domingo, abril 27, 2008

É sempre uma grande chatice

É sempre uma grande chatice convencer o meu filho
João, que tem sete anos, a fazer os trabalhos de casa.
Ele diz que não precisa de estudar porque vai ser
jogador de futebol.

Eu sei que o João não vai ser jogador de futebol, pois
falta-lhe o talento para ser bem-sucedido na profissão
que mais se valorizou no último quarto de século. Mas
está a ser difícil convencê-lo disso.

Não estou triste por o meu filho não ser como o Bruno
Silva, o miúdo de oito anos que depois de ter sido
observado pelo Real Madrid acabou comprometido com o
Benfica e o Sporting, uma trapalhada arranjada por um
pai ganancioso.

Fico triste é por saber que no ano passado, só no
concelho de Braga, 176 crianças abandonaram a escola
primária para irem jogar futebol.

E também fico muito triste sempre que observo o
comportamento de muitos pais nos torneios em que a
equipa do meu filho João participa. Vivem o jogo dos
miúdos como se tratasse da final das Champions e
vestem a pele de Mourinho ao estarem permanente a
gritar instruções aos filhos - "Sobe, sobe!", "Olha a
marcação!", "Dá-lhe nas pernas."

Eu sei que a febre pelo futebol não é uma
excentricidade nossa. É um fenómeno internacional. Mas
em Portugal a febre já atingiu o patamar perigoso dos
40 graus. Está três graus acima do que seria
desejável.

A cristiano-ronaldização de Portugal é excessiva e
perniciosa. Como português não gosto de me olhar ao
espelho e ver a cara do Cristiano Ronaldo, que o
diário britânico Observer diz (talvez com razão) que é
"a face de uma nação" (a nossa).
(recebido por mail)

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