terça-feira, agosto 31, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Falais da semelhança dos princípios. Mas na hora actual há mais semelhança de princípios entre a Áustria e o Piemonte, ambos constitucionais, que entre este e a França imperial; e é ainda um lugar comum que, se a Áustria consentisse mediante indemnização em devolver Veneza, a mais terna amizade uniria as cortes de Viena e Turim. Talvez o Sr. Guéroult entenda por semelhança dos princípios, que regressando a França aos costumes constitucionais, um tratado de garantia mútua uniria os interesses capitalistas da França, da Itália e da Áustria? Mostrei precedentemente que essa consolidação do burguesismo, como dizia Pierre Leroux, está nas coordenadas da monarquia constitucional. Neste caso não falemos mais nem de nacionalismo nem de democracia; deixemos sobretudo de lado a divisa S. simoniana, que considera a emancipação da classe mais numerosa e mais pobre como o fim da Revolução. A unidade italiana, casando¬ se nestas condições com a unidade francesa e a unidade aus¬tríaca, e formando trindade com elas, encontrar¬se¬ia então voltada contra quem? contra o proletariado dos três países. Dir-se¬á que calunio os sentimentos democráticos e socialistas do Sr. Guéroult? Mas aqui o passado e o presente respondem pelo futuro: o saint¬simonismo, que primeiro pela boca de Saint¬Simon denunciou o federalismo industrial, tomou como missão, na pessoa do Sr. Enfantin e dos seus discípulos, realizá¬lo. É por isso que nós o vimos operar a conversão, primeiro em direcção à monarquia de Julho, depois em direcção do segundo Império: de modo que do republicanismo transitório do Sr. Guéroult nada resta, nem mesmo uma intenção.
O Sr. Guéroult reprova ao governo federativo que este multiplique os estados¬ maiores. A objecção da sua parte tem falta de sinceridade: é o contrário, ele sabe¬ o, que é verdade. Quem acreditará que um adepto do Sr. Enfantin, um dos seus sectários que tanto contribuíram, desde há vinte anos, para multiplicar as grandes companhias, lastima- se seriamente do que faz o encanto de tudo o que ele gosta, as sociedades por acções e as grandes unidades políticas? Relembrei na minha última brochura, segundo a estatística orçamental dos diferentes Estados da Europa, e o Sr. Gué¬roult conhece esses documentos tão bem como eu, que as despesas gerais da governação progrediram na razão directa e geométrica da centralização, de modo que sendo, a média de contribuição federal por cabeça de 15,77 fr. no cantão do Vaud, mais a contribuição federal que chega também por cabeça a 6,89 fr., total 22,66 fr.; – essa mesma média eleva¬se a 30 fr. na Bélgica e a 54 na França. No entanto nós vemos que na Suíça, para uma população de 2.392.760 habitantes, existem vinte e cinco governos canto¬nais, mais o governo federal, total de vinte e seis estados¬ maiores, como diz o Sr. Guéroult. Não conheço os orçamentos dos outros cantões; mas supondo¬os todos iguais ao do Vaud, um dos cantões mais povoados e ricos, ter¬se¬ia como despesa total desses vinte e seis governos uma soma de 53.821.531,20 fr. Em França, para uma população de 38 milhões de almas, quer dizer dezasseis vezes mais considerável que a da Suíça, não existe senão um único estado, um só governo, um só estado¬maior; mas ele custa, segundo as previsões do último orçamento, dois biliões e sessenta e oito milhões, ou seja, por cabeça, 54,40 fr. E nesse orçamento, as despe¬sas das comunas, as da cidade de Paris, por exemplo, cujos impostos administrativos se elevam no conjunto a 75 milhões, e que tem dívidas, não estão incluídas. Eis ao que o Sr. Guéroult teria tentado responder se tivesse estado de boa fé. Mas o que é bom saber nem sempre é bom de dizer, e o Sr. Guéroult achou mais simples desviar sobre o federalismo o testemunho acusatório que eu tinha apresentado contra a unidade. É assim que se fazem os negócios e se redigem os jornais.

O Sr. Guéroult insiste, com um fingimento particular, sobre a acusação da anarquia, que chega a confundir com a federação. Tão bem como o Sr. Taxile Delort, o Sr. Guéroult sabe a que público se dirige. O que o Papado é para os leitores do Siècle, aliás excelentes cristãos, a anarquia é¬o, parece, para os assinantes da Opinion nationale, aliás perfeitos democratas. Então seremos nós sempre o mesmo povo ignorante e pretencioso? Conta¬se que, quando os Venezianos enviaram embaixadores pedir desculpas a Luís XIV, certo burguês de Paris pensou morrer de riso ao saber que os Venezianos eram uma nação que vivia em república, e que a república era uma governação sem rei. A quem de entre o Sr. Guéroult ou dos seus leitores é preciso que eu ensine que a anarquia é o corolário da liberdade; que em teoria, ela é uma das formas a priori do sistema político do mesmo modo que a monarquia, a democracia e o comunismo; que na prática figura em mais de três quartos da sociedade, pois que se deve entender, sobre esse termo, todos os factos que relevam exclusivamente da iniciativa individual, factos cujo número e importância devem aumentar sem cessar, com grande desagrado dos autores, promotores, cortesãos e exploradores das monarquias, teocracias e democracias; que a tendência de todo o homem laborioso, inteligente e honesto, foi sempre necessariamente anárquica, e que esse santo horror que inspira a anarquia é o resultado de sectários que, colocando como princípio a malignidade inata e a incapacidade do sujeito humano, acusando a razão livre, invejosos da ri¬queza adquirida pelo trabalho livre, desconfiando do próprio amor da família, sacrificando, uns a carne ao espírito, os outros o espírito à carne, esforçando¬se para anular todo o individualismo e toda a independência sob a autoridade absoluta dos grandes estados¬maiores e dos pontificados.
Depois deste simulacro de refutação, o Sr. Guéroult põe¬se a desvendar os mistérios da minha consciência. Segundo ele, a ideia que me fez escrever teria sido uma inspiração do mais infernal maquiavelismo.

20.000 COISAS E TAL E QUAL, POIS CLARO!



Não caro leitor, não se trata do célebre livro do Júlio Verne "20000 léguas submarinas" mas de ter e dar consciência de 20000 posts editados aqui no ANOVIS entre 12 de Novembro de 2005 e o dia de hoje...




20000 posts: milhares de textos, milhares de fotos comentadas, milhares de vídeos em 4 anos e 10 meses...É muita fruta, desculpem, muito post!!!



Estou deslumbrado! Tão deslumbrado que até proponho um concurso...Se algum leitor do ANOVIS souber de algum blogue ou site de língua portuguesa que no espaço de cinco anos tenha publicado 20000 posts e se isso puder ser demonstrado diga e mostre e na volta do correio recebe uma prenda do Anovis...e esta, heim? Vamos nessa?


Só tem que enviar um mail para www.franciscojtrindade@clix.pt comprovando que existe um blogue ou site de língua portuguesa com cinco anos de vida ou menos, porque não?, que tenha editado tantos posts como o ANOVIS!...Eu não acredito!!!



PORREIRO PÁ!!!

A democracia também tem as suas regras de exclusão!


Sarkozy continua a varrer a casa...


Subsidio social para computador


Os beneficiários do Rendimento Social de Inserção, abono de família e subsídio social têm de passar a provar os rendimentos através da Internet. A indicação foi dada, por carta, aos beneficiários, sendo que nessa carta é mencionado o endereço electrónico da Segurança Social, assim como os prazos, que vão de 10 a 30 de Setembro. Caso não façam essa prova de rendimentos, os beneficiários podem ficar sem os rendimentos públicos durante dois anos. A medida abrange mais de dois milhões de portugueses.
Só espero que depois não venham a "descobrir" que quem tem dinheiro para comprar um computador e ter ligação à internet não necessita de receber abonos e subsidios. Desta gente já espero tudo.

Se o cardeal tivesse consciência…

Fitas publicadas em dois jornais belgas mostram um ex-cardeal católico pedindo que uma vítima não revele que sofreu abuso sexual por um bispo, aumentando a polémica em torno dos escândalos sexuais dentro da Igreja.

As gravações feitas de forma secreta pela vítima trazem o ex-cardeal Godfried Danneels, antigo líder da Igreja na Bélgica, pedindo para uma vítima que aceite um pedido de desculpas em particular ou espere um ano para que o bispo se aposente antes de tornar o caso público.

A arte pacheca

Existe, entre alguns "pensadores" liberais, a crença mais ou menos enraizada de que "cultura subsidiada é cultura controlada" . Eles não gostam de nada controlado. A não ser que seja pelo mercado.

Eles também acreditam (é sabido que a ideologia é mais do domínio da fé e da convicção do que da reflexão ou do raciocínio) que a cultura é uma "manifestação espontânea e que assim forma sua própria demanda por um determinado produto ou estilo" ; por isso são firmemente contra os subsídios à cultura; ou seja, acreditam devotamente nas leis do mercado. Vejam como este curioso argumentário não é exclusivo dos nossos pachecos-pereiras, sousa-tavares ou césares-das-neves – já se estendeu ao outro lado do Atlântico e por lá também tem cultores com apelidos com tanto ou mais pedigree: "Se a maioria das pessoas não liga para literatura, para cinema e para artes em geral, não há sentido forçá-las a pagar por isso. Tornar compulsório o financiamento de manifestações artísticas é desrespeitar o gosto pessoal do contribuinte; faz com que lhe seja retirado o direito de pagar somente pela arte que lhe aprouver. É infantilizá-lo. Se ninguém, por exemplo, quiser saber de teatro de rua, a única solução minimamente sensata é deixá-lo definhar. Não há motivos para forçar o consumo. Quem se interessar, que vá atrás."

Em Portugal, José Pacheco Pereira é o paladino destes liberalíssimos "neo-cons" no combate pelo direito à escolha dos contribuintes e contra o controlo do pensamento dos pobrezinhos pelo Estado. Os seus argumentos radicalizaram-se recentemente , a propósito do Ministério da Cultura ter voltado atrás na intenção de cortar os subsídios à sua numerosa e reivindicativa prole de cortesãos.

Rábula anti-militarista de Raul Solnado sobre a guerra

Rábula anti-militarista de Raul Solnado sobre a guerra em que o maior humorista português diz a certo momento com a sua proverbial ironia:

«(…) o jornal trazia o anúncio da guerra. E diz a minha tia:
- Por que é que não aproveitas o emprego? A guerra é uma coisa muito boa, porque a gente mata, mata, mata, e nunca vai presa!!!...»



A ida à guerra de 1908 foi o primeiro grande êxito de Raúl Solnado, inspirado num sketch do espanhol Miguel Gila, e que foi adaptado por humorista português. É interpretado na revista "Bate o Pé", no Teatro Maria Vitória em 1961. É depois editado em disco, em 1962, e bateu todos os recordes de vendas. Durante três anos, Solnado contou a história da sua ida à guerra, um monólogo que de forma irónica denunciava a guerra. Recorde-se que Portugal vivia em plena Guerra Colonial sob o regime fascista de Salazar e a censura impedia a liberdade de expressão

Resposta recebida de Guilherme Valente aos comentários

Resposta recebida de Guilherme Valente aos comentários ao artigo "A MISTELA DO EDUQUÊS"

1. É objectivamente incontroverso que a legislação privilegia a «graduação» em «ciências» da educação. Foi feita para isso pelos membros da seita. A resposta do comentador que tentou contestar a demonstração que Fartinho da Silva fez dessa evidência é um exemplo perfeito da qualidade intelectual e da atitude do «eduquês».

2. É preciso dizer claramente que a generalidade dos mestrados e doutoramentos nas ditas «ciências» da educação não produziram conhecimento relevante, que possa justificar, honrar, a atribuição desses títulos. Na sua generalidade trata-se de banalidades, frequentemente ridículas, «descobertas da pólvora», em «circuito fechado», revelando uma significativa indigência de referências realmente científicas e culturais. São irrelevantes para o conhecimento, para o ensino, a escola e os alunos. E tudo se tornou pior e mais fácil para eles quando passaram a poder reproduzir-se hermafroditamente, isto é, a constituírem júris só com gente da seita.

A melhor prova é o estado a que conduziram a educação.

3. Como sabem pouco e o que sabem está errado, a generalidade dos «especialistas» da educação escondem-se nos diplomas. Quando, raramente, se atrevem a falar, brandem o «argumento» de autoridade, isto é o diploma, ou desviam-se do assunto.

4. O que pode parecer surpreendente é o facto de quase nunca aparecerem frontalmente, "assinadamente", a defenderem o seu projecto. Mas percebe-se bem porquê: a) a natureza do projecto (de que muitos deles, aliás, não têm sequer consciência) é inconfessável; b) dominando mal as fontes fontes inspiradoras, geralmente com grandes limitações culturais, não conseguem integrar numa exposição minimamente coerente e argumentadamente sustentável o sincretismo ideológico e teórico irracionalista e obscurantista que vão impondo. Por outro lado, a nossa «obsessão» parece ter dado frutos: alguns aparentam começar a ver e parecem recuar nas suas posições (ver, a esta luz, no Jornal de Letras, a opinião de Rui Canário sobre a possibilidade estúpida de ser decretado o fim das retenções). Claro que a maior parte não assumirá o erro pois isso seria perderem o poder o estatuto e o emprego.

5. De facto tenho uma «obsessão»: combater o obscurantismo.

E não se justifica persistir no combate? Os resultados melhoraram? Depois de trinta anos de degradação da situação, mudaram as concepções, as teorias, a política, os métodos, os teóricos, os que dirigem o sistema? Não é óbvio, portanto, a continuidade que referi? Obsessão tem o eduquês, têm os «especialistas» da educação, que insistem em destruir a escola e o país, sem compaixão pelas crianças e jovens que todos os anos condenam à ignorância e à boçalidade, roubando-lhes a esperança de um futuro de realização profissional e cidadã. Porque não de afastam?

Alguém imagina uma equipa de futebol a perder todos os jogos desde há mais de trinta anos sem que se mude de treinador? Pois é isto que acontece em Portugal na área da educação.

6. Faço afirmações muito concretas: «Quando não se aceita a prova da realidade, entra-se no reino da irracionalidade». Não é isto, com toda a evidência, que se verifica na educação?

O fim das retenções é a todos os títulos idiota, porque mesmo que fosse adoptado não deveria ser, evidentemente, declarado obrigatório. A menos que se deseje mesmo que ninguém se preocupe em não aprender e…em não ensinar nada. Não é mais um passo na escalada da ideologia que julgo ter vindo desde há muito a caracterizar?

Respondam-me com argumentos. Expliquem e defendam o vosso projecto. Porque não o fazem nunca?

Quanto ao controlo do sistema, à opressão e à repressão, querem que refira as estruturas e as pessoas, as situações e os testemunhos?

7. Quanto às soluções, não temos feito outra coisa que não seja sugeri-las. E não será preciso inventar nada. É tudo óbvio.

José Manuel Fernandes e o estranho caso da desigualdade no Estado Social

Ao tentar provar que o Estado Social provoca desigualdade, JMF esconde verdades e atiça trabalhadores contra trabalhadores.

O social killer José Manuel Fernandes (JMF) assinou na passada sexta feira, 27 de Agosto, um artigo de opinião em que pretendia demonstrar como o Estado Social em Portugal tem conduzido a um aumento da desigualdade. O seu objectivo era provar, por A mais B, que se este modelo, o Estado Social, provoca um aumento de desigualdade então deveríamos descartá-lo de todo e trocá-lo pela lei da selva que tem vindo a defender.

Para dar consistência às suas teses, o ex-jornalista cita um estudo de Luciano Amaral onde este expõe que entre 1990 e 2010 o índice de Gini cresceu de 0,33 para 0,38. Este índice de desigualdade, criado por Conrado Gini em 1912, mede a diferença de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres, ao valor 0,0 corresponde uma distribuição absolutamente igualitária do rendimento, ao passo que 1 equivale a dizer que apenas um indivíduo da sociedade tem todo o rendimento.

O NEGRO E O VERMELHO

Ou então, é a existência do Papado que se encontra posta em causa pelo próprio facto da unidade italiana. De novo o partido bonapartista se divide: o Sr. de la Guéronnière e de la Rochejaquelein, unidos aos cardeais, tomam a defesa do poder temporal, que os Srs. Piétri e de Persigny acutilam em excesso. Ninguém sonha em examinar a questão nem do ponto de vista da moral eterna contida nos princípios da Revolução, nem daquele do princípio federativo, único capaz de fazer justiça exacta às pretensões do Pontificado. Longe disso, cada um proclama o seu respeito pelo catolicismo, o que implicitamente resolve a questão a favor do Rei Papa: somente, enquanto que uns perguntam se o poder temporal não é uma causa de enfraquecimento para a Igreja, os outros asseguram que é para ela uma garantia indispensável. No fundo, nada existe de sério neste debate senão a cobiça do Piemonte que, contra direito e razão, depois de ter tomado os Estados de Nápoles, Toscania, etc., quer ainda ter os da Igreja, e que pensa ter conquistado o sufrágio imperial, interessando para a sua causa uma das fracções do bonapartismo.
O Sr. Guéroult lançou¬se nesta confusão: que faz ele aí? de balança. Não ousaria negá¬lo, ele que, mesmo fazendo ao catolicismo uma guerra de difamação mais que de controvérsia, acusa os Srs. Renan e Larroque, do mesmo modo que a mim próprio, de serem ateus: como se na filosofia, como se no pensamento da Revolução, ateísmo e teísmo, materialismo e espiritualidade fossem outra coisa senão simples aspectos metafísicos. A propósito da peça do Sr. Emile Augier, o Sr. Guéroult teve a boa sorte de receber um aviso: ei¬lo transformado em vítima da perseguição clerical. Mas estejam tranquilos: o Sr. Guéroult tem a protecção do bonapartismo voltairiano que assistia à representação do Fils de Giboyer, e que não deixará cair um cabelo da cabeça do seu jornalista .
Apoiei a independência da Bélgica, uma nacionalidade tão respeitável como qualquer outra, contra o apetite dos anexacionistas, entre os quais se conta na primeira linha o Sr. Guéroult. Como recompensa, obtive o quê? a simpatia do palácio de Laeken? a ordem de Leopold? não, recebi um tumulto. Toda a imprensa liberal belga se levantou contra mim! É verdade que invocava a favor da independência belga a política de federação, e que desde há algum tempo o liberalismo belga e o governo do rei Leopold, por uma contradição que toda a gente notou, pareciam inclinados às ideias unitárias... De resto, compreendo que um publicista tome partido pela unidade contra a federação: questão deixada às disputas. Admito mesmo, a despeito da etimologia, que o martírio não é um testemunho seguro da verdade, como tão pouco a venalidade da testemunha não é uma demons¬tração de falso testemunho: mas tenho o direito de saber se o escritor que leio fala como advogado ou como professor. Sr. Guéroult, não sereis vós condecorado com a ordem de São Lázaro?
Abordando o fundo da questão, o Sr. Guéroult pelo menos forneceu a favor da causa que defende razões plausíveis? Destruiu os meus argu¬mentos a favor do Federalismo? As suas formas de raciocinar são das mais estranhas. Se faço intervir a geografia e a história, o Sr. Guéroult trata essas considerações como lugares comuns. Seja: aceito a acusação. Não inventei nem a geografia nem a história; mas até que o Sr. Guéroult tenha provado que as tradições históricas e as condições geográficas da Itália conduzem a um governo unitário, ou que tenha mudado umas e outras, manterei as minhas razões como sólidas, precisamente porque são lugares comuns.
Pretende que a Itália unificada, tornando¬se ingrata e hostil, nada poderá contra nós. Sem ter estudado a estratégia, acredito que o contrário resulta da simples inspecção das fronteiras. Será necessário ser um grande naturalista para dizer, à vista de um quadrúpede armado de garras e de dentes, como o leão, que este animal está preparado para a matança, destinado a alimentar¬se de carne viva e a beber sangue? É assim que a Itália, armada até aos dentes do lado da França, é inofensiva para nós somente enquanto está dividida. O Sr. Guéroult defende, é verdade, que esse armamento é destinado à Áustria; quanto à França, a semelhança dos princípios faz dela uma irmã da Itália. Doce fraternidade! Infelizmente a experiência, outro lugar comum, dá a essas duas asserções o mais estron¬doso desmentido. É com a pátria de Breno f) que a Itália sempre esteve em guerra; é desse lado que ela sempre temeu a invasão; é contra a França que depois da morte de Luís o Bem¬ Amado g) a política romana chama os Alemães ao império; é pelo efeito dessa antipatia da nação italiana contra a nossa que se atirara irreflectidamente na unificação, e que a Áustria se encontra ainda hoje na posse do Estado de Veneza; é contra a França, finalmente, que a casa de Sabóia dirigiu constantemente a sua política.

41) Ao citar o nome do Sr. Émile ANGIER ao lado do do Sr. Guéroult, não tenciono envolvê-los na mesma desaprovação. O autor dramático capta no ar os vícios e ridí¬cu¬los do seu tempo: é o seu direito, e não é, gosto de o crer, culpa do Sr. Angier se se usa a sua obra, que eu não vi nem li, em manobras políticas. O Sr. Guéroult, dando a sua adesão à dinastia a fim de poder melhor atirar sobre a Igreja e servir a sua seita, não está na mesma situação. Uma coisa no entanto me espanta, é ver certo partido aplaudir com tanto entusiasmo o mesmo escritor, que anteriormente, nos Effrontés, de que Fils de Giboyer é uma continuação, lhe infligiu tão rudes golpes. Os aplausos dados a Giboyer filho teriam como fim fazer esquecer Giboyer pai?

f) Do latim Brennus. Príncipe dos Sénones, chefe dos gauleses (séc. IV a.c.). Derrotou os romanos conquistando e saqueando Roma em 387 a.c. (N.T.)
g) Trata-se de Luis XV de França, que reinou entre 1715 e 1774. (N.T.)

segunda-feira, agosto 30, 2010

The Hell


E agora? O que é que eu faço?


dois fotogramas, duas atitudes...


dia dos namorados, é?


sonhos...


you suck, sócrates!


Segredos da santidade...









Desenhos de Alexei Talimonov

A paz impossível...



Tudo numa boa, meu


Calma, que não há revisão constitucional, calma que não vai haver crise para aprovar o orçamento lá mais para o Outono. Isto diz o Sr. Silva hoje, porque há um mês, o homem "que raramente se engana e nunca tem dúvidas" dizia que a situação do país era insustentavel (e, como Presidente nada faz para acabar com a insustentabilidade). Está tudo numa boa.

O FIM DA ECONOMIA DA POTÊNCIA MUNDIAL

Na Alemanha festeja-se o "conto de fadas de verão" de um forte crescimento trimestral, impulsionado principalmente pelo sucesso das exportações da indústria automóvel (o mercado doméstico caiu entretanto 30 por cento) e da construção de máquinas. A crise é considerada superada, embora o nível anterior do produto interno bruto nem de longe tenha voltado a ser alcançado, nem seja previsível um novo boom da economia mundial. O actual factor de incerteza é constituído pelos Estados Unidos, a maior economia do mundo. Há aí um clima deteriorado. Isso deve-se principalmente a uma mudança de fase da economia, pois os Estados Unidos foram os primeiros a aplicar os programas de estímulo económico os quais, portanto, também aí acabam mais cedo. Agora se evidencia que a suposta "retoma” ameaça rodar em falso. Economistas influentes falam de um iminente double dip [mergulho duplo], uma recaída possivelmente ainda mais profunda na recessão.

O problema principal, além do endividamento público, é o sobre-endividamento maciço das famílias americanas, cujo consumo representa 70 por cento do PIB. No auge da conjuntura económica de deficit, em 2007, o rendimento médio real foi menor que o de 1970. O poder de consumo vinha apenas dos cartões de crédito e de créditos garantidos por hipotecas que na sua maioria não têm qualquer valor. O desemprego oficial duplicou para os 10 por cento, sendo o desemprego real estimado em 17 por cento. Mesmo para manter este precário status quo é necessário um crescimento anual de 3 por cento; uma redução durável da taxa de inactividade somente seria viável com um crescimento de 6 a 9 por cento. Isso está fora de questão no longo prazo, especialmente porque a classe média está a ser corroída a um ritmo de tirar o fôlego. Para recuperarem o poder de compra, as famílias teriam de amortizar dívidas de mais de seis biliões de dólares ou reduzir os seus encargos durante 10 anos. Isso seria lançar a economia ainda mais no abismo. A continuação das subvenções públicas, por sua vez, põe em questão o crédito dos E.U.A. e, não em último lugar, o seu poder militar mundial. Os custos das operações no Afeganistão, no Iraque e em outros países têm aumentado desde 2002 várias centenas por cento, e, após o estouro de bolhas financeiras, deixaram de poder ser pagos com os fundos da caixa para pequenas despesas.

O QUE É E O QUE NÃO É A CIÊNCIA

Embora se possa dizer sumariamente que a ciência é a “busca do erro” definir a ciência é pano que dá para muitas mangas. Decerto que haverá unanimidade se se disser que a arte ou a religião, apesar de serem dos mais notáveis empreendimentos humanos, não são actividades científicas. Por outro lado, ninguém duvida que tanto a matemática como a física são ciências, apesar de terem metodologias e critérios de validação muito diferentes. Mas, por exemplo, as chamadas ciências jurídicas ou as ciências da comunicação serão ciências?

Na matemática ou na física existem alvos precisos a atingir (o rigor lógico-formal e a descrição correcta das leis da Natureza) e sobre eles fazem os matemáticos e os físicos esforçada pontaria. Mas, nas ciências jurídicas ou nas ciências da comunicação, só para continuar com os mesmos dois exemplos, vemos que muita gente atira para qualquer lado e por vezes de qualquer maneira. Depois pintam o alvo à volta dos locais de impacto dos seus projécteis.

Cientista é aquele homem ou mulher que admite que falhou a pontaria. Se um jurista ou um teórico da comunicação estiverem prontos a admitir que as suas respostas a uma qualquer questão estão erradas e devem, portanto, ser substituídas por outras, do próprio ou de outrem, estarão de pleno direito na comunidade dos cientistas. Claro que esta definição remete para outra, a definição de erro. Mas, por mais difícil ou controversa que seja a definição de erro, um matemático ou um físico sabem reconhecer quando se lhes aponta um erro (há excepções, claro, que só servem para confirmar a regra). Mas nem sempre outros profissionais admitem os erros com a mesma rapidez, com o mesmo ou pelo menos semelhante desprendimento.

Estamos a viver acima das nossas possibilidades?

Este artigo critica o argumento utilizado por aqueles que desejam reduzir o estado de bem-estar alegando que gastamos mais do que podemos. O artigo assinala que a evidência não avaliza tal postura; mostra que os recursos existem, mas o Estado não os recolhe. No que diz respeito ao endividamento privado, este deve-se primordialmente à diminuição dos rendimentos do trabalho como percentagem do rendimento nacional.

Há uma frase que aparece constantemente na sabedoria convencional do nosso país, reproduzida não só pelos porta-vozes do pensamento neoliberal (que têm grandes caixas de ressonância nos meios de informação e persuasão de maior difusão do país), como também por dirigentes do partido socialista governante em Espanha (e não digamos já por dirigentes do maior partido da oposição, que fizeram de tal frase a sua palavra de ordem eleitoral), que assinala que «há que reduzir os nossos gastos, tanto públicos como privados, porque durante todos estes anos temos vindo a gastar mais do que deveríamos tendo em conta o nível de riqueza que temos». E, como prova disso, referem-se à elevada dívida pública do estado espanhol, à qual se acrescenta também a elevada dívida privada. Este é o novo dogma que tanto o governo como a maioria dos partidos da oposição (excepto as esquerdas não dirigentes) repetem constantemente e que os meios de maior difusão promovem vinte e quatro horas por dia. Daí que o debate político e mediático se centre em como reduzir a despesa, tanto privada como pública, a fim de reduzir tal endividamento. Tal debate dá-se também a nível europeu, sobretudo na sequência do endividamento dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Spain), que quer dizer em inglês porcos, insulto que pensam ser merecido ao considerarem que a crise do euro foi provocada pelo crescimento desmesurado e irresponsável dos défices e das dívidas públicas destes países devido à sua excessiva protecção social. Até aqui o dogma.

Os “marretas” da política de direita

Antes do muppet show, série televisiva norte-americana, já em português corrente os “marretas” eram teimosos, repetitivos e maledicentes, mas ganharam notoriedade com Statler e Waldorf, personagens muito próximos e parecidos, cuja intervenção, nos episódios da série, consistia em dizer mal, e estar quase sempre em “desacordo” mútuo, mas afirmando cada um deles, com frequência, o inverso do que antes dissera, mantendo-se assim em permanente “oposição”, que lhes permitia a real convergência de posições face aos acontecimentos e factos diversos. Será talvez nos “marretas” que J. Sócrates/PS e P. Coelho/PSD assentam o paradigma da sua “oposição”, para consumo mediático e clientelar, que é garantia da sua profunda identificação na política de direita.

domingo, agosto 29, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

CAPÍTULO III

A Opinião Nacional – Política de Balança do Sr. Guéroult

Quando pergunto a um jornalista da imprensa democrática: Sois con¬decorado com a ordem de São Lázaro? – o leitor não deve supor que a minha questão equivale no meu pensamento a uma acusação de corrupção, e que aquele que eu interpelo seja indirectamente designado por mim como um escritor subornado: trata¬se de uma coisa diferente. No que me diz respeito, repito¬o, não acredito nas subvenções, pela excelente razão que, se o facto fosse verdadeiro, dissimular¬se¬ia, e eu não poderia denunciá¬lo sem me expor a uma acção judicial por calúnia. Quanto aos condecorados, não conheço nenhum. Tudo o que posso dizer, é que a denúncia foi articulada publicamente, que nenhum protesto se levantou; que, entre os condecorados, uns trazem a sua condecoração, os outros abstêm¬se disso por pura consideração partidária; que todos, de resto, não colocaram alguma dificuldade em a aceitar. Segundo a minha maneira de ver está aí uma coisa grave. Todo o particular tem o direito de receber uma condeco¬ração, mesmo até uma pensão, de um soberano estrangeiro. Mas o jornal é uma função quasi¬ pública, o jornalista uma espécie de escritor ajuramentado: uma prova, é a autorização que ele deve obter e a caução que lhe é exigida; é sobretudo a confiança implícita dos leitores. No rigor do direito, um jornalista não deve receber nem distinção honorí¬fica nem recompensa pecuniária de quem quer que seja, nem mesmo do governo do seu país. Ele não deve conhecer outra recompensa que a opinião, outro dinheiro que o dos seus assinantes. É uma questão de fé pública, não de moralidade privada: e é nesse sentido que continuo as minhas interpelações, sem acepção nem excepção de ninguém.
O Sr. Guéroult teve a gentileza de me consagrar no seu jornal dois ou três artigos. Como homem que sabe do seu ofício, começou por troçar de mim sobre a tese e a antítese, esquecendo que o seu patrão, o Sr. Enfantin, ocupou¬se muito dessas curiosidades metafísicas e não se saiu bem. Depois fez do meu carácter uma descrição pouco elogiosa: riu da minha súbita ternura por esse pobre Pio IX, que em breve não terá para o defender, diz ele, senão o Sr. Guizot o protestante, o Sr. Cohen o judeu e o Sr. Proudhon o ateu. Explicou o meu federalismo actual pelo meu anarquismo de outrora: em resumo, tentou o melhor que pôde para demolir o meu pensamento pela desconsideração do escritor.
Já que a propósito de federação e de unidade o Sr. Guéroult sentiu¬se no dever de procurar os meus antecedentes de polemista, não achará mau que eu diga também alguma coisa dos seus: é guerra leal!
O Sr. Guéroult é da escola bancocrática, andrógina e pancreática do Sr. Enfantin, a qual parece ter tomado como regra, desde a catástrofe de Menilmontant, servir indiferentemente todas as opiniões e todos os governos. É por isso que o saint¬ simonismo, tornado enfantiniano, sempre sustentou redactores na maior parte dos jornais: o Sr. Chevalier nos Débats, o Sr. Jourdan no Siècle, o Sr. Guéroult no République, de onde foi expulso depois do golpe de Estado, hoje na Opinion nationale; o Sr. Émile Barraut já não sei onde, outros ainda à esquerda e à direita. Esses atiradores de partidas duplas valem bem as teses e as antíteses do Sr. Proudhon.
Qual é actualmente a política do Sr. Guéroult?
A seguir ao 2 de Dezembro, o partido bonapartista chegou em massa ao governo. Da mesma forma que a emigração depois de 1814, pode dizer¬se sem injúria que este partido era ao mesmo tempo velho e novo: velho, porque já não conhecia, como facto político, senão a glória e a vitória, como a emigração não conhecia senão a fé e o rei; jovem porque as questões na ordem do dia eram novas para ele e ele teria que fazer a sua aprendizagem. Daí, em parte, as oscilações do governo imperial, oscilações normais em todos os governos principiantes; daí também a formação dentro do partido, de duas tendências, de duas políticas, uma de inclinação de preferência para o conservadorismo, a outra hasteando sentimentos democráticos, pretensões à Revolução. Mais de uma vez, nas suas adver¬tências aos jornais, o governo imperial declarou que não se submeteria a nenhuma influência, e nós devemos ter o facto como seguro. Quanto ao partido, pode¬se compará¬lo, no seu conjunto, a esse homem que andava sobre o Sena com um balde em cada pé.
Por exemplo, a questão da unidade italiana coloca¬se diante da arbitragem imperial. Os bonarpartistas da resistência protestam, alegam o respeito das coroas, a legitimidade das dinastias, a exorbitância das pre¬tensões piemontesas, o perigo da agitação revolucionária. Os bonapartistas do movimento declaram¬se em virtude do princípio de nacionalidade e das tradições jacobinas, pela aglomeração. Entre a facção de esquerda e a facção de direita, que faz o centro, o grosso do partido? Anda¬ se, esperando a decisão de Sua Majestade, do Sr. Thouvenel a do Sr. Drouyn de l'Huys, dá¬se razão tanto à la Patrie e ao Pays contra la France, como à la France contra a Opinion nationale e a Patrie.... Ninguém examina nem o direito inaugurado em 89, nem o interesse económico das massas, nem o progresso da civilização, nem a segurança da Europa; com mais razão ninguém eleva a voz a favor da única teoria que poderia resolver o problema, a Federação.

O exemplo dum diabinho!


Isto lembra-me qualquer coisa...


Aaaaaaahhhhhhh mãezinha!!!!


o uso que podemos dar à tv


ciência versus religião


sim, é possível...


cores naturais


em caso de emergência


google em 2084


Deus e as Sereias

Imaginemos o seguinte diálogo:

crente – Uma evidência de que Deus existe são os testemunhos que relatam a ressurreição de Jesus.

ateu – Essa evidência é risível. Também existem vários testemunhos que relatam o avistamento de Sereias, e nem por isso elas existem.

Até aqui nada de mais. Vejemos diferentes possibilidades de respostas típicas que tenho visto muitos crentes darem perante este tipo de argumento:

1- Um argumento por analogia é um argumento fraco e pouco rigoroso.

2- A analogia não se aplica pois Deus é X e as sereias são Y [substituir X e Y por qualquer diferença entre Deus e as sereias que pareça relevante ao crente em questão]

3- Isso é ridículo pois todos sabemos que não existem sereias

4- Comparar Deus com sereias, que absurdo. Esse argumento é pouco sério, nem lhe vou responder.

Estas possibilidades de resposta demonstram que esse crente em particular tem algumas dificuldades em lidar com a abstracção da lógica formal. Vejemos os erros lógicos envolvidos em cada uma das respostas.

No primeiro caso alega-se que a resposta do ateu se trata de um argumento por analogia. Isso é falso.

Na verdade, o ateu percebeu rapidamente o raciocínio implícito presente na proposta inicial do crente:

Premissas:

a) Relatos de testemunhos de algo são uma boa razão para acreditar nesse algo

b) Existem relatos de testemunhos da Ressurreição

Conclusão:

c) Existe uma boa razão para acreditar na ressurreição

d) Existe uma boa razão para acreditar em Deus

Se o ateu discorda da premissa a), que é uma regra universal, ele pode demonstrar formalmente que esta premissa é errada utilizando apenas um contra-exemplo. Este contra-exemplo terá, neste caso, de ter as seguintes características:

i- tem de ser algo em relação ao qual ambas as partes concordem que não existem boas razões para acreditar

ii- tem de ser algo em relação ao qual ambas as partes concordem que existem relatos de testemunhos

Se um exemplo cumpre estes dois requisitos, a falsidade da premissa a) fica formalmente demonstrada, e daí se conclui que a conclusão inicial não se justifica com base no argumento apresentado. Neste caso em particular o ateu tem, formalmente, razão. Não existe qualquer argumento por analogia.

Percebe-se assim também o erro dos crentes que alegam que a analogia não colhe por causa de alguma diferença fundamental entre Deus e as Sereias. Tais diferenças são irrelevantes, pois o conceito de Deus não faz parte da premissa a) que se pretende demonstrar falsa. O que é necessário, no que diz respeito ao contra-exemplo, é que ele cumpra os requisitos expressos, e não a categoria a que pertence.

A resposta 3 é nesse sentido, particularmente irónica. É precisamente o facto de ambos os lados concordarem que não existem sereias que faz deste um contra-exemplo adequado para mostrar formalmente o erro da premissa implícita. Se ambas as partes concordam que não existem boas razões para acreditar em sereias, mas existem relatos do seu avistamento, ambas as partes terão de concordar que relatos do avistamento de algo extraordinário não correspondem a boas razões para acreditar na ocorrência desse algo (ou então haveria boas razões para acreditar em sereias, o que ambas as partes concordam ser falso).

A resposta 4 é uma simples fuga ao debate. Por mera falta de argumentos.

Note-se que quando escrevi este texto meu interesse não era este argumento em particular, mas sim a falta de domínio da lógica formal com a qual muitos crentes reagem a contra-exemplos adequados.

Existem formas inteligentes de responder a este tipo de contra-argumentos. Por exemplo, se o crente alegar que existem mais testemunhos e mais fiáveis a respeito da ressurreição que a respeito de Sereias – alegação da qual eu discordaria – ele subentende que existe um patamar de indícios testemunhais a partir do qual existem boas razões para acreditar num evento extraordinário, mas que o avistamento de sereias está abaixo desse patamar. Um contra-exemplo adequado seria algo que ambas as partes concordassem estar acima de tal patamar, e que ambas as partes concordassem não existir. Em alternativa o ateu poderia discordar, como eu discordo, de tal alegação, e em conjunto aferir quantos e quais testemunhos existem, para que a discussão progredisse sem que ninguém mostrasse uma notável incompreensão dos processos de lógica formal.

http://www.ateismo.net/2010/08/27/deus-e-as-sereias/

A CPLP vista de África

A CPLP é constituída predominantemente por países africanos. Não admira que nela dominem as dinâmicas políticas africanas, regionais e que sejam estas a condicionar as relações com países como Portugal e o Brasil. O regionalismo africano é hoje muito diversificado e intenso e é herdeiro de duas tradições: o pan-africanismo e o colonialismo. Há, por um lado, a União Africana e várias organizações regionais das quais as principais são a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), a Comunidade Económica dos Estados da África Austral (SADC), a Comunidade da África Oriental (EAC); e há, por outro lado, as organizações que decorrem do colonialismo e dos laços neocoloniais que se procuraram manter depois das independências: a Commonwealth, a Francofonia e a CPLP. De todas elas, a CPLP é aquela em que os países africanos têm, por agora, mais capacidade de manobra pelo facto de o fraco desenvolvimento de Portugal e a guerra de libertação não terem permitido à antiga potência colonial controlar os processos de desenvolvimento pós-independência. Isto não significa que os laços neocoloniais não possam vir a surgir, quer protagonizados por Portugal, quer pelo Brasil (que foi colonizado, não colonizador, outra originalidade da CPLP).

Anarquistas verdes realizam Acampamento Climático contra projeto rodoviário em Londonderry, na Irlanda


Um grupo eco-anarquista criou um Acampamento no condado de Tyrone para manifestar a sua oposição aos muitos milhões de libras que estão sendo destinados ao projeto rodoviário entre Londonderry e Augnacloy.

Climate Camp Ireland - um grupo que acredita na ação direta contra as causas das alterações climáticas locais, como as vias rápidas e estradas - chegou a Victoria Bridge na última quinta-feira (12 de agosto) para protestar contra o planejado corredor de transporte Western A5.

Segundo o grupo, a criação do Acampamento Climático 2010 "teve o objetivo de apoiar à comunidade local na sua oposição à proposta da nova A5". Eles têm cooperado com o grupo de pressão local da Aliança Alternativa A5, realizando ações de contestação. O Acampamento foi erguido em Victoria Bridge, de quinta-feira, 12 de agosto, a segunda-feira, 16 de agosto.

A Aliança Alternativa A5 já organizou um rali "falso-funeral" nas proximidades de Victoria Bridge, para marcar a sua oposição ao projeto da dupla rodovia.

Destacando a oposição do grupo ao desenvolvimento da A5, Nancy Serrano, porta-voz do Acampamento Climático, cita um relatório encomendado pela ONU. Baseado nas conclusões do Fórum Global Humanitário, de Genebra, de maio de 2009, que mostra que as mudanças climáticas matam cerca de 315 mil pessoas todos os anos por doenças ou desastres naturais, e que deverá subir para meio milhão de mortes anuais até 2030.

Os eco-anarquistas explicaram ainda que a construção de mais estradas e o alargamento das estradas existentes, quase sempre motivada pela preocupação com o tráfego, não é necessária para reduzir o tráfego, pelo contrário, provoca um aumento do tráfego com mais veículos motorizados.

Catherine Friedrich, do Acampamento Climático, disse: "Tentar resolver o congestionamento do tráfego através da construção de uma nova estrada é como tentar resolver a obesidade alargando o cinto".

Porque é que os nossos governos escolhem a criação de infra-estruturas intensivas de carbono quando a alternativa sustentável, do transporte ferroviário, existe?, pergunta Catherine.

"Carris ao invés de vias duplas é o que Acampamento Climático e a Aliança Alternativa A5 estão sugerindo. Aquela proposta não é uma solução. As vantagens do transporte ferroviário são claras. Reduz os tempos de viagem mais do que a via dupla, oferece emprego permanente, e não representa uma infra-estrutura de elevado carbono, insustentável", conta ela.

Por seu lado, Lynne Smith da Aliança Alternativa A5 disse: "Este é o nosso futuro e o futuro de nossos filhos. E também não queremos ver a destruição do nosso sumidouro de carbono natural" - os campos e árvores de Tyrone - por causa de uma teórica economia de 20 minutos de viagem”.

Mais infos:

http://www.climatecamp.ie/

www.alternativea5allliance.com

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

O NEGRO E O VERMELHO

Passemos sobre o epíteto de cristã, que, em 1849, não escandalizava ninguém, tanto como não escandaliza hoje Sr. Delort, e que sob a minha caneta tomava uma extensão que a ortodoxia certamente não lhe concede. Pergunto ainda que relação há entre a REPÚBLICA espiritual, que então prognosticava, que afirmo sempre, e que no meu espírito não significou nunca senão a Revolução e a Justiça, e o unitarismo do Sr. Delort? Onde está, da minha parte, a contradição? De que, como justiceiro e revolucionário, sou opositor à Igreja, ides vós tirar a ilacção que devo votar convosco a transferência dos Estados do Santo Padre para Vítor¬Emanuel? Que lógica!
Última citação, segundo o Sr. Delort:
A abolição do poder temporal dos Papas, que outra coisa é senão a Democracia fazendo, na cidade dos reis, dos cônsules, dos imperadores e dos papas, a sua entrada solene? Sob um ponto de vista mais elevado, a queda da potência temporal dos Papas indica um retorno definitivo da humanidade à filosofia, a abjuração do cato¬licismo, que, uma vez desprendido da terra, regressará ao céu, de onde a vontade de Carlos Magno o fez descer.
Admirai o artifício oratório do Sr. Taxile Delort. Os assinantes do Siècle são liberais honestos que entendem continuar nos princípios da Revolução; pode mesmo ser que eles não se creiam republicanos: de resto, nisso não vendo nada de maldade. Desde que se lhes fale de tempos em tempos de revolução, democracia, oitenta e nove, liberdade, etc., ficam contentes, não põem obstáculos sobre o uso. Guerra da Crimeia, revolu¬ção; guerra da Lombardia, unidade italiana, revolução; expulsão do Papa, revolução, e revolução, lenga¬lenga. Citem¬lhes, através desta embrulhada, algumas frases de um autor onde as palavras revolução, democracia, liberdade, abolição do poder temporal e espiritual da Igreja sejam pronunciadas num diapasão um pouco tenso: nada de dúvidas, este escritor revolucionário é da opinião do Siècle, sobra a criação do novo reino, é um partidário da unidade, um amigo de Vítor¬ Emanuel. Mas eis que dizeis a esses excelentes assinantes que o mesmo escritor protesta contra o reino em nome da federação: oh! então, deve ser um insolente renegado, é um contra¬revolucionário.
O quê! contais bastante com a estupidez dos leitores do Siècle para lhes apresentar como argumento a favor da unidade italiana e um testemunho das contradições do meu espírito as passagens mais fulminantes que eu tenha alguma vez escrito contra a vossa tese! Confesso, a abolição da potência temporal na Igreja implicava no meu espírito, na época em que escrevia essa passagem, a abolição espiritual; foi por isso que marquei a queda do poder temporal dos Papas na presença da Democracia triunfante como o sinal precursor da queda do catolicismo. Mas a realeza piemontesa não é a Democracia diante da qual, segundo o pensamento que vós denunciais, deve eclipar¬se o Papado; mas a usurpação dos Estados da Igreja não é a exclusão da Igreja de toda a participação no poder temporal; mas nem o Siècle nem ninguém entre os unitários pede com os seus votos essa exclusão, ninguém admite que à espiritualidade do Evangelho possa suce¬der uma espiritualidade da Revolução. Pelo contrário pede¬ se, e o Sr. Taxile Delort como os outros, o direito de cidade d) para a Igreja, oferecendo¬lhe devolver em honras, pensões, influências, propriedades, etc., tudo o que ela terá perdido pela diminuição do seu previlégio. Então, que me reprova o Sr. Taxile Delort? Se há contradição em alguma parte, não é em mim, que, na minha brochura sobre a unidade italiana, me abstive de formular algum pedido nem a favor nem contra a Igreja; é sobretudo no Siècle, que tanto faz acto de piedade cristã e vota honras à Igreja, como provoca a destituição do Pontífice Rei. O que seria lógico da parte do Siècle, era que em lugar de uma medida de espoliação propusesse uma lei de justiça que, separando a sociedade de toda a religião, satisfizesse me¬lhor que o próprio Evangelho às necessidades morais dos povos; que, organizando o ensino superior, não mais somente para cento e vinte e sete mil quatrocentos e setenta e quatro pessoas privilegiadas, mas para uma massa de SETE MILHÕES E MEIO de crianças de ambos os sexos, destruísse finalmente todos os lares de ignorância e desenraizasse o preconceito. O que seria lógico da parte do Siècle, seria pedir consequentemente a aboli¬ção da concordata, a supressão do orçamento eclesiástico, a anula¬ção do Senado dos cardeais, a retoma das propriedades dadas à Igreja sob uma ordem de ideias que de futuro já não existiria. Então o Siècle poderia troçar das minhas demonstrações anti¬cristãs; teria sobre mim a vantagem da teoria e da prática; e acreditá¬lo¬iam animado do verdadeiro ardor revolucionário. Tende portanto, senhores do Sciècle, a coragem de assumir não digo da vossa incrudelidade, mas do vosso racionalismo, suposto que na vossa polémica contra o Papado não houve nada de racional. Fora disso, não espereis aliar¬me à vossa intriga piemontesa: pois tanto coloco o direito da Revolução e a moral pura da humanidade acima da Igreja, como e mil vezes mais baixo sob a fé de Cristo coloco a vós próprios, com a vossa unidade, o vosso voltairianismo e todas as vossas hipocrisias.
De todas as críticas que foram feitas à minha última brochura, aquela que mais me desgostou, devido ao nome do autor, é a do Sr. Taxile Delort. Acabamos de ver o que ela vale. O citador viu ou quis ver nas minhas palavras o contrário do que eu lá pus: é tudo. – Antigamente, quando o Sr. Delort trabalhava no Charivari, julgavam- no sério, frio, e não alegre; de onde se concluiu que o seu lugar era num jornal grave. Desde que o Sr. Havin o chamou, pareceu tornar- se galhofeiro, devaneia, faz concorrência ao seu confrade cómico Sr. Edmond Texier: também o acham fútil mesmo para os assinantes do Siècle. Inventus est minus habens! e) A diminuição deles próprios, tal é o castigo de todos aqueles que desposaram a causa da unidade.

d) Antigamente significava a qualidade de um cidadão, de um estado ou, de uma cidade, com as prerrogativas inerentes. (N.T.)
e) Em latim, no original. A invenção é o menor dos saberes. (N.T.)

sábado, agosto 28, 2010

Há sempre alguém que diz não! Há sempre alguém que diz: "É possível de outra maneira!"

E agora, o que é que vou fazer da minha vida?

O que o levantamento de pesos pode fazer ao nosso cabelo

digo sempre ao meu motorista para conduzir com cuidado

O novo método de tratar serial killers

Jericho

Forget the lights
Forget the sounds
You no longer need me round
Lost my patience
Lost my pride
The story of my life
Innocence is no way to hide
Forget the light
Forget the sound
Why do you have to drag me down
Men of night, In disguise
Slay this barren child
Sadness is your only friend

"Please forgive me
I didn't mean to
play with your emotions
Tear apart your passions
Please forgive me
I didn't mean to
Hurt you with false meanings
Hurt you with false feelings"

A ignorância é uma coisa medonha!


comparações...


O poder das pinturas femininas


como acabar uma relação


pensamento para hoje...


A população do mundo em 2000


Quem lucra

Eckhard Höffner é um historiador alemão que atribui o crescimento cultural, científico e económico da Alemanha no século XIX à ausência de copyright. A tese é estranha mas os números são elucidativos e, pensando bem, faz sentido.
Na primeira metade do século XIX a Alemanha não tinha legislação de copyright. Mesmo a que a Prússia implementaria era ineficaz devido à organização política da Alemanha, dividida em estados semi-independentes. Em contraste, a Inglaterra tinha uma legislação parecida à que temos hoje, concedendo direitos exclusivos de reprodução às editoras. E enquanto a Inglaterra publicava cerca de mil títulos por ano, a Alemanha publicava dez vezes mais. Em 1836 chegaram aos catorze mil títulos. Tendo em conta a população, não ficou muito aquém dos menos de oito mil que Portugal agora edita por ano.

E percebe-se porquê. Sem monopólios, os editores alemães tinham de chegar ao máximo número de pessoas e o mais rápido possível. Por isso faziam edições baratas, que muita gente podia comprar, a par das edições luxuosas para os clientes mais abastados. Não como se faz hoje, com o paperback a sair só um ano depois do livro de capa rija, muito mais caro. E como não podiam ficar a vender sempre o mesmo livro, por causa da concorrência que também o poderia editar, tinham de diversificar a oferta.

Que recuperação? Uma dupla recaída em W?

Estará a caminho uma recuperação económica? Terá havido uma que agora cessou? Estará a nossa actual recessão, parcialmente recuperada, agora a cair outra vez ladeira abaixo numa segunda queda, ou numa dupla recaída em W? Políticos, jornalistas e académicos da corrente dominante estão empenhados em debates aquecidos e intensos acerca de recuperações e duplas recaídas. Mas a realidade económica para a maior parte dos americanos é totalmente diferente.

O mito do consumo responsável

Um dos mitos propagandeado pelos diáconos do capitalismo e apropriado acriticamente por muitas ONGs é o do consumo responsável. Este mito diz-nos que podemos mudar o mundo pelo consumo, usando o nosso dinheiro para “votar” em produtos ecológicos. Assim se transfere a responsabilidade pela crise ecológica dos produtores para os consumidores e se cria a ilusão de que vivemos numa “democracia de mercado”. Obviamente, a realidade é muito diferente.

Dizer que consumindo produtos que vão de encontro a determinados padrões de ética ambiental podemos ter um impacto positivo no mundo em que vivemos é enfatizar uma evidência. Mas partir daqui para defender que a mudança social pode vir da acção descentralizada de consumidores individuais é não perceber nada sobre como funciona o sistema capitalista.

No mercado, quem determina o que é produzido e o modo de produção é o produtor, não o consumidor. Ninguém nos perguntou se queríamos que as empresas destinassem o dinheiro que lhes damos à invenção de novos produtos electrónicos, como I-phones ou televisores plasma, ou ao desenvolvimento de produtos electrónicos mais eficientes no uso de energia. Ninguém nos perguntou se queríamos viver numa sociedade dominada pelo automóvel, se queríamos que a electricidade que entra em nossa casa fosse gerada maioritariamente por combustíveis fósseis ou se queríamos passar os fins-de-semana enfiados em grandes superfícies comerciais. Numa economia de mercado, a oferta gera a procura, não o contrário. Defender a ideia da soberania do consumidor implica cair no absurdo de acreditar que os triliões de euros gastos pelas empresas em publicidade não têm (quase) nenhuma influência nos comportamentos dos consumidores.

O NEGRO E O VERMELHO

CAPÍTULO II

O Siècle. – Alucinações Unitárias do Sr. Delort

Vamos, Sr. Taxile Delort, falai primeiro. Fazei a vossa confissão, se, o que não quero conjecturar, tendes alguma coisa a confessar. Vós ouvistes a acusação do Sr. Pelletan; conheceis os rumores que correm, e acabei de vos dizer em que condições, se os factos alegados são verdade, podeis torná¬los inocentes. Chamastes¬me, a propósito de uma brochura sobre a unidade italiana, Janicotb). Janicot, na vossa opinião, não é sem dúvida grande coisa: no entanto não vos devolverei injúria por injúria, e abster¬me¬ei de vos tratar como vendido. Contento¬me em dirigir¬vos esta simples pergunta: Sois, sim ou não, condecorado de São Maurício e de São Lázaro? Se não o sois, são¬no o Sr. Edmond Texier, ou o Sr. da Bédollière, ou o Sr. Léon Plée, ou o Sr. Havin? São¬no todos, ou não há ninguém? Não vos falo de subvenção: é uma suspeita com que não quero carregar quem quer que seja. Falai então, e francamente. Éreis em 1848, se me recordo, republicano, socialista mesmo, e um pouco meu colaborador no Peuple. Em primeiro lugar, que fazeis no Siècle? Desde sempre fostes olhado como um modelo de integridade e de puritanismo; e fizeste¬lo ver, mostrando aos leitores do Siècle, em benefício do Piemonte e à minha custa, como eu não sou senão um Janicot. Pois bem, cidadão Delort, condecorado ou não condecorado, vou fazer¬vos ver que o amor da unidade não age somente sobre a consciência do jornalista, que afecta também o entendimento, e que no que vos diz respeito, pelo menos vos imobilizou o espírito.
Contra a minha opinião federalista, opinião que não data de ontem, o Sr. Delort julgou poder citar como minhas palavras de que lhe ficaria muito agradecido que me indicasse a fonte, pois tenho a infelicidade de nunca me reler, e o que melhor esqueço são os meus próprios livros:
É preciso que a REPÚBLICA diga ao Austríaco: Quero que tu saias da Itália, e o Austríaco sairá; ela dirá ao Cita c): «Quero que tu deixes a minha Polónia querida» e o Cita retomará a estrada do deserto.
ɬme impossível adivinhar hoje o que o tom desta passagem poderia significar na obra de onde foi extraída. Mas que relação existe entre essa exortação da REPÚBLICA ao Austríaco e ao Cita, e a unidade italiana? Digo que a República, só a República, compreendeis, e para mais uma República federal, poderia devolver a liberdade aos Italianos e aos Polacos; e o Sr. Taxile Delort, antigo republicano, tira daí um argumento a favor da monarquia de Vítor- Emanuel! Estes pobres piemonteses! Eles não sabem sequer compreender o que citam: quando se lhes diz República ou Federação, eles compreendem unidade e reino.
Outra citação do Sr. Delort, sempre sem indicação da obra:
A insurreição das nacionalidades italiana, húngara, polaca, croata que é senão a negação desse grande feudalismo das nações, criado fora de todo o direito e de toda a lei pela Santa Aliança?
Seguramente nego a grande feudalidade das nações, tanto o da idade média como o do presente século; nego o feudalismo nobiliário e a feudali¬dade industrial; nego a feudalidade dos Estados, e porquê? Sem dúvida porque sou federalista. Para que serve então relembrar- me essa frase? Será que a nego, e podereis dizer-me para que vos serve ela? Mas vós que fazeis a nacionalidade sinónimo de UNIDADE, e que pela unidade voltais com tanta precisão, embora republicano, à MONARQUIA, que fazeis senão reformar essa grande feudalidade cuja condição elementar éa uni¬dade e a fórmula superior a Santa Aliança?
Não é o mesmo Proudhon, prossegue o Sr. Delort, que escrevia na mesma época: – A Revolução na Europa é idêntica e universal; a contra¬revolução é igualmente idêntica e universal. Todas as questões que se debatem neste momento em França, na Hungria, em Roma, e em toda a Alemanha, são no fundo a mesma questão. A sua solidariedade, a sua identidade é evidente: toda a gente o sente, o vê, o proclama.
Ah! não penso de outra forma hoje em dia. Estou perfeitamente convencido, por exemplo, que a questão polaca não pode resolver¬se de forma diferente da questão italiana, quer dizer pela federação, e foi por isso que me opus radicalmente ao que se chama hoje restauração da Polónia, e que não é outra senão a reconstituição de uma grande unidade política em proveito de uma aristocracia latifundiária justamente condenada pela história. Mas, uma vez mais, o que é que o cliente do Siècle, o rei homem galante, pode ter a ganhar com isso?
O Sr. Delort cita sem cessar, interpidamente:
Adepto ardente do princípio das nacionalidades em 1849, o Sr. Proudhon mostrava¬se o adversário obstinado da Santa Sé: pedia o estabelecimento imediato da REPÚBLICA cristã, cujo centro já não seria mais em Roma, mas, como queria o Imperador, em Paris.

b) Palavra intraduzível, porque inexistente na língua francesa. Talvez tenha relação com Janot que era uma figura cómica no século XVIII. (N.T.)
c) Citas – Povo de origem ariana, de língua indo-europeia, que, procedente da Ásia Central, no decurso do 1º milénio a.c., invadiu o sul da Rússia e diversos países do Próximo Oriente. (N.T.).