segunda-feira, março 30, 2009

O mundo embriagado de Pinho

"Esta gente votava 1o vezes em mim"

O DN acompanhou o ministro da economia num périplo de quatro dias por mais de 15 fábricas. Manuel Pinho distribuiu beijinhos, cumprimentou trabalhadores e nunca deixou de ouvir os pedidos dos empresários. "Se as eleições fossem só aqui, nem era preciso fazê-las. Eu ganhava com 80% dos votos", garante.

"Ele apontou aquilo que eu lhe disse", dizia uma senhora que falou com Manuel Pinho, espantada pela abertura que o ministro da Economia demonstrou face ao seu problema. A situação repetiu-se ao longo dos dias com muitas outras pessoas, entre empresários e trabalhadores, que quiseram dar uma palavra de apoio, fazer um comentário ou alertar Pinho para algumas dificuldades que se sentem na indústria. Incansável, o ministro ouviu todos com a mesma atenção, encaminhando os assuntos que considerou importantes para os seus assessores ou secretários de Estado, que o acompanharam durante a semana da indústria, em que visitou mais de 15 fábricas na região do Porto e apresentou planos de apoio para vários sectores.

"As pessoas estão aflitas" e "muito mais viradas para quem tiver soluções concretas em vez de teorias", observa Pinho, numa das várias conversas que teve com o DN ao longo dos quatro dias. O ministro que gosta de "resolver problemas" mostra no seu discurso que se sente satisfeito de poder ajudar tantos trabalhadores a manter o seu emprego. "As pessoas estavam contentes", diz, acrescentando que ir "às fábricas é uma atitude de apoio pessoal". Mas há também o reverso da medalha. Na Pizarro, tintureira que recebeu três milhões de euros do Governo através da entrada do IAPMEI no seu capital, dezenas de trabalhadores esperavam o ministro à porta, aplaudindo--o. E na Abel da Costa Tavares, empresa do sector da cortiça, Pinho ficou com "um nó na garganta", perante funcionárias que lhe agradeciam, emotivamente, por ter salvo o patrão.

A relação com os empresários é muito próxima, diz Pinho, que faz questão de estar presente em todas as reuniões com estes responsáveis. "O presidente da AEP [Associação Empresarial de Portugal] vai ao Ministério uma vez por semana, o sr. Fortunato [dirigente da associação do sector do calçado] vai lá duas vezes por mês. Os empresários ligam-me para o telemóvel, criámos uma relação de confiança" , salienta.

Manuel Pinho tem ainda de lidar com as especificidades de cada sector. No caso do têxtil, por exemplo, as associações do sector assinaram contratos em dias separados. A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) na terça-feira e a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC/APIV) na quarta. "Eu funciono como mediador. Estão divididos, é algo que não é positivo para ninguém", afirma o ministro. "Faz parte da minha vida ser um bocadinho embaixador", salienta.

Com uma agenda muito apertada - numa só tarde foram seis as empresas que receberam o ministro - as visitas às fábricas são feitas rapidamente e a passo apressado. "É preciso boa forma física. Os empresários gostam de fazer as visitas de forma rápida. Aproveito as idas às fábricas para fazer um bocadinho de jogging", brinca Manuel Pinho.

Situadas em localidades diferentes - na terça-feira, por exemplo, o ministro da Economia foi até Famalicão, Guimarães, Braga e de volta a Famalicão -, é necessário que a viagem se faça depressa, para conseguir cumprir o horário, que na maioria dos dias acabou por se alongar.

Sem batedores na maior parte das vezes, a comitiva de Manuel Pinho tem carros equipados com luzes especiais e por vezes até sirenes, para as quais é preciso autorização especial, e ultrapassa os outros condutores. O motorista do ministro tem, inclusive, uma formação especial de condução. Assim, não é de estranhar que se atinjam velocidades de mais de 160 quilómetros/hora nestas viagens e que seja difícil, para quem não faz parte da comitiva, acompanhar a caravana.

Já nas fábricas, Manuel Pinho não se cansa de cumprimentar trabalhadores e de falar com empresários. Na terça-feira, dia dedicado aos têxteis, o ministro da economia esteve na Empresa Têxtil Nortenha, na Coelima, Lameirinho, Pizarro e, por fim, na Salsa, onde levou calças para a sua mulher, filha e enteada. E mostrou interesse no novo produto da empresa dos irmãos Vila Nova, as Wonder, jeans com efeito push-up e que, segundo a Salsa, estão a ser um sucesso de vendas.

Já na quarta-feira, na Zarco, fábrica que produz a marca de sapatos Mack James, o ministro faz uma reunião improvisada com os responsáveis, que lhe expõem alguns problemas que têm na sua actividade. No final do dia, já na fábrica de Luís Onofre, Manuel Pinho afirma que o estilista é o "pai da PME Investe" e das soluções do Governo para as linhas de crédito. "Foi o primeiro a alertar-me para o problema", diz o ministro.

"Tenho a sensação que não se fala muito de política", diz o ministro no último dia da visita, em direcção a Paços de Ferreira. "A diferença está entre uma atitude rezingona ou em arregaçar as mangas, entre propostas muito teóricas e soluções concretas", diz Manuel Pinho, acrescentando que um responsável da CGTP, numa das fábricas de cortiça visitadas na quinta-feira, lhe deu os parabéns pelo apoio dado ao sector.

O autarca de Paços de Ferreira é do PSD, mas isso não impede uma "excelente relação", diz Pinho. Mais tarde, nesse dia, Pedro Pinto iria anunciar que uma das avenidas do Parque Empresarial Multipark terá o nome do ministro da economia. E é nesta localidade que está a ser construída a fábrica da Ikea, "uma espinha cravada no coração do PSD", argumenta.

"A oposição, quanto mais fala em PME [Pequenas e Médias Empresas] mais me ajuda", acrescenta Manuel Pinho. Vários "empresários já me disseram que se concorrer pelo distrito de Aveiro querem ser os primeiros da minha lista de honra", revela.

"Se as eleições fossem cá em cima, nem era preciso fazê-las. Eu ganhava com 80% dos votos. Esta gente votava 10 vezes em mim. É uma dimensão engraçada, porque em Lisboa não se tem esta leitura", conclui.

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