sábado, agosto 29, 2009

O NEGRO E O VERMELHO

Système des contradictions economiques, 1846, vol. II

Ocupemo-nos, em primeiro lugar, do trabalho. O trabalho é o primeiro atributo, o carácter essencial do homem. O homem é trabalhador, quer dizer, criador... (p. 361).
O que é, pois, o trabalho? Ninguém ainda o definiu. O trabalho é a emissão do espírito. Trabalhar é gastar a sua vida; trabalhar, numa palavra, é abnegar-se, morrer (p. 362).
O homem morre de trabalho e de abnegação...
(p. 362). Morre porque trablha; ou melhor, é mortal porque nasceu trabalhador: o destino terrestre do homem é incompatível com a imortalidade... (p. 363).
Mas nós já sabemos que nada do que se passa na economia social tem exemplos na natureza; vemo-nos forçados, por factos inéditos, a inventar constantemente nomes especiais, a criar uma nova linguagem. É um mundo transcendente, cujos princípios são superiores à geometria e à álgebra, cujos poderes não provêm nem da atracção, nem de nenhuma força física, mas que se serve da geometria e da álgebra como de instrumentos subalternos (p. 389).
Que mais posso dizer? Trata-se da própria criação a(pan,hada, por assim dizer, em flagrante! (p. 389). Este munido que nos envolve, nos penetra, nos agita, sem que possamos vê-lo de outro modo que não seja através dos olhos do espírito e tocá-lo a não ser por sinais, este mundo estranho, é a sociedade, somos nós! (p. 389). Que mundo é este, metade material, metade inteligível: metade necessidade, metade ficção? Que força é esta chamalda trabalho, que nos arrasta com tanta mais certeza quando nela nos julgamos mais livres? O que é esta vida colectiva, que nos queima com uma inextinguível chama, causa das nossas alegrias e dos nossos tormentos? (p. 390).
Eis... que se nos apresenta uma ciência na qual nada nos é dado, a priori, nem pela experiência, nem pela razão; uma ciência em ique a humanidade extrai tudo de si própria, números e fenômenos, universais e categorias, factos e ideias; enfim, uma ciência que, em vez de consistir simplesmente, como todas as outras ciências, numa descrição racional da realidade, é a própria criação da realidade e da razão! Assim, o autor da razão económica é o homem; o criador da matéria económica é o homem. o arquitecto do sistema económico é ainda o homem. Depois de ter produzido a razão e a experiência socia1, a humanidade procede à construção da ciência social (p. 391).
Quereis conhecer o homem, estudai a sociedade; quereis conhecer a sociedade, estudai o homem. O homem e a sociedade servem-se reciprocamente de sujeito e objecto; o paralelismo, a sinonimia de ambas as ciências é completa (p. 393).

«Apênldice» ao Système des contradictions économiqúes. Notas de Proudhon no seu exemplar de A Miséria da Filosofia, de Marx, 1847 (ibid., vol. II, Paris, 1923):
«Mas o que ele não compreendeu, é que estas relações sociais determinadas são produzidas pelos homens tanto como o são o algodão, o linho... » (Exprobação de Marx dirigida a Proudhon).
Mentira: é precisamente isso que eu igo. A sociedade produz as leis e os materiais da sua experiência (p. 416).
Como vê, tenho a infelicidade de pensar outra vez como o senhor! Acaso alguma vez pretendi que os princípios fossem algo de diferente da representação intelectual, não, portanto, a causa geradora dos factos?
A vossa quinta observação é uma imputação caluniosa.
O verdadeiro sentido da obra de Marx é o seu desgosto por eu ter pensado tudo como ele e por tê-lo dito antes dele. Compete ao leitor crer que é Marx que, depois de me ter lido, lamenta pensar como eu! Que homem! (p. 418).

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