terça-feira, fevereiro 26, 2008

Sosseguem o Primeiro-Ministro! - Os Professores Não Querem o Poder.

Sabe-se agora aquilo que a honestidade intelectual e a ética democrática a todos já fazia prever. Os Professores, ao contrário do que o Sr. primeiro-ministro e a sua maternal ministra da educação querem fazer crer, não são parvos e muito menos são politicamente acéfalos. Pelo contário, constituem a classe profissional em quem os portugueses mais confiam e também aquela a quem concederiam, no País, mais poder.
Quem o diz é a ‘Gallup’, (A Gallup Organization estuda a natureza e o comportamento humanos há mais de 70 anos), na sequência de uma muito recente sondagem por si realizada em 60 países para o ‘Fórum Económico Mundial”(WEF). Acredite, Engº Sócrates, que isto não é blasfémia da oposição e muito menos é o resultado de um qualquer desvirtuado inquérito público ad-hoc encomendado a uma empresa socialista de sondagens. Se me permite, é de honestidade que aqui falo.
De acordo com a sondagem da ‘Gallup’, os professores merecem a confiança de 42 por cento dos nossos concidadãos, enquanto os políticos constituem a classe em quem menos os portugueses confiam, quedando-se estes por uns míseros e vergonhosos (e ainda assim talvez inflacionados) 7 (sete!) por cento. Ou seja, a confiança dos portugueses nos seus políticos não será muito superior àquela que os mesmos depositam nos rafeiros que à noite lhes tiram o sono e com quem de manhã partilham o pequeno-almoço.
Mas ‘Gallup’ diz-nos mais. Também a nível mundial, a ética democrática e a competência profissional dos professores arrasa e vence por ‘K.O.’ a generalizada irresponsabilidade, a vulgarizada mentira, a protegida incompetência e a consentida corrupção de muitos dos políticos de carreira que tendem, após poucos anos no activo e no segredo do seu concluiu corporativo, à fuga – quais hodiernos Pilatos- para a administração de empresas públicas e/ou para outros apetitosos fornecedoras de complementos de reforma pagos pelo cada vez mais descapitalizado fundo de poupança das famílias portugueses.
Por sua vez, os professores são convidados a trabalhar até aos 65 anos de idade, e, enquanto isso, alguns mais ‘entusiastas’ políticos da nossa praça (do tipo Valter Lemos e espécimes afins) serão com certeza requisitados –quais terroristas da democracia- para dinamitar de uma vez por todas a qualidade do ensino público, coisa que os recompensará ou com uma avulsa nomeação política para dirigir uma lucrativa instituição de ensino privado, ou, em alternativa, e sem mais demandas, os brindará com uma terceira reforma, preferencialmente antes dos 65 anos de idade.
Voltemos à sondagem da ‘Gallup’. Também à escala mundial os professores constituem a classe profissional sobre a qual recai a preferência das populações ocidentais para confiar responsabilidades de poder, enquanto os políticos, que detêm artificialmente o poder por força do marketing da geração ‘mudásti’ e dos financiamentos obscuros que os ‘colam ao tecto da soberania nacional’, ficam-se, uma vez mais, no último dos lugares deste ranking.
Verifica-se, ainda, como indicador muito interessante e ao mesmo tempo sobejamente revelador do pântano em que a classe política neo-liberal chafurda, o facto de a diferença entre ambas as classes ser ainda mais acentuada na generalidade do mundo ocidental, aquele no qual competir sem reservas morais e éticas é a palavra de ordem e humanizar e democratizar é coisa tão aberrante que só os professores e mais algumas infames classes profissionais, na sua ‘inocência e boa-fé’, insistem em defender e instigar para mal das predadoras economias mundiais, as quais, ‘naturalmente’, também governam Governos nacionais, sejam eles socráticos ou não.
Agora mais a sério. Face aos dados disponibilizados pela sondagem mundial promovida pela ‘Gallup’, uma outra importante constatação: o neo-liberalismo é, implícita mas implacavelmente, condenado pelos cidadãos do mundo dito desenvolvido. Ao invés, o humanismo, a ética e os valores democráticos, inerentes à profissionalidade docente, arredados que estão do exercício do poder político, são expressamente reconhecidos e enaltecidos nos resultados desta sondagem.
Perguntar-se-á: Será por “inveja” do humanismo e dos valores democráticos, insistentemente cultivados pelos professores, que Sócrates, no seu galinheiro nacional, tenta agora politizar os órgãos de direcção e gestão das Escolas através da inusitada e patética proposta legislativa que indecentemente afasta da direcção das Escolas os professores e abre caminho para a sua partidarização? Não será esta a via mais célere para satisfazer os ensejos dos interesses das grandes multinacionais que no tonto desvario da globalização dos mercados não aceitam compatibilizar produtividade com cidadania? Não será que Sócrates, por encomenda dos seus correligionários europeus e norte-americanos, aceitou o compromisso de impor à escola pública que à democracia faça figas e que à educação para a cidadania diga não?
Não será que, para aquele efeito, urge à desprestigiada classe política nacional manietar maquiavelicamente os docentes, promovendo, tal como Sócrates fez anteriormente no seu círculo (circo) partidário, o tribalismo entre os professores à custa de os por a avaliar entre si o umbigo didáctico-pedagógico de cada um? Não será esta uma requintada fórmula de os afastar das grandes preocupações educativas e pedagógicas actuais, investindo uns de polícias e outros de ladrões a digladiarem-se mutuamente, com o único e exclusivo objectivo de afastá-los da massa crítica nacional e com isso beneficiar a classe política instada no poder? Não será o actual Estatuto da Carreira Docente uma cartilha política que antes de mais visa calar e subjugar os docentes à autocracia das ‘políticas de mercado’?
Termino com umas breves palavras dirigidas à Srª ministra da educação.
Srª Maria de Lurdes, já verificou, com certeza, que desde que é governante deixou de ter, pelo menos, o reconhecimento de 50 por cento dos portugueses? Será que já se apercebeu que a generalidade dos docentes, a quem V. Exª cuida insistentemente de maltratar, está, apesar de todas as muitas e grandes mazelas profissionais, disposta a perdoar toda a sua má-fé e pública difamação desde que a senhora, num acto de nobre sensatez, ouse pedir-lhes desculpa e, ao mesmo tempo, numa atitude mais sábia e sobretudo mais sóbria (o poder embriaga, não é?), abandonar o governo no qual está manifestamente a mais?
Ou seja, saiba V. Exª que ainda tem tempo para recuperar a sua atraiçoada e muito debelada auto-estima política: Demita-se!!! No entanto, antes de o fazer, ouse, em nome da maioria dos professores portugueses e numa última manifestação de respeito e delicadeza para com eles, dar uma ‘merecida bofetada’ ao seu (ex)primeiro-ministro. Talvez Sócrates não desperte do estado letárgico e hipnótico que contamina toda a desprestigiada classe política, contudo, Srª ministra, assista-lhe a coragem e a ética de o fazer, e os professores agradecerão. Os portugueses, pelo que se vê, aplaudirão. Do que espera, Srª ministra? Atreva-se e, como ex-docente, retorne ao seu lugar. Recupere o seu prestígio, Drª Maria de Lurdes, volte ao seu lugar de origem e seja membro da classe em quem os portugueses mais confiam para exercer o poder para o qual V. Exª não tem jeito nem perfil, ao contrário do que Sócrates, um dia, lhe terá enganadoramente dito.
Fernando Cortes Leal
http://sol.sapo.pt/blogs/kosmografias/default.aspx

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