quarta-feira, abril 29, 2009

A chantagem e as manobras de intimidação dos professores por parte do governo não está a ter uma resposta firme dos sindicatos.

A 6 de Fevereiro Mário Nogueira anunciava bombasticamente que 50 mil professores tinham recusado a entrega dos seus objectivos individuais, logo recusando e inviabilizando o burocrático eeconomicista sistema de avaliação do desempenho imposto pelo governo.O ministério reagiu de imediato, elevando o grau de pressão sobre as direcções das escolas, que, com cerca de uma centena de honrosas excepções, dilataram os prazos de entrega, inscrevendo os objectivos à for-ça e ameaçando castigar os "insurrectos" com "consequências" nacarreira e até processos disciplinares que nem a própria legislação previa. A chantagem surtiu de tal modo que nem o parecer jurídico encomendado pelos movimentos de professores a Garcia Pereira encorajou os resistentes, que começaram a ceder, às dezenas em cada escola, sendo que nesta rendição colectiva ao medo participaram inclusive dirigentes e delegados sindicais das duas maiores federações, FNE e FENPROF. Entretanto, a crescente apatia dos sindicatos, as debilidades dos quadros mais combativos e a falta de audácia dos movimentos fazem alastrar a desmobilização, já em plano inclinado, potenciando o desalento e desconfiança nas escolas. Consequentemente - e prova da falência completa da estratégia sindical reformista de afunilamento e"pára-arranca" - à única acção de rua convocada desde então pela plataforma sindical, a 7 de Março, compareceram somente 10 mil professores, bem longe dos 100 e dos 120 mil de 8 de Março e 8 deDezembro de 2008 convocados pela plataforma, ou até dos 20 mil mobilizados pelos movimentos em 15 de Dezembro. Aproveitando o campo deixado livre, pôde assim o ministério lançar novos e corrosivos ataques (de que avulta o novo quadro legal que precariza toda a carreira e esvazia de forma inaudita os concursos deste ano) e finalmente a 2 de Abril, o secretário de Estado Valter Lemos pôde anunciar que "75% dos docentes entregaram de facto os seus objectivos".
NOVA OFENSIVA Mas a brutal ofensiva do ministério atingiria novo patamar na primeira semana de Abril, com a demissão compulsiva de um conselho executivo democrático de um agrupamento resistente quer à"avaliação", quer ao "director" (Santo Onofre, nas Caldas da Rainha)substituindo-o por uma "comissão administrativa provisória" de pífios comissários políticos estranhos à escola, reeditando 32 anos depois o que só Cardia tinha tido a ousadia de fazer na escola Visconde Juromenha - e que lhe custou então uma vitoriosa greve de 70 dias que reintegrou quer o democrático conselho directivo demitido, quer o seu legítimo corpo docente. Mas nem este assalto deu à FENPROF e à plataforma um "rebate de consciência". Do conselho nacional da FENPROF de 2 e 3 de Abril nada mais saiu que uma nova manifestação de professores em Maio - que já nem é a unitária marcha da educação anteriormente aprovada -, uma"ampla consulta à classe sobre formas de luta" (veremos em que moldes é feita...), mais um recuado abaixo-assinado e... uma greve a pairar algures no 3º período, que substitui estrategicamente a greve às avaliações finais, tolerada e admitida há meses pelos chefes sindicais. E se esta é, mais uma vez, a trôpega solução do cabotinismo reformista (o tal "sin-dicalismo responsável"), traduzido nos recuos sucessivos que permitem à camarilha ministerial revelar a sua face fascizante nas Caldas da Rainha, tanto maiores são as responsabilidades que se colocam hoje aos quadros e activistas mais conscientes e combativos para a tarefa que urge: chamar os trabalhadores da escola pública a retomar e intensificar a luta que"renda", ou seja, que vergue de uma vez por todas este sinistro ministério e o odiado governo Sócrates.

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