para ser admitido no Círculo dos Senhores do Mundo e de suas organizações (FMI, etc).

Os princípios-chaves dos Senhores do Mundo

1 - Os fins justificam os meios.

2 - O forte deve dominar o fraco. O forte foi concebido para ser um predador, e o fraco para ser a presa.

3 - A eliminação dos fracos é conforme o pincípio da seleção natural (cf. Darwin).

4 - A vida de todos os indivíduos não tem o mesmo valor. Os que têm um valor negativo podem ser eliminados, conforme o interesse superior do conjunto.

5 - O mundo deve ser governado por uma elite.

Os Predadores (citação do livro "Os Novos Senhores do Mundo" de Jean Ziegler) 

No coração do mercado globalizado, o predador ( banqueiro, o resposável de uma sociedade transnacional, operador do comércio mundial) acumula dinheiro, destrói o estado, destrói a natureza e os seres humanos, e, mediante a corrupção conquistam os agentes apodrecidos que deveriam assegurar os serviços junto aos povos que ele domina.

Para os fortes, e também para os fracos que sonham em alcançá-los, a felicidade reside no solitário desfrute de uma riqueza obtida no esmagamento do próximo, mediante a manipulação da bolsa, da fusão e concentração de empresas sempre cada vez mais gigantescas e da acumulação acelerada de qualquer origem. Última invenção da cupidez empresarial: patentear seres vivos (humanos, vegetais...).

A racionalidade mercantil devasta as consciências, aliena o homem e distrai a multidão de seu próprio destino, que deveria ser livremente debatido, democraticamente escolhido. A lógica da mercadoria asfixia a liberdade irredutível, imprevisível do indivíduo. O ser humano é reduzido à sua pura funcionalidade no mercado.
http://pimentanegra.blogspot.com/

Zappa Dweezil - Hendrix's Guitar

Reforma das Urgências - vender gato por lebre

Populações e autarcas têm saído à rua em resposta à tentativa de encerramento de muitos serviços de urgência que o ministro Correia de Campos pretende impor à má fila. Como é seu hábito o ministro ameaça com castigos os autarcas recalcitrantes e intensifica a propaganda com a qual pretende vender gato. O documento em que se apoia esta reforma apresenta fragilidades confrangedoras e abre caminho para uma medicina barata mas de baixa qualidade.

A forma como a rede é definida em termos de capitação, isto é da população total a ser servida por cada unidade de urgência, mostra logo como a qualidade não foi o critério por que se pautou a comissão. Assim prevê este documento um Serviço de Urgência Médico-Cirúrgico por cada 200.000 habitantes. Logo aqui se percebe a tentativa de concentrar e diminuir os meios, certamente por imposição economicista do governo, que deixa antever o cenário triste dos hospitais de campanha e das longas esperas por atendimento. A ser seguida esta recomendação a afluência exagerada de doentes a estas unidades irá provocar o seu rápido congestionamento. A França tem uma destas unidades por cada 110.000 habitantes e a vizinha Espanha, embora haja variações entre as regiões, não se afasta muito dos valores franceses.

Depois o documento não define as competências dos médicos que irão estar nas novas urgências a criar nem as qualificações técnicas do restante pessoal. Aliás não há qualquer palavra sobre quadros de pessoal, ou sobre a qualificação técnica consoante a afluência prevista, uma condição basilar para a constituição de serviços de qualidade. Este facto não deixa de ser preocupante atendendo a que pode haver a tentação de empregar mão-de-obra barata e pouco qualificada. Um critério economicista estará seguramente por detrás desta omissão.

A unidades ditas Serviços de Urgência Básica pouco mais serão do que os tradicionais SAP (Serviços de Atendimento Permanente) a que estamos habituados, mas com mais doentes para atender. Se pensarmos que o ministro pretende encerrar urgências com atendimentos abaixo dos 150 utentes diários é de crer que qualquer destas unidades básicas irá atender mais de 150 doentes. A Ordem dos Médicos estipula que um serviço que atenda entre 150 a 400 urgências por dia deverá ter pelo menos oito médicos (sendo três especialistas). O Ministro faz a coisa por menos e estipula apenas dois sem mencionar a especialidade. Isto «...prevendo eventual acompanhamento no transporte de doente» como diz o relatório na página 5. O serviço entretanto, ficará apenas com um médico, até ao regresso do que saiu a acompanhar o doente.

Dá para entender o tipo de medicina de urgência que o Ministro propõe para os Portugueses e os previsíveis estrangulamentos dos novos serviço. As consequências da transformação de 261 Serviços de Atendimento Permanente em apenas 42 Serviços de Urgência Básica e das 73 urgências hospitalares em apenas 41 unidades de Urgência de nível superior, que o documento propõe, deixa antever uma degradação intolerável das condições de funcionamento das urgências em Portugal.

É tempo de dizer basta.
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=114911&cidade=1

Já podemos voltar a falar de Educação por favor?

Pronto. Já delapidaram o que conseguiram na carreira docente, já prolongaram os horários escolares, já encheram as escolas de papéis para preencher, tempos extra-lectivos e substituições, já ferraram nas faltas e nos escalões, já entreteram os meninos, já deitaram para o lixo a especificidade e qualquer tipo de reconhecimento pelo desgaste psicológico e pela profissão docente em geral...
Pronto. Agora que já fizeram tudo o que era possível fazer de acessório na Educação, pode ser que alguém comece finalmente a debruçar-se sobre o essencial. Será que agora vai alguém finalmente fazer uma reforma na Educação?
Penso que não devemos esperar para confirmar o que já se antevê: o insucesso não desce, nem a qualificação dos alunos sobe, nem a qualidade do ensino melhora... é óbvio que nada disso vai mudar.
Então era agora boa altura para pensar a sério no Ensino em Portugal. Poderíamos desde logo começar por fazer esta pergunta:
-Porque os alunos não aprendem?
Brevemente vamos confirmar que não é por estarem mais tempo na escola que os alunos aprendem melhor., Ou por terem Inglês, ou devido aos professores faltarem muito, ou porque os professores ganham muito, ou porque há substituições... Também não é por culpa dos professores. Penso que é chegada a hora de dizer aquilo que, se calhar, todos pensam mas ninguém tem coragem de dizer: - Os alunos não aprendem porque desde logo muitos não têm uma educação de base com valores de esforço, de valorização da cultura e educação, de leitura, de trabalho, de regras, de carinho e de tempo com a família. Ou seja, a cabeça não treina, o exemplo não é dado, os afectos estão no ATL.... depois o que a escola vai fazer? Vamos continuar a colocar a culpa nos professores?
Em segundo lugar temos a desadequação do currículo e das práticas. Grande fatia dos alunos não se interessam pela escola, não querem saber, não vêem qualquer utilidade na coisa e não aprendem mesmo... Vamos mandá-los embora?
É chegada altura de começar a pensar no Currículo (flexibilizar, valorizar outras aprendizagens, criar outros cursos, aumentar o ensino prático e experimental...), na Formação dos Professores (fomentar práticas activas de ensino, trabalho com grupos heterogéneos, reflexão e auto-avaliação...) e na Organização do Ensino (reduzir alunos por turma, criar parcerias, diminuir professores por turma,...) Só para dar meia dúzia de exemplos. Alguém então agora que se chegue à frente e que se mostre competente para tal, porque este ME já mostrou o que sabe fazer.
A escola é o reflexo da sociedade onde se insere, e a escola de hoje está a aumentar as desigualdades e a excluir os mais fracos. Temos a escola que merecemos, mas podemos fazer algo para quebrar este ciclo. Eu acredito que a escola pode fazê-lo... assim tenhamos pessoas à altura para tal. Temos de enfrentar as questões de frente de deixarmos as ideias neo-liberais fora da educação. Já cumpriram o seu papel de poupar num sector chave para o desenvolvimento da sociedade, agora era bom darem lugar a quem realmente percebe de Educação.

Sizandro
http://escolaescola.blogspot.com/

Educação, Mentiras e Estatísticas

Conforme promessa antiga, aqui está o contributo do Manyfaces para as nossas discussões:
A nossa relação com relatórios e em particular com relatórios de base estatística nunca foi a melhor. Existe uma tendência para menorizar os resultados, questionar as fontes, viciar os dados de entrada, matar o mensageiro quando a mensagem estatística não se adequa à teoria em vigor…
Vale quase tudo…
Sobre estatísticas e o desconforto que provocam temos até umas frases batidas, uma tiradas consensuais que ilustram bem a nossa difícil relação com elas. Tantas vezes se ouve dizer, “são só estatísticas, valem o que valem” ou “não têm em conta as condições reais de cada um”. Pois eu sou obcecado com estatísticas e tenho boas razões para ser…. Porque são elas que nos permitem manter a realidade debaixo de olho, são elas que informam as decisões, são elas que permitem ver para além do aparentemente óbvio, são elas as únicas armas para combater o recorrente “parece-me que”. Antes de entrar na educação e suas mentiras e estatísticas, um pequeno desvio para dar um bom exemplo da sua utilidade:
É conhecido o processo de reorganização das maternidades em Portugal, que ao tempo da Leonor Beleza permitiu começar a reduzir drasticamente os índices da mortalidade infantil em Portugal. À data o processo sofreu contestação generalizada. Foram fechadas centenas de pequenas maternidades que funcionavam em péssimas condições. Os serviços foram concentrados em poucas mas boas unidades. Com isto atingimos no espaço de uma década um índice de mortalidade infantil a todos os títulos admirável. E neste processo foram fundamentais as estatísticas. Elas permitiram concluir que a proximidade não compensava face à dispersão de meios. Elas informaram a decisão, foram contra o senso comum que apontava para o primado da proximidade. Esta foi uma verdadeira “boa prática” que deve ser sempre mencionada quando em Portugal se fala de estatísticas e da sua importância.
E em relação à educação e suas estatísticas?
A primeira medida para quem queira falar de estatísticas sem ser totalmente desacreditado é ignorar tudo o que seja relatório com origem em Portugal. Fundamentalmente porque é quase impossível reunir consenso mínimo sobre a sua qualidade e idoneidade. Restam aos interessados os relatórios da OCDE, que ainda assim são mais consensuais. O meu interesse começou com o célebre relatório, “Education at a Glance 2006″ que gerou tão aceso debate em vários foruns. Mais uma vez o problema foi o da utilização dos resultados e da sua formatação de acordo com a perspectiva de cada um. Quando não é possível que a realidade encaixe na teoria, então é sempre possível tentar distorcer um pouco a interpretação da realidade estatística….
Neste caso a discussão centrou-se na relevância do PIB para a aferição de alguns dos indicadores estatísticos mais importantes. Sempre achei esta discussão curiosa porque
noutros contextos ninguém se atreve a questionar a importância deste índice económico (PIB) como peso e medida para tudo o que tenha a ver com actividade económica, salários, indicadores, etc… Polémica à parte, porque esta já deu muita prosa e contra-prosa por aqui, vamos então ver quais são os reais indicadores que se podem extrair deste relatório. Realço apenas os que considero indicadores-chave. O relatório completo - executive summary - pode ser consultado aqui:
- Na frequência média escolar estamos em último (nº médio de anos de frequência escolar).
- Nos resultados de matemática (escala de Pisa 2003), ficamos na cauda da tabela. Só 4 países têm pior desempenho.
- Nas despesas educativas por aluno (em US$) aparecemos num (aparentemente modesto) 23ª lugar, tendo o relator o cuidado de explicitar que no caso Português a classificação nos coloca acima da média da OCDE quando o PIB é tido em conta (pag 31). Ou seja, na realidade estaremos algures a meio da tabela, o que é confirmado pelo indicador de investimento total em educação face ao PIB (da pag 32).
- A percentagem de investimento público em educação face ao total de investimento público coloca-nos também a meio da tabela.
- No número médio de alunos por turma estamos a meio da tabela.
- No salário médio em US$ para Professor no secundário aparecemos em 21º (em 31 países). Tendo em conta o peso do PIB aparecemos em 3º lugar.
- No número médio de horas de ensino por ano (teaching time) aparecemos a meio da tabela.
E com estes indicadores penso que se fica com uma boa visão do nosso ensino: baixa frequência/permanência escolar, maus resultados comparativos no desempenho dos alunos, despesas educativas dentro da média da OCDE, cargas lectivas dentro da média da OCDE, salários acima da média da OCDE.
Pode concluir-se sem grande margem para dúvidas que o ME não deve atirar dinheiro para cima do problema porque não é por falta de investimento que o nosso desempenho deixa a desejar. Temos um problema de organização e de gestão, não temos um problema de investimento.
E concluindo eu que o nosso problema é essencialmente de (má) gestão, tratei de ver se existia algum relatório comparativo das práticas de gestão na OCDE. E a boa notícia é que existe mesmo… Trata-se de um relatório muito pouco conhecido: “PUBLIC SPENDING EFFICIENCY: INSTITUTIONAL INDICATORS IN PRIMARY AND SECONDARY EDUCATION“, com data de 30 de Janeiro de 2007 e que aparece na mesma altura do muito mais badalado “Economic Policy Reforms: Going for Growth 2007″.
Este último é um relatório generalista mas que desta vez incluiu uma recomendação explícita sobre a educação em Portugal. E esta recomendação reza o seguinte:
“Recommendations: Better use current education resources by increasing the proportion of primary and secondary spending allocated to non-wage spending. Continue ongoing efforts to strengthen vocational and technical education. Implement systematic evaluation of higher education institutions.”
Esta recomedação está bastante em linha com as conclusões acima tiradas sobre a eficiência da gestão do ensino. Nenhuma surpresa aqui… O meu problema foi quando analisei o tal relatório de “public spending..” e afinal o nosso panorama em termos de eficiência na gestão parecia quase cor de rosa !!??
Vejamos:
Esse relatório analisa de forma bastante rigorosa vários indicadores de eficiência nos gastos com educação, que vão do descentralismo da gestão, adequação de recurso às necessidades, indicadores de eficiência de gestão de orçamentos e até ao índice de eficiência do mercado de educação. Não vou analisar os resultados de cada um deles mas devo dizer que me chamou a atenção o nosso ranking no índice de descentralização da gestão escolar,
em que somos o 3º Pais mais centralista da OCDE (uma confirmação do que todos sabemos). O relatório segue então para a sua parte mais ambiciosa, em que se descreve detalhadamente o método de definição de um indicador compósito que permite estabelecer um índice de eficiência nos gastos públicos com educação. Este índice permite avaliar comparativamente a qualidade de gestão do sistema de ensino em cada Pais. Pode ver-se então que Portugal fica num muito honroso 10º lugar (metade superior da tabela- pag 27).
Preparava-me então para meter a viola no saco e rever os meus preconceitos e conclusões precipitadas sobre a gestão do sistema, quando uma pequena nota na pag 14 me chamou a atenção: na análise final deste índice compósito Portugal aparecia com uma nota em destaque e o relator encaminha o leitor para a secção 2 para mais esclarecimentos. Lá fui ver do que se tratava mas já com sensação de água no bico….
E eis que na secção 2 a tramóia é exposta em todo o seu esplendor.
Transcrevo na íntegra a pag. 7:
“The indicators describe the institutional framework in the public education sector as resulting from current regulations. Their construction assumes that the institutions described in the answers to the questionnaire are implemented and working in practice according to regulatory prescriptions. While this assumption may be optimistic in some cases, relaxing it would bring about even more serious methodological problems, related with the measure of the degree of implementation of recent reforms. In this context, the interpretation of the indicators should remain cautious. For instance, the favorable bias in
the indicators might be significant for Portugal. The recent OECD Country survey or Portugal indeed highlighted that the full implementation of recent reforms increasing the autonomy of the schools or favoring benchmarking) remains an mportant challenge in this country (Guichard and Larre, 2006). In all countries, the indicators have to be interpreted as describing the education system when the implementation of current reforms is completed.”
Ou seja, os inteligentes do ME ao preencherem os questionários que serviram de base a este estudo resolveram dourar a pílula, indicando não o modo como o sistema de gestão funciona mas o modo como eles acham que deveria funcionar. A OCDE descobre a coisa e eis que Portugal adquire honras de excepção no relatório, com direito a destaque na secção 2.
Como fui dizendo no início, os relatórios estatísticos podem ser objecto de maldades várias por parte de quem os interpreta ou de quem os alimenta com dados viciados. Neste caso o ME não resistiu a transmitir uma ideia fantasiada da gestão escolar, confundindo boas intenções com a realidade. Valham-nos as organizações independentes que detectam as falcatruas e as expõem, ainda que por vezes em termos demasiado polidos….
ManyFaces
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Uma Sugestão, Algumas Notas e uma Cenoura no Fim

Muito útil uma visita ao Terrear onde se demonstra como um percurso de vida pode ser menosprezado por fórmulas aritméticas cegas ao mérito efectivo do desempenho profissional de um(a) docente.
Se a aplicação concreta das fórmulas ministeriais revolta quem verifica os efeitos práticos em casos individuais, a verdade é que a lógica deste modelo de avaliação está profundamente errada ao procurar ser “objectivo”.
• Desde logo não o é porque ficam por demonstrar os critérios que presidem à determinação das pontuações.
• Em seguida é profundamente contrário à valorização do mérito do desempenho, pois quantifica apenas pelo simples facto de ter sido exercido um cargo, fugindo à avaliação da qualidade desse exercício.
Era difícil fazer essa avaliação? Claro que sim, mas é isso que desde sempre se afirmou em muitos espaços de debate. A avaliação séria da qualidade do desempenho de dezenas de milhar de docentes é quase impossível e implicaria um aparato enorme em termos de recursos humanos qualificados, desde que se levasse a sério uma componente “externa” e não uma mera auto-avaliação similar à já existente.
Por isso mesmo, o ME procurou fazer a quadratura do círculo usando dois pauzinhos apenas. Nem este modelo de avaliação é efectivamente capaz de premiar o mérito do desempenho - limitando-se a registar o exercício -, nem é verdadeiramente “externo” (afinal o que faz o júri sem ser validar as somas usando a prova dos nove?), nem é honesto na sua formulação pois define critérios inalcançáveis para a generalidade dos docentes, excepção feita a um grupo que já se percebeu qual é e porqu~e.
A questão da assiduidade e da indiferenciação das faltas - é bom que seja repetido - está lá para enganar os distraídos. É manifestamente inconstitucional e cairá na versão final, pelo menos nos termos em que agora aparece, para dar a sensação de cedência. O que é essencial na regulamentação do concurso para os docentes do 10º escalão (e também para os restantes) é o favorecimento claro de quem já detém - bem ou mal não vem ao caso - o poder nas escolas. É uma completa blindagem dos actuais órgãos de gestão a qualquer tipo de alternativa, por forma a aliciá-los (num primeiro momento), para depois os responsabilizar directamente pelo cumprimento estrito das determinações superiores (num segundo momento), tornando-os os preturiões (forçados ou voluntários) do regime.
De certa forma, será algo semelhante ao que aconteceu com os docentes do 10º escalão durante a negociação do ECD, tendo-lhes sido acenada a titularização quase automática sem que um compromisso fosse claramente assumido, para depois os tramar na primeira esquina. Com os órgãos de gestão das escolas vai passar-se o mesmo. Neste momento, acenam-lhes com a cenoura, mas virá o tempo do varapau.
É só esperarem uns tempos…
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A verdade incómoda do profeta Al Gore e a incomodidade da verdade

Recordação de algumas atrocidades do duo Clinton-Gore
Apresenta-se nas salas de cinema do mundo inteiro um produto audiovisual denominado "Uma verdade incómoda". Ele faz parte de uma extensa campanha propagandística, com base na teoria no aquecimento global do planeta, do senhor Al Gore, ex–vice-presidente dos Estados Unidos da América.

Com o seu computador Macintosh e graças à Internet e à informação obtida pela sua privilegiada situação política, Gore conseguiu elaborar um livro com o mesmo título, com publicação próxima em Espanha. Com mais de 700 mil cópias vendidas só na edição inglesa, às quais há que juntar as que foram vendidas em 23 edições em outros tantos idiomas, o livro de Gore, juntamente com o filme e o DVD (um milhão de cópias vendidas só nos Estados Unidos), conseguiu formar um verdadeiro corpo diplomático de carácter mediático que lhe abre as portas dos grandes salões e fóruns mundiais.

Al Gore foi recebido a 6/Fevereiro/2007 em Madrid pelo presidente do governo espanhol no Palácio da Moncloa [e no dia 8 em Lisboa pelo primeiro-ministro português]. Vários ministros e outras personalidades acorreram à sua primeira conferência em Espanha: "O maior problema actual da humanidade e a nossa contribuição para travá-lo". Conferência que se anuncia nos media com o subtítulo: "debate aberto com Al Gore". Esta conferência permitiu a presença daqueles que pagaram 470 € + IVA, quantia que não dava direito a tirar fotografias nem a gravação audiovisual, nem tão pouco a formular qualquer pergunta ao senhor Gore, proibição que também afectou os jornalistas. Apesar da oferta de lugares gratuitos às organizações ecologistas, algumas destas receberam resposta negativa à sua presença se não desembolsassem a quantia mencionada.

Al Gore apresenta-se no filme como um enviado da Natureza, de origem norte-americana, mas que também se dirige aos norte-americanos (o produto há-de vender-se no mundo inteiro). O novo profeta, seguindo a metodologia bíblica das sete pragas do Egipto, anuncia-nos a oitava praga do aquecimento global que arrasaria de novo o planeta. Com um discurso americano para norte-americanos, Gore maneja habilmente a informação que lhe parece oportuna e nesta linha elabora as conclusões sobre o terrível futuro que se nos avizinha e as soluções que já conhecemos.

Assim, os dados que oferece sobre a situação actual do aquecimento global do planeta provém dos "cientistas" em que ele confia e que dizem a verdade, e não dos maus que a escondem por dinheiro. Al Gore de modo algum cita os cientistas (cerca de 2500) que desde 2001 e com mandato da ONU trabalham no Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla inglesa) que, certamente, oferecem uma informação mais rigorosa e menos catastrofista que a expressa pelo ex–vice-presidente. Al Gore só nos fala do CO 2 (anidrido carbónico ou dióxido de carbono) como o único gás com efeito de estufa, ignorando deliberadamente os outros gases, como o metano, responsáveis por um efeito muito maior ainda que estejam presentes em menor quantidade. Este esquecimento terá algo a ver com a política do presidente Bush de desprestígio da ONU e da recusa de ratificação do Protocolo de Quioto?

O senhor Gore parece que gosta mais do simples CO 2 do que das dioxinas, dos furanos, dos PCB e outras de substâncias complexas, de reciclagem impossível na natureza – ao contrário do CO 2 (que poderia ser convertido em biomassa, se não desflorestassem o planeta) –, sobre os quais existe um acordo absoluto quanto à sua extrema periculosidade. Por esta razão, identificadas as doze substâncias mais letais existentes na atmosfera, nos solos, nos nossos corpos e na maioria dos seres vivos, que hão-de manter-se durante gerações, se assinou em 2001 e se ratificou em 2004 a Convenção de Estocolmo. Mas nos processos de incineração, nos quais se geram a maioria destes compostos, para além do CO 2 em que só se fixa o discurso de Al Gore, continuam e pouco ou nada sabemos da sua evolução, se exceptuarmos a informação dos investigadores médicos, sobre a sua maior presença nos tecidos e órgãos humanos.

No seu filme, podemos ver como vai sofrer a Natureza, a obra de Deus, com maior precisão e crueldade do que os seus próprios habitantes. Ao referir-se aos efeitos das alterações climáticas em África mostra-nos um pobre mapa com o lago Chade sem imagem alguma do sofrimento dos seus habitantes. A única imagem que oferece para nos mostrar a sua angústia e o seu sofrimento que o leva até à morte é a de um urso polar que nada, durante 100 km, à procura de gelo e que morre. Talvez a visita a Espanha lhe pudesse servir para que alguns ministros e outras autoridades lhe sugerissem que mudasse o urso por africanos que, em muito maior número, morrem ao tentar o atravessamento do estreito de Gibraltar à procura de uma vida melhor. Saberá ele, ou os seus assessores audiovisuais, que os africanos não são brancos como o urso?

Sem dúvida, na película, não podemos ver as causas que provocaram a ruína económica e social desse gigantesco continente que contém uma grande parte dos recursos naturais do planeta e que, talvez, por isso se encontre na actual situação de ruína. Simplesmente, ao mostrar-nos o lago de Chade seco (com uma seta que diz Darfur à direita e Níger à esquerda), indica-nos que o ex–vice-presidente não lhe interessa os outros problemas que existem por lá. E, por isso, não nos diz como solucioná-los.

Tão pouco nos diz o senhor Gore qual é a causa verdadeira da situação no mundo sobre o esgotamento dos recursos, a degradação ambiental e a actual desigualdade económica e social. Apesar de que em 1972 já se tenha feito um estudo exaustivo ("Os limites do crescimento", estudo apresentado pelo Clube de Roma, sobre a avaliação da situação humanitária, feito por Donella H. Meadows, Denis L. Meadows, Jorgen Randers et William Berens III), ao qual se seguiram outros estudos que deram ocasião à declaração da Cimeira da Terra (Rio de Janeiro, 1992) sobre a necessidade da conservação dos recursos; o senhor Gore não nos fala nas soluções para a redução do consumo de alguns recursos naturais, energéticos ou outros. Só nos fala de energia e CO 2 . Não se preocupa com o sofrimento actual das pessoas devido à destruição dos seus territórios, às migrações e mortes como consequência da depredação dos recursos, mas só se mostra compungido ao pensar na sua quinta na qual passou a sua idílica infância. Preocupa-o não saber em que condição ficará com o dito aquecimento global. O consumismo é intocável, como alma mater e motor da nossa civilização actual que transforma recursos naturais em resíduos na proporção de 93%. Só 7% dos recursos naturais que utilizamos (minerais energéticos e não energéticos, alimentos, etc) são transformados em bens úteis para o nosso exagerado consumo. Al Gore indica-nos que a solução está na mudança de automóvel por outro sem nos dizer se na fabricação e utilização deste novo automóvel se consome mais ou menos recursos e se a eficiência transformadora (maior aproveitamento dos recursos) será maior ou menor. O mesmo acontece com a energia, mostrando-nos painéis fotovoltaicos (transformam a luz solar em corrente eléctrica) que, hoje por hoje, necessitam no seu processo de projecto, fabricação e montagem, mais energia do que aquela que vão produzir na sua vida útil. Diz-nos o senhor Gore que se exija das empresas eléctricas o fornecimento de energia limpa e verde. A que novas formas de energia se refere o senhor Gore quando nos diz que se pode atingir a emissão zero de CO 2 ? Alcançar este objectivo no uso intensivo da energia num país como os EUA, e no mundo, significa não queimar matéria orgânica (petróleo, gás natural, carvão, biomassa, etc). Só a energia nuclear de fusão, o sonho do reactor reprodutor (ITER), pode fornecer garantidamente as gigantescas procuras actuais, e maiores ainda no futuro, que a nossa civilização exige no consumo-destruição-fabricação-consumo. Só uma fonte inesgotável de energia eléctrica poderia garantir a disponibilidade do hidrogénio para substituir os combustíveis fósseis nos processos de combustão. Coincidências entre Al Gore e Jeremy Rifkin.

QUAL O AUTOMÓVEL DE JESUS CRISTO?

Uma vez mais, Al Gore recorda-nos que é norte-americano e, no fundamental, fala para os norte-americanos. Só se refere ao resto do mundo nas partes menos importantes do seu discurso. Diz-nos que devemos reduzir a dependência do petróleo estrangeiro, não a mobilidade compulsiva. Esquece-se que se deslocam, constantemente, cada vez mais, mais depressa e mais longe materiais, produtos e pessoas. Diz-nos que devemos reduzir a extracção do petróleo do nosso país. A que país se refere? A maioria não tem petróleo. Esta meta de redução da dependência, com a ideia da segurança nacional, traduz-se num verdadeiro dilema pois torna-se necessária a importação do petróleo, tanto para os militaristas (guerras territoriais para controlar o petróleo) como para os falcões do fisco (repercussão das importações no valor do dólar) e para os sectores económicos do neoconservadorismo que apoiam o presidente Bush. Também parece que pretende satisfazer os desejos das prédicas de poderosas seitas evangelistas que falam na necessidade de o homem conservar a Terra que Deus nos deu. Ainda que Al Gore não responda à pergunta chave para estas seitas: Que automóvel conduziria Jesus Cristo nos dias de hoje?

Al Gore, definitivamente, pretende assustar-nos (o medo é o instrumento mais subtil e útil do poder) ao responsabilizar-nos a todos, mas sem mostrar-nos um gráfico ou uma tabela que indique a responsabilidade que corresponderia a cada um de nós (pessoas, grupos económicos e sociais, países). E mais, no fundo, ele tão pouco sabe porque nos acusa. Assim, lamenta-se como alguém que em nome de Deus tenha passado por aqui, ao referir-se aos desastres produzidos pelo furacão Katrina.

Al Gore não exige responsabilidades aos conhecidos causadores da situação actual e futura, cujo enriquecimento material é ainda maior do que o aumento do desastre ambiental que produziram (só a Exxon-Mobil obteve, em 2006, 30,36 mil milhões de dólares de lucros, o maior jamais alcançado por uma empresa na história do capitalismo), mas exige que aceitemos esta situação como o pecado de toda a humanidade e que trabalhemos todos juntos no futuro para nos salvarmos do perigo que está para acontecer.

Tão pouco nos indica quanto CO 2 se emitiu para a atmosfera como consequência da fabricação, ensaios, transporte e utilização do desproporcionado exército do seu país que não representa a humanidade no seu conjunto. Nem o do emitido nas sucessivas guerras para o controlo do petróleo (bombardeamentos, explosões de poços de petróleo e refinarias, roturas de oleodutos e gasodutos).

Para emitir este discurso simples e sustentado já existe o republicano Schwarzenegger, talvez com maior experiência cinematográfica. Mas, no seu estado da Califórnia, supostamente avançado do ponto de vista ambiental, ainda ninguém consegue comprar o tal automóvel capaz de ser conduzido por Jesus Cristo.

Como conclusão, a propaganda de Al Gore não oferece nada de novo e rigoroso (melhor escrito e estudado, ainda que não apresentado com tais parangonas, existe no primeiro relatório do Clube de Roma de 1972; mais rigoroso e aparentemente científico encontra-se na informação fornecida pelo IPCC, órgão da ONU, em 2001). Segue a Bíblia na sua apresentação simplista da análise das causas e da formulação das medidas, recomendando a reza aos que sejam seus crentes. Para cobrar os benefícios do desastre e os que se derivam da sua divulgação, incluído o próprio, existem nomes e apelidos. Para pagar os danos ambientais devemos estar todos juntos e irmanados e ao que nos toca mais concretamente devemos perguntar-lhe como a Deus: "porquê nós e aqui?" Al Gore desaproveita nesta magnífica, talvez irrepetível, ocasião, a oportunidade de nos oferecer o seu currículo pessoal no que respeita aos trabalhos, aos sacrifícios e aos resultados obtidos durante a sua carreira política incluindo o seu período como vice–presidente dos EUA. Talvez assim tivesse ganho as eleições e fosse hoje presidente em vez de andar a vender livros e DVDs, ainda que então talvez não fosse iluminado por Deus para andar a fazer prédicas sobre o desenvolvimento sustentável, algo que, segundo manifesta o próprio, só aconteceu depois de ter perdido as eleições presidenciais. Eis agora o que o novo profeta ecologista manifesta: "vi claramente a missão que me estava destinada".

Vejam, leiam e julguem vós, sobretudo os privilegiados que puderam ouvir e ver o profeta, por 470 € + IVA, se não se assiste a um fenómeno global, ecológico, económico e religioso, que atrai por igual as crianças e os mais crescidos, orientais e ocidentais, plebeus (como eu que só vi o DVD que nos emprestou um amigo) e aristocratas (que lhe pagaram os 200 mil dólares por conferência e têm a possibilidade de vê-lo ao vivo e inclusive falar-lhe). Para terminar, umas últimas perguntas:
– O que terão aprendido, quer o presidente do Governo quer os ministros e outras autoridades, com as suas conferências?
– Pagaram as suas entradas?
– Se sim, fizeram-no com o dinheiro dos nossos impostos?
– Pagaram-lhe pelos seus méritos?
– Ou por outros "méritos" que não conhecemos?
– Ser-lhe-á dado o próximo prémio Príncipe das Astúrias de 2007?
– O senhor Gore alguma vez terá a oportunidade de ler este artigo e outros semelhantes?
– Dir-nos-á, finalmente, qual é o automóvel que Jesus Cristo conduziria hoje? Em Madrid não o podemos averiguar.
1- Pedro Prieto. Editor de Crisis energética. Al Gore en España. ¿El huevo del calentamiento global o la gallina del agotamiento fósil? Disponible en Crisis energética: http://www.crisisenergetica.org/article.php?story=20070205190147543
2- Una verdad antigua. Marcela Çaldumbide. Advogado.
3- Quando Al Gore exercia seu papel de vendedor de drogas ao serviço das multinacionais.

Recordação de algumas atrocidades do duo dinâmico Clinton-Al Gore durante o período em que suportámos do seu mandato
por Alfredo Embid
Os actuais apóstolos de causas humanitárias, como a SIDA e o Aquecimento Global, o duo dinâmico Clinton-Al Gore, têm uma história bastante sinistra. Para começar a opinar sobre as suas actuais cruzadas há que ter senso comum. Há que recordar o que fizeram quando eram dirigentes do estado mais poderosos do planeta: – desde 20 de Janeiro de 1993 até 20 de Janeiro de 2001. Albert Gore, Jr. vice-presidente da administração Clinton e este último como presidente, estiveram implicados e foram responsáveis por diversos crimes e atrocidades, incluindo intervenções em diversos países de todo o mundo, e pelo apoio ao terrorismo e à guerra da Jugoslávia. Além disso são responsáveis pelo bombardeamento com armas radioactivas na guerra da Jugoslávia, na Somália e, provavelmente, também no bombardeamento do Iraque e do Afeganistão.

Os acontecimentos:

IRAQUE, 1993-2001. Durante toda a Administração Clinton-Gore continuou o bombardeamento do Iraque (com a colaboração da França e da Grã-Bretanha). A justificação dos bombardeamentos foram desculpas que mais tarde se revelaram fraudulentas [1] . Por exemplo, em 26 de Junho de 1993 (5 meses depois da tomada de posse de Clinton-Gore), os EUA bombardearam Bagdad com 23 mísseis Tomahawk com a desculpa de uma conspiração para matar Bush. Os Estados Unidos financiaram com milhares de dólares o Acordo Nacional Iraquiano para desestabilizar o regime de Saddam Hussein com atentados terroristas [2] . Além disso, mantiveram o embargo e doaras sanções económicas que custaram a vida a mais de milhão e meio de iraquianos, na sua maioria crianças [3] .

SOMÁLIA, 1993. Bombardeamento com mísseis das forças do general Mohamed Aidid que se opunha à entrada de tropas americanas no seu país. A operação foi apresentada como álibi de ajuda humanitária com amplo envolvimento de meios. Mas na realidade é que por detrás estava "a merda do diabo" que é como os africanos chamam ao petróleo, o "ouro negro" como chamamos nós. Há provas de que se utilizou armamento radioactivo [4] .

JUGOSLÁVIA, 1992-94. Estabeleceu-se um bloqueio marítimo dos EUA e da NATO contra a Jugoslávia: Sérvia e Montenegro. A Jugoslávia estava na agenda.

JUGOSLÁVIA, BÓSNIA, 1993. Estabeleceu-se uma zona de exclusão aérea patrulhada, fomentou-se a guerra civil, abateram-se aviões, bombardearam-se alvos civis. Aumentou-se a tensão sobre os objectivos que explicaremos.

HAITI, 1993-94. Ocupação do Haiti por uma força multinacional encabeçada pelos EUA. Em 19 de Setembro de 1994 apoiaram as forças internas que derrubaram o presidente Aristides que fora eleito legitimamente. Os ocupantes dos EUA prenderam os líderes do exército do Haiti pelos seus crimes. Mas, em vez de os julgar, premiaram-nos com garantias de segurança e milionárias reformas. O padre cristão Aristides, que havia sido derrubado por um golpe militar poucos meses depois de ter sido eleito, em 1991, é reconduzido à chefia do governo depois de ter sido obrigado pelos EUA a prometer que iria portar bem. Isto é, que deixaria de ajudar os pobres e se submeteria a uma agenda política favorável aos ricos e à classe dirigente do país. Desde então, os EUA impedem o castigo dos responsáveis pelas violações dos direitos humanos e negam-se a devolver os documentos oficiais roubados durante a invasão que poderiam estabelecer as suas responsabilidades.

JUGOSLÁVIA, BÓSNIA, 1994-1995. Aqui permito-me estender mais além para tornar compreensível o contexto porque o duo dinâmico é totalmente responsável por ter provocado uma guerra aparentemente incompreensível na Europa. A Jugoslávia negava-se terminantemente a que o Ocidente lhe impusesse o seu modelo e a entrada na NATO. Algo especialmente grave quando era uma região geoestratégica importante para a passagem das vias energéticas da Ásia Central e além disso possuía importantes recursos minerais. A Jugoslávia era além disso um exemplo de convivência interétnica como comprovei pessoalmente em duas viagens em que a cruzei, em 1967. Assim, inicialmente, fiquei profundamente incrédulo como fora possível uma guerra civil. Mas foi um efeito da estratégia do império que se baseou justamente em atiçar as diferenças étnicas, tal como o fez Hitler quando invocou a autodeterminação étnica contra a Checoslováquia e a Polónia como desculpa para invadi-las em 1938-39. A autodeterminação étnica é um princípio que agora se esconde debaixo do tapete dos "direitos humanos" para conseguir o mesmo objectivo: estimular as insularidades e dividir. Assim, os EUA orquestraram a demonização dos sérvios que já havia sido iniciada pela Alemanha nos princípios dos anos 90 [5, 6] .

Desde 1994 os EUA desenvolveram uma operação secreta similar à que fizeram anteriormente e que resultou no escândalo Irão-contra, mas esta ainda permanece oculta [7] .

Os EUA, encobertamente (financiando grupos islâmicos) violaram o embargo do Conselho de Segurança da ONU na venda de armas a qualquer grupo armado no conflito da Jugoslávia. Como resultado formou-se um arrede secreta de venda de armas através da Croácia [8] .

Não se trata de uma teoria da conspiração, os EUA utilizaram os islamitas para armar os muçulmanos da Bósnia, ex-Jugoslávia, segundo um relatório governamental holandês que inclusive provocou a demissão do governo [9] .

Para compreender a participação dos islamitas nas guerras da Jugoslávia e de Bin Laden, financiados pelos EUA, é especialmente interessante o trabalho de Jurgen Elsasser que explica como os combatentes muçulmanos recrutados pela CIA para lutar contra os soviéticos no Afeganistão e que estavam praticamente sem ocupação, foram utilizados sucessivamente na Jugoslávia (e na Chechénia) sempre com o apoio dos EUA. Ao acabar a guerra no Afeganistão, Osama Bin Laden recrutou esses mesmos militantes jihadistas, treinou-os, em parte com o apoio da CIA, e deslocou-os para a Bósnia com soldos de 3000 dólares mensais para servir o exército bósnio. O seu lugar tenente na Bósnia Herzogovina, Al Zawahiri, que ra o braço direito de Bin Laden, foi o chefe de operações nos Balcãs em princípios dos anos 90, viajou para os >EUA com um agente dos US Special Command para recolher dinheiro para uam nova guerra [10] .

CHECHÉNIA, 1995. Os EUA não aparecem como actores nesta primeira guerra mas existem provas de que também participaram ao financiar grupos islâmicos desocupados, desde a guerra do Afeganistão, e os separatistas, tal como fizeram na Jugoslávia e se explica no livro "Comment le Djihad est arrivé en Europe" [11] .

CUBA, 1996. Em 18 de Outubro um avião norte-americano foi encontrado a fumigar algo na província cubana de Matanzas. Seguiu-se uma praga de insectos thrips palmi que nunca antes se haviam encontrado na ilha e que devoraram milho, pepinos e outros alimentos. Este acto de guerra biológica foi denunciado perante a ONU [12] .

ZAIRE (CONGO), 1996-97. Intervenção de tropas marines dos EUA tal como na LIBÉRIA em 1997 e na ALBÂNIA também em 1997.

SUDÃO, 1998. Imposição de um embargo económico e bombardeamento do país. Incluindo um ataque com mais de uma dezena de mísseis Tomawak à única fábrica de medicamentos humanos e veterinários com a desculpa de que fabricavam armas químicas e de terrorismo [13] . Foi algo que nunca se demonstrou e se reconheceu inclusive que se tratava de um erro [14] . A consequência foi uma penúria de 90% dos medicamentos que estavam a produzir. Estes medicamentos eram fabricados e consumidos localmente. Portanto, a consequência do bombardeamento do duo dinâmico foi sobretudo a destruição da autonomia farmacêutica do país relativamente às multinacionais da medicina. Como consequência também, milhares de desgraçados somalis morreram ao não se poderem tratar com medicamentos eficazes para as doenças endémicas. Isto é, assassinatos e despovoamento. Curiosamente, é o mesmo que promove a ortodoxia da SIDA, da qual Clinton se converteu num apóstolo com a colaboração de Al Gore [15] .

ÁFRICA, 1998. Nesse mesmo ano criava-se a Iniciativa Norte-americana de Resposta às Crises Africanas (ACRI). Com a desculpa de realizar "missões humanitárias" desenvolveu-se um amplo programa de treinamento militar em vários países africanos cujo prolongamento consequente é a actual invasão da Somália [16] .

AFEGANISTÃO, 1998. Ataque com mísseis sobre antigos campos de treino da CIA utilizados por grupos fundamentalistas islâmicos aos quais se acusa de ter atacado embaixadas [17] .

IRAQUE, 1998-99. Bombardeamento intenso com mísseis durante quatro dias de ataques aéreos. Só nos primeiros 8 meses de 1999, os EUA e a Grã-Bretanha realizaram 10 mil voos sobre o Iraque, lançando mais de mil bombas e mísseis sobre 400 lugares [18] .

ÁFRICA DO SUL, 1999. Al Gore, que estava ligado à indústria farmacêutica [19] , tenta vender AZT com descontos ao governo sul-africano. Mas este afasta a "ajuda" ao dar-se conta que o AZT é uma mezinha para a SIDA.

JUGOSLÁVIA, 1999. Sob a liderança dos EUA, a NATO bombardeou Kosovo e a Sérvia numa operação denominada "Intervenção Humanitária Anjo da Guarda" de 24 de Março a 10 de Junho de 1999.

Como no caso da Bósnia Herzegovina, apontaram o fundamentalismo islâmico para desestabilizar a região. Por artes mágicas, numa questão de meses, as milícias da UCK qualificadas pelos EUA como terroristas, em Fevereiro de 1998, converteram-se em seus aliados no Kosovo [20] .

A intervenção montou-se uma vez mais (como na Bósnia) a partir da informação falsa e manipulada, fornecida pelos EUA e a NATO, sobre presumíveis massacres cometidos pelos sérvios para demonizá-los. Esta montagem sem provas foi difundida vergonhosamente por todos os meios de desinformação durante meses para preparar a invasão.

Depois os EUA apresentaram umas negociações fraudulentas com umas condições surrealistas que se pode resumir no seguinte: a NATO (isto é, os EUA) apropriar-se-á do Kosovo e terá acesso livre a toda a Jugoslávia e além disso vocês têm que pagar os custos da governação da NATO. Estas exigências, inaceitáveis para qualquer estado, foram, evidentemente, recusadas [21, 22] .

Como consequência veio a operação humanitária "anjo da guarda" durante a qual se lançaram 25 mil toneladas de explosivos, numas 25 mil incursões aéreas. Foram empregues bombas de estilhaçamento assim como munições radioactivas.

O comandante das forças aéreas francesas da NATO, General Joffret, afirmou: "As forças aéreas receberam ordens para destruir a vida na Sérvia" [23] . Segundo as suas declarações nesta missão "humanitária", mulheres, crianças, maiores, passageiros de comboios e de autocarros, transeuntes sobre pontes, foram aniquilados. Perderam a sua vida 2500 pessoas das quais 30% eram crianças. Ficaram feridas mais de 10 mil pessoas dos quais 40% eram crianças. Durante o ataque realizaram-se bombardeamentos maciços de objectivos civis, alojamentos residenciais, pontes, estradas, vias-férreas, refinarias, instalações químicas, estruturas empresariais vitais, estações transmissoras de rádio e de televisão. Muitas instituições sanitárias e educativas, monumentos culturais, igrejas, mosteiros, cemitérios, também foram totalmente arrasadas. Destruíram deliberadamente a estação de televisão (como é habitual fazê-lo, com o último exemplo em Bagdad no Iraque) e inclusive a embaixada da China, em Belgrado, que os EUA (com os seus sofisticados meios de detecção por satélite) "não sabiam" donde estava (o que era evidente num qualquer mapa turístico). Causou-se uma perda maciça de vidas numa catástrofe humanitária, económica e ambiental, cujas trágicas consequências não podem ser limitadas em termos de espaço e de tempo. Nesta agressão dos EUA e da NATO contra República Federal da Jugoslávia, cometeu-se uma grave violação dos princípios fundamentais nas relações internacionais, do Direito Internacional Humanitário. A NATO violou os mandatos do Conselho de Segurança das Nações Unidas assim como a Acta da sua própria fundação [24] . Em Março de 1999, juristas de vários países incluindo dos EUA, apresentaram queixas perante o Tribunal Internacional de Haia, acusando os crimes de guerra cometidos pela NATO, mas o tribunal processou os Sérvios [25] .

Como se fosse pouco, os EUA e a NATO admitiram oficialmente ter lançado no Kosovo mais de 30 mil projécteis com urânio empobrecido, mais de 2500 no resto da Sérvia e 300 em Montenegro. Recordamos que estas armas, além de serem de "urânio empobrecido", são consideradas como "armas de destruição maciça" pela Subcomissão para a Protecção e Promoção dos Direitos Humanos e que violam numerosas convenções internacionais como já se explicou.

O General G. Robertson, na sua carta de 7 de Fevereiro de 2000, confirmou que em todo o território da província de Kosovo e Metohija, em aproximadamente 100 incursões aérea, se utilizaram 31 mil cartuchos de munições contendo urânio (o que é equivalente a 10 toneladas de urânio empobrecido). Nos meses que se seguiram, soldados da NATO que tiveram o privilégio de participar neste genocídio começaram a adoecer e a morrer. Especialmente os que haviam sido colocados estrategicamente em zonas de máxima contaminação como os espanhóis.

Há que recordar que as tropas dos privilegiados que pertencem ao clube nuclear foram posicionadas fora dessa zona. Os mapas mostram a situação das tropas invasoras decidida pela NATO tornando claro que os espanhóis foram enviados para as zonas de máximo risco enquanto os membros do clube nuclear (EUA, Inglaterra e França) se situaram estrategicamente nas de menos risco de contaminação radioactiva.

Além disso, os EUA retiveram, ocultaram e sonegaram informação, obstruindo as investigações sobre os perigos do urânio com o objectivo de evitar responsabilidades morais e materiais. O porta-voz do Pentágono teve o desplante de afirmar que "os projécteis de urânio empobrecido não são danosos do ponto de vista ambiental nem apresentam um impacto significativo sobre a saúde" [27] .

Javier Solana foi ainda mais longe sugerindo que inclusive poderia ser benéfico para a saúde. O programa da UNEP sobre contaminação radioactiva é uma fraude e o relatório da Organização Mundial da Saúde também, já que desde 1957 está submetida à Agência Internacional de Energia Atómica, isto é, ao lobby nuclear [28] . Os meios de comunicação seguiram a voz do dono e censuraram toda a informação a este respeito, especialmente quando se detectou plutónio na Jugoslávia. O plutónio é o elemento radioactivo artificial mais tóxico que se produz. O plutónio não faz parte do urânio fraudulentamente chamado empobrecido, como tão pouco outro elemento radioactivo artificial, o U236, que também se encontrou no Iraque e no Afeganistão [29] . Eram novas provas de que os EUA e a NATO mentem contra a nossa saúde.

O balanço da guerra da Jugoslávia foi de 200 mil mortos e mais de um milhão de refugiados. [30] . É o que se contabiliza, já que as consequências da radioactividade ficam presentes para sempre.

CHECHÉNIA, 1999. Na segunda guerra na Chechénia, tal como na primeira, os EUA aparentemente não intervieram. Mas segundo muitos analistas estavam por detrás estimulando o conflito. Utilizando, como no Afeganistão e na Jugoslávia, as milícias islâmicas. Estas eram armadas por países aliados dos EUA como a Arábia Saudita, a Turquia e a Jordânia. Refugiavam-se no Azerbaijão que também é seu aliado. Além disso, eram descaradamente apoiadas pelas rádios da CIA: Radio Free Europe e Radio Liberty. Inclusive há provas de que o então agente da CIA Bin Laden financiou e apoiou os rebeldes chechenos [31] .

1999. Os EUA negam-se a assinar o Acordo Internacional para a proibição de utilização de minas antipessoais (cuja definição inclui as bombas de estilhaçamento) que entrou em vigor em 1 de Março de 1999. E com razão, já que nesse mesmo ano haviam lançado na Jugoslávia 1100 bombas de estilhaçamento cada uma das quais contém 202 bombas simples. Isto é, despejou 222.200 bombas naquele país [32] .

1999. Os EUA reconhecem que estão a formar um grupo para manipular a opinião pública internacional relativamente à sua política externa [33] .

TIMOR ORIENTAL, 1999. Os EUA apoiam, com ajuda militar, o massacre perpetrado pelo exército indonésio sobre a população que reclama a independência [34] . Certamente, o mesmo que fez com Israel durante a guerra do Líbano.

ÁFRICA DO SUL, 2000. Apesar dos esforços dos EUA, das instituições sanitárias como a OMS e a UNICEF e, até, das multinacionais farmacêuticas, a guerra dos EUA contra a epidemia da SIDA inventada em África, vai mal. As vendas do tóxico AZT recuam, e inclusive a própria hipótese oficial de que a SIDA é causada por um vírus é questionada. Em Janeiro, Al Gore preside a uma reunião excepcional do Conselho de Segurança da ONU sobre o problema da SIDA em África. Mas, na realidade, sobre a ameaça da crescente dúvida acerca da hipótese oficial em África. Em Maio, os EUA ameaçam a África do Sul declarando que a SIDA é uma ameaça para a segurança nacional dos EUA [35] .

COLÔMBIA, 2000. Com o falso argumento da "Guerra às Drogas", os EUA lançam o Plano Colômbia, um programa de ajuda maciça que na sua maior parte é um plano militar. A guerrilha é classificada de narcotraficante, mas o próprio administrador da DEA (Drug Enforcement Agency) num testemunho do ano anterior perante a Câmara do Comité Judicial, Subcomité do Crime, disse que "não havia chegado à conclusão de que as FARC e o ELN fossem entidades que se dedicassem ao tráfico de drogas". Pelo contrário, havia provas de que o exército colombiano sim, é que estava implicado no tráfico de drogas e não só de cocaína, mas também de heroína. O mesmo pode dizer-se do exército mexicano e peruano apoiados pelos EUA [36] .

O Plano Colômbia, apresentado em 1998 pelo presidente Andrés Pastraña como um programa de desenvolvimento económico sem drogas, é na realidade uma cortina para a implantação de forças estado-unidenses no país, como o demonstra o efeito de que depois de 5 anos de combates, a Colômbia continua a ser o primeiro produtor mundial de cocaína [37] . Não se trata de nenhum fracasso. O petróleo colombiano encontra-se sob controlo dos EUA e a dissidência interna também. A hipocrisia da luta contra a droga ficou bem esclarecida anteriormente (para os que tiverem alguma dúvida) mediante a exposição de um facto. Atrás da invasão do Afeganistão, cuja produção de ópio havia sido reduzida em 90%, antes da invasão com a desculpa de combate ao terrorismo, depois da democracia imposta pelos EUA, o país voltou a consagrar-se como o principal produtor mundial de ópio [38] .

1993 – 2001. Durante todo o seu mandato também lutou contra o próprio povo norte-americano. O analista Nat Hentoff afirma que a Administração Clinton-Al Gore "é a que infligiu maiores danos aos nossos direitos e liberdades constitucionais" [39] .

Toda esta galeria de atrocidades não pretende ser exaustiva. O duo dinâmico de cruzadas humanitárias Clinton-Al Gore é responsável pelos seguintes crimes globais:

1 – Ter fomentado, durante a sua permanência no poder do país mais poderoso do mundo uma ordem internacional injusta que assassina silenciosamente por si mesma a grande maioria dos seus semelhantes ao privá-los de água potável e dos alimentos mínimos que necessitam, para benefício de uma leite de que eles fazem parte.

2 – Ocultar que os mais graves problemas da humanidade não são as suas rentáveis e oportunistas cruzadas sobre a SIDA ou sobre o aquecimento global. Estas servem para nos entreter com a criação do medo e impedir que enfrentemos os autênticos problemas que temos: o esgotamento dos recursos petrolíferos, o aumento da contaminação química e radioactiva, o aumento das guerras e das desigualdades entre ricos e pobres, etc, etc. Manipular o problema do aquecimento global, cujas consequências poderemos experimentar dentro de um indefinido número de anos, ocultando as consequências da contaminação radioactiva (que eles próprios contribuíram para o aumento com as suas guerras) cujos efeitos se fazem sentir desde há décadas na forma do aumento de enfermidades da civilização. O aquecimento global apresentado como "a principal ameaça que enfrentamos" oculta e fomenta a deterioração do nosso património genético provocado pela crescente contaminação radioactiva.
Notas:
] 1- Michel Collon. "Attention media" ed. EPO Bélgica. Pág. 284. http://www.michelcollon.info
2- Independent. Londres, 26 Março 1996.
3- Ver nosso relatório detalhado sobre as consequências sanitárias do bloqueo para a população do Iraque no nº 69 da revista. Alfredo Embid "Aumento de cánceres, malformaciones y otras enfermedades en Iraq". E entrevista com o ministro da Saúde Pública iraquiano.
4- Para mais informação sobre a Somália e a guerra actual ver o nº 142 do Boletín Armas contra las guerras. Alfredo Embid "La puerta de las lágrimas de nuevo ensangrentada por la mierda del diablo". Cuya publicación hemos retrasado para recibir a Al Gore.
5- Michel Collon: " Yougoslavie: a nouveau la demonisatión. Pour cacher quoi?." postsciptum enero 2004 "Attention Medias" ediciones EPO Bélgica.
6- Michel Collon "Poker menteur". Ediciones Epo Bélgica do qual também existe uma tradução espanhola da editorial Hiru. Na minha opinião um, livro imprescindível para entender a guerra da Jugoslávia. www.hiru-ed.com
7- Ver a respeito da operação Irão-Contra e das suas actuais repercussões o boletim nº 122.
8- The Guardian, http://www.guardian.co.uk/yugo/article/0,2763
9- The Guardian op.cit.
10- Silvia Cattori entrevista a Jurgen Elsasser: "La CIA reclutó y entrenó a los yihadistas" , Voltaire 28 junio, 2006
] 11- Jurgen Elsasser "Comment le Djihad est arrivé en Europe", prólogo de Jean-Pierre Chevènement. Ediciones Xenia (Suiza).
12- Documento de la Asamblea General de la ONU, A/52/128, 29 abril, 1997.
13- Noam Chomsky "11/09/2001" RBA editores. Barcelona 2001.
14- William Blum. "El estado agresor". La esfera de los libros. Madrid 2006.
15- ver boletín nº 140.
16- ver boletín nº 142.
17- Sobre a criação dos grupos islamicos no Afeganistão ver entre outros nossos editoriais da revista Medicina Holística nº 64, 65 e o boletim nº 89.
18- W. Blum. Op. cit.
19- John Judis "K.Street Gore" The American prospect, julio-agosto 1999. Ver boletim nº 140.
20- Michel Collon "Monopoly" ed Hiru.
] 21- Addict to war. Joel an dreas. www. adictedtowar.com Excelente síntese da historia dos EUA coM algumas objecções sobre o 11S
22- Michel Collon Poker menteur op cit
23- Citado numa carta de Michel Fontanie, Presidente de ASFED FRANCE (Association pour la suvegarde des familles et enfants de disparus), Estrasburgo, 27 Mayo 1999.
24- Facts on consequences of the use of depleted uranium in the nato agresión against the federal republic of yugoslavia in 1999. Catherine Euler. publicado en agosto de 2000 por el Ministerio de Asuntos Exteriores de la República Federal de Yugoslavia.
25- William Blum op. cit.
26- The trojan horses of nuclear war. Conferencia de Hamburgo Octubre 2003. www.uranimweaponsconfeence.de
27- Reuters, 23 de marzo del 2000
28- Ver nº 64 da revista Medicina Holística.
29- Ver trabalhos do UMRC publicados em boletins anteriores.
30- Le livre noir du capitalisme. Le temps des cerises.1998.
] 31- Michel Collon. "Monopoly, la OTAN a la conquista del mundo". Hiru.
32- William Blum. Op. cit.
33- Washington Times 28 Julio 1999.
34- Allan Naim "US complicityin Timor" The observer. Londres 19 septiembre 1999.
35- Ver boletim nº 140 e a secção de artigos gratuitos, apartado SIDA y outros publicados na nossa revista.
36- William Blum. Op. cit.
37- El Plan Colombia. Cocaína, petróleo y mercenarios. Red Voltaire. 14 de febrero de 2005.
38- Ver detaljes no boletim nº 89.
39- Washington Post. 2 enero 1999.

Alfonso del Val
http://resistir.info/

Dream Theater Solitary Shell

Frank Zappa Dinah-Moe Humm

Momento zen de segunda

Segunda-feira é um dia em que, com um frémito de antecipação, saboreio o meu momento zen semanal com a coluna de opinião de João César das Neves no Diário de Notícias.
Por vezes o referido autor desilude-me e em vez de um momento zen tenho de contentar-me com uma pausa Kit Kat, devotada a temas sortidos não contaminados com as mais absurdas elucubrações de cariz religioso.

Mas hoje esperava-me um momento de puro nonsense, intitulado «Um Portugal livre e próspero», que só consigo perceber como um episódio de insanidade (temporária?) provocado pela derrota estrondosa da Igreja no referendo da despenalização da IVG.

JC das Neves efabula um cenário completamente obtuso e de desgraça para o Portugal laico do ano 2029, que apenas permite afirmar que o fazedor de opinião católica não terá futuro na ficção científica. Nem terá futuro como sibila já que vaticina um futuro absolutamente imbecil que afirma ser o que nos espera como consequência do avanço da ciência e do conhecimento científico cá no burgo.

Por uma razão qualquer obscura que um psiquiatra poderia eventualmente explicar, a modernidade e a ciência para JC das Neves são sempre associadas ao «deboche», a uma «soberania artificial sobre a natureza»...

Nunca conseguirei perceber o horror que a ciência inspira nas almas mais beatas que suspiram pelos bons velhos tempos do obscurantismo medieval.
Ou pelos bons velhos tempos do Portugal de antigamente, orgulhosamente só mas alheio a modernices pecaminosas, com a Igreja firmemente nas rédeas do poder ...

Palmira F. da Silva
http://www.rprecision.blogspot.com/

Quem Tem Medo da Autonomia?

As novas reformas que varrem actualmente os Estados Unidos, o Canadá, o Reino Unido e muitos outros países baseiam-se na teoria do elevado desempenho. Esta teoria (…) difere das teorias da pirâmide e do caminhos de ferro pela forma como retira ênfase das hierarquias descendentes e pela abolição de percursos ou trilhos que digam às pessoas como hão-de fazer o seu trabalho. A descentralização é a chave. Os professores e as escolas recebem poderes para tomar as suas próprias decisões sobre a forma como as coisas devem ser feitas. Também os pais acabam por ser envolvidos. Recuperando alguns conceitos decorrentes das práticas das organizações empresariais eficientes, esta teoria defende que a forma de assumir o controlo das coisas passa por ligar as pessoas a parâmetros ou padrões em vez de as ligar a regras burocráticas ou a códigos de procedimentos laborais. (Thomas Sergiovanni, O mundo da liderança, 2004, p. 41)
Podemos até nem gostar de um ou outro aspecto deste modelo de funcionamento, mas é difícil negar dois factos:
• Este modelo aposta numa efectiva autonomia das escolas e professores, que ficam responsabilizados pelo seu próprio desempenho.
• Não há nada mais diferente deste modelo do que as práticas de robotização burocrática e de avaliação mecânica que o actual ME está a implementar, monitorizando o mais pequeno aspecto do que designa como “autonomia” e classificando a quantidade e não a qualidade do exercício de funções, tanto mais valorizadas quanto afastadas da prática docente.
Claro que tudo isto é natural numa equipa ministerial cujo traço comum e definidor é a desconfiança em relação à Escola Pública, a aversão visceral aos professores e o desprezo efectivo pela Lei de Bases do Sistema Educativo ainda em vigor que afirma no seu artigo 46º:
A administração e gestão do sistema educativo devem assegurar o pleno respeito pelas regras de democraticidade e de participação que visem a consecução de objectivos pedagógicos e educativos, nomeadamente no domínio da formação social e cívica.
http://educar.wordpress.com/

Receitas? Notícias?!

É nítido que o site da Pro-Music é organizado pela indústria do entretenimento. Cada vez que lá vou farto-me de rir. A página sobre o «copywright» (aqui) parece uma sátira. Um pouco abaixo da gralha no título, vem:

«No nosso quotidiano, desde o jornal que compramos de manhã até à nova receita para um novo prato. Quase tudo foi criado por alguém. O facto das pessoas poderem ser donas da expressão das suas ideias significa que podem potencialmente viver a partir da sua imaginação.»

Os exemplos são tão bons como a pontuação. As receitas são processos e listas de ingredientes, e não são protegidas por direitos de autor enquanto tal. E segundo o Artigo 7º do código do direito de autor:

« 1 – Não constituem objecto de protecção:
a) As notícias do dia e os relatos de acontecimentos diversos com carácter de simples informações de qualquer modo divulgadas;»

É certo que eles limitaram-se a traduzir os disparates da Pro-Music internacional, mas podiam ao menos ter dado uma olhada na lei Portuguesa. Se o fizessem, talvez evitassem outra calinada:

«O direito de autor protege a expressão duma ideia; permite às pessoas ‘criar’.»

Se isto fosse verdade haveria muita coisa que não nos era permitido ‘criar’ (não se percebe o porquê das aspas) por não ser coberto pelo código de direitos de autor:

«As ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e enquanto tais, protegidos nos termos deste Código.»

Para finalizar, a treta do costume acerca da partilha de ficheiros:

«Se este tipo de cópia e distribuição persistir sem respeito pelas pessoas cujas ideias, talento e habilidade levam à criação musical, elas poderão simplesmente ficar impossibilitadas de continuar a criar – nesse caso todos ficaremos a perder.»

Não... nem todos. Há uns dias um aluno enviou-me a referência a um artigo no Diário Económico, que aproveito já para agradecer. Neste artigo, Ricardo Reis (1) faz as contas ao que os músicos ganham. Para os mais bem sucedidos as vendas de CDs somam menos de 15% dos seus ganhos totais. Os menos bem sucedidos ficam em dívida para com a discográfica, que cobra a gravação e a edição além de ficar com os direitos sobre a obra. Em ambos os casos os rendimentos dos músicos vêm principalmente dos concertos.

E há uma correlação interessante entre a partilha de ficheiros e o preço dos bilhetes. Os bilhetes dos concertos pop aumentaram 10% nos últimos anos. Os bilhetes para concertos de jazz, música menos pirateada, aumentaram 2%. É difícil dizer se é a popularidade que aumenta a partilha ou se é o contrário, mas o facto é que, mesmo para os artistas com mais vendas, 10% de aumento nos concertos paga uma quebra de 50% nas vendas dos CDs. Para o artista, e para o consumidor, a partilha compensa.

Quem fica a perder são os senhores da Pro-Music, que gerem o «copywright» e ficam com 90% do preço de cada CD.

1- Ricardo Reis, Fevereiro de 2007, O dinheiro dos músicos.
Por Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/

Laços que agarram

No mínimo, grupos como o Medialens oferecem um valioso serviço a um público que de outra forma permaneceria lamentavelmente mal informado, assinalando as gritantes parcialidades, e outras não tão gritantes, dos meios de comunicação corporativos e estatais na cobertura noticiosa de certos acontecimentos. Em meados dos anos 80 eu estive envolvido na “Extra!”, uma publicação da “Fairness and Accuracy in Reporting” (FAIR), um projecto sedeado em Nova Iorque de análise dos media, que tal como o Medialens também desempenha um papel valioso na desmontagem do enviesamento intrínseco na cobertura de alguns acontecimentos importantes.
A questão que se levanta no entanto, é se convencer as pessoas a escrever a grupos como a BBC provoca algum efeito na sua cobertura noticiosa. A julgar pelos acontecimentos dos últimos anos, é duvidoso que tenha tido algum efeito, para além do raro e essencialmente insignificante desmentido, que de qualquer forma desaparece na ‘lixeira’, e o reconhecimento de um ‘erro’ é tão restrito que mina qualquer possível ganho obtido.
Isto não quer dizer que devemos parar de dar atenção à BBC e ao resto dos grandes meios de comunicação, analisando a forma de actuação dos media e sob que interesses operam e quais representam.
E de facto, por vezes, como no caso do furor levantado aquando do uso pela BBC das estatísticas produzidas pela Iraq Body Count (IBC) [Contagem de Mortos no Iraque], revelou-se que absolutamente nada mudou, com a BBC a montar uma caça às bruxas contra a Medialens expondo uma natureza adulterada das conclusões da IBC e como em vez disso, elas foram usadas para reforçar a justificação para a invasão e ocupação.
E não precisamos de procurar mais se observarmos a actual campanha de propaganda a ser levada a cabo pela BBC sobre a afirmação não substanciada de que o Irão está por trás dos ataques às forças de ocupação no Iraque. Afirmação que tem sido refutada pelos factos, mas escusam de procurar um reconhecimento disto na cobertura noticiosa, excepto em raras menções que são praticamente invisíveis quando comparadas com o grosso da cobertura noticiosa.
Os media são tão importantes para a manutenção do status quo, que não vão ser uns amuos e umas birras que vão fazer a mudança fundamental. Isto é um facto que tem de ser percebido, com o risco de sobre-estimarmos o nosso impacto ou a importância de desafiar o seu controlo hegemónico sobre a produção das notícias.
O objectivo declarado da FAIR, pelo menos quando eu estava lá envolvido, era focar profissionais dos media num esforço para os fazer reconhecer o papel que eles assumiam, pois sem a sua cooperação activa ou passiva no processo, seria virtualmente impossível aos grandes meios de comunicação actuarem como actuam.
Mais fácil de dizer do que de fazer. Os jornalistas desempenham um papel vital na manutenção da ordem dominante e pela sua participação, os principais actores, os editores, sub-editores e principais escribas são bem reembolsados e não apenas em termos materiais.
Elevando o jornalista ao nível de uma ‘celebridade’ de facto e inflacionando a importância das ‘notícias’, por exemplo com canais de ‘notícias’ 24 horas que dizem continuamente o mesmo vezes sem conta, o nosso entendimento do mundo fica reduzido a nada mais do que uma série de clichés mono-dimensionais.
Devia ser óbvio que o problema é bastante mais complexo e instalado do que meramente expor as mentiras e a desinformação disseminadas pelos meios de comunicação dominantes. A causa profunda está no sistema de ‘educação’ que produz a ‘raison-d’etre’ ideológica e num sistema económico que agarra os jornalistas ‘profissionais’ ao sistema, com mais força do que quaisquer correntes.
Deste modo, qualquer análise do papel dos grandes meios de comunicação tem de ser feita no contexto de uma análise mais alargada e profunda do capitalismo, pois apesar da sofisticação e extensão do papel dos media na manutenção do status quo é inquestionavelmente um tema escaldante. Não é um fenómeno novo, já vem desde o início da existência da palavra impressa, há uns quinhentos anos atrás.
A emergência de media independentes baseados na internet, um evento cujo efeito, na minha opinião, tem sido sobrestimado, ainda é bem-vindo mas a não ser que se torne um componente integrante de uma análise da forma como o capitalismo mantém o seu controlo e, ainda mais importante, parte de uma alternativa viável à ordem estabelecida, continuaremos a permanecer marginalizados e fragmentados.
Não quero dizer com isto que os grandes meios de comunicação não estejam cientes do nosso potencial para meter a raposa no galinheiro, basta verem como os media corporativos foram finalmente forçados a reconhecer o poder do ‘Blog’ e, depois de o reconhecer, como tentaram produzir um jornalismo ‘baseado no cidadão’, mas reparem como foi coarctado e de facto absorvido na pletora de publicações dos grandes media.
Virtualmente, todos os grandes canais de ‘notícias’ têm o seu ‘diga de sua justiça’ mas todos são moderados pelo responsável, isto é, controlados por um departamento editorial central e de qualquer forma é, mais uma vez, por comparação, uma gota no oceano. O que isso acaba por fazer de forma eficaz, é criar a ilusão de uma ‘participação do cidadão’.
Não há maneira de podermos competir taco a taco com as estruturas hegemónicas como a BBC ou organizações corporativas de notícias como a News Corp de Murdoch, e não há mesmo hipóteses de eles virem a mudar, apesar de todos os nossos esforços, simplesmente não está no espírito do monstro. Assim sendo, eu entendo que o melhor rumo é reclamar um boicote aos grandes meios de comunicação. Deixar de ver as notícias da BBC ou comprar jornais, pois uma coisa que a internet criou foi um conjunto de coberturas noticiosas independentes e análises, fontes que estão cada vez mais sofisticadas e de confiança, oferecendo uma vasto leque de interpretações dos acontecimentos sem comprometer princípios fundamentais de honestidade e integridade.
Alicerçando esta visão está a importância de um pensamento crítico que se baseia numa completa informação sobre os acontecimentos. Sem a capacidade de pensar de forma crítica sobre os acontecimentos, tornamo-nos consumidores passivos, incapazes de avaliar os eventos e as suas causas. A emergência de meios de comunicação independentes sedeados na internet deveria, pelo menos em teoria, encorajar e desenvolver o pensamento crítico. Escarnecer o inimigo é muito bom mas para existir uma confiança na nossa capacidade de desenvolver uma alternativa é preciso que haja uma verdadeira compreensão sobre o que se passa no mundo e porquê.
Deste ponto de vista seria útil saber até que ponto estão as pessoas realmente a virar-se para os media independentes. Observações empíricas dizem-nos que um crescente número de pessoas estão a virar as costas aos grandes meios de comunicação e a buscarem as suas notícias e informação na internet, mas quantos são eles e que tipo de notícias e informações, e por outro lado, de que forma isso está a afectar a sua visão do mundo e as decisões que eles tomam, por exemplo, num processo político?
Pelo que sei, não têm sido feitos estudo sobre este assunto. A minha prospecção, totalmente não científica, revela que os leitores mundiais de meios de comunicação independentes são muitos milhões, talvez mesmo dezenas de milhões. A minha própria pagina na internet, por exemplo, tem quase um milhão de páginas vistas por mês, mas isso não me diz nada sobre quantas pessoas isso representa nem me diz nada sobre o impacto que tem nas suas opiniões ou, ainda mais importante, nos seus actos.
No Reino Unido, estudos recentes indicam que a desconfiança no governo está a colocar as pessoas do lado do Partido Conservador. A minha suspeita é que isso não se baseia num apoio aos conservadores mas mais numa rejeição do governo trabalhista e das suas políticas. Por outras palavras, é mais uma reacção negativa do que uma escolha de uma alternativa positiva, porque simplesmente ela não existe. Isto verificou-se nas recentes eleições nos EUA e é reforçado pelo baixo nível de participação dos eleitores em ambos os países.
O que isto também revela é a rejeição do processo político em si mesmo, e paradoxalmente, isto também se reflecte no modo como os media independentes estão organizados: fragmentados e desconectados, sem nenhuma tema ou visão geral, revelando que a própria esquerda está fragmentada e desorganizada, espelhando que ainda está a pensar e a agir como o fazia no século passado.
A questão premente para nós é como ultrapassar este estado das coisas, mantendo uma diversidade de visões e opiniões. A última coisa que eu gostaria de ver é um regresso aos velhos métodos dogmáticos, onde só havia uma forma correcta de fazer as coisas.
Com alento, a situação actual é um período formativo durante o qual estas questões estão a ser colocadas e do qual irá emergir um novo caminho, e há sinais de isto estar a acontecer, pelo menos no chamado mundo em vias de desenvolvimento. Refiro-me especificamente a acontecimentos na América Latina. A questão para nós é saber se estes acontecimentos são relevantes para a nossa situação. Eles certamente nos dão esperanças de que a luta continua, de um modo inovador e até agora com formas bastante eficientes.
Podemos aprender com eles? Estamos dispostos a isso? O meu eterno optimismo diz-me que sim, especialmente a emergência daquilo a que eu chamo auto-organização, ela própria uma expressão de uma crescente sofisticação política que promete a criação de formações políticas completamente novas mas firmemente enraizadas nas nossas tradições e naquilo que espero que tenhamos aprendido com os erros do passado.
Esta visão é reforçada pelos crescente ataques venenosos feitos nos media capitalistas a estes desenvolvimentos, pois mesmo que não estejamos a ser influenciados por esses movimentos, os capitalistas estão certamente! Eles também contradizem o mito tantas vezes repetido de que o socialismo está morto e enterrado. Eu prefiro ver o período desde o início da década de 1990 como um tratar as feridas e reagrupar para as lutas que se seguem.
Será isto apenas um desejo meu? Eu penso que não, e a história mostra que a luta nunca termina. Pode sofrer derrotas e revés e mesmo períodos de mortífera quietude mas no tempo histórico, reavivam e ganham força.
O actual período é especialmente crítico pois estamos confrontados com uma situação única, a mudança climática, que ela própria é directamente o resultado de uma ordem económica capitalista e há sinais de que a ligação entre as duas está a ser feita por um número cada vez maior de pessoas e mesmo alguns países.
A classe capitalista está obviamente a tentar passar a responsabilidade para nós mas ao fazer isso revela a contradição fundamental entre o ‘apertar de cinto’ de cada um e a manutenção de um sistema económico de crescimento contínuo baseado no consumo desnecessário. Mais cedo ou mais tarde a futilidade de tentar manter o capitalismo e construir um sistema económico sustentável e justo será revelada e já há, de facto, sinais que o indicam.
A conversa dos media sobre uma ‘guerra de recursos’ é uma expressão das ligações que estão a ser criadas pela classe capitalista, do mesmo modo como o ‘pico petrolífero’, a ‘segurança energética’ e a ‘sobre-população’. Mas independentemente da sofisticação da propaganda, ela não pode esconder os efeitos devastadores da mudança climática, especialmente o seu impacto nos pobres do planeta e, mais cedo que tarde, o frango da mudança climática vai voltar a casa para o poleiro.
Em vez de sermos levados por estes mitos como o foram alguns na esquerda, nós temos de articular uma visão para uma economia alternativa baseada numa utilização racional e sustentável dos recursos, sendo isto ainda mais crítico pela percepção de que os maiores efeitos da mudança climática se virem a sentir na produção de alimentos e na subida do nível do mar que já está a ser sentida por milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras no planeta.
Será que nós no mundo desenvolvido vamos continuar a ver e a permitir que milhares de milhões sejam gastos em guerras de agressão enquanto milhões são desenraizados e obrigados a deslocarem-se sabe-se lá bem para onde? Os resultados são difíceis de imaginar, de tão desastrosos, a não ser que consigamos desenvolver uma resposta global a estes catastróficos acontecimentos. Podem ter a certeza que o mundo capitalista não vai mexer um dedo, pelo contrário, até vê estes desenvolvimentos como benéficos para a manutenção do planeta e dos seus recursos sob a sua alçada. A sua única preocupação é saber até que ponto a mudança climática terá impacto na sua capacidade de sobrevivência.
No Reino Unido, por exemplo, a redução do consumo de energia não é acompanhado por nenhuma tentativa de alterar as nossas políticas de transporte nem a produção e consumo de bens de consumo, e eles consomem vastas quantidades de energia e recursos, se não aqui, algures no circuito capitalista global de produção e distribuição. Os efeitos reais da produção capitalista são desta forma escondidos sob o manto da ‘eficiência energética’ e na garantia da nossa ‘segurança energética’.
A esquerda necessita desesperadamente de fazer a ligação entre a crise da mudança climática à crise do capitalismo e o seu assalto ao planeta, mostrando as ligações existentes entre todos estes acontecimentos e propondo uma alternativa. Nós não temos certamente outra escolha a não ser que queiramos estar ao lado das elites dominantes e manter a nossa posição de privilégio à custa da grande maioria dos habitantes do planeta.
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