sexta-feira, junho 27, 2014

O ‘projeto’ UE e a democracia de plástico

Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu demonstram apenas um exercício de legitimação do poder do capital financeiro e da austeridade.


1 - A UE, versão para adultos

Não é uma união mas uma prisão. Não é europeia mas do capital financeiro global. Uma burla desastrosa e genocida.

Entende-se como evidente a existência de grandes desigualdades na UE, à qual impropriamente se designa por Europa, como se os outros estados tivessem perdido a sua localização geográfica, por estarem fora da UE. E, como vamos assistindo, parece que a Ucrânia, sendo geograficamente Europa não o será ainda totalmente enquanto não tiver a sua estrela plantada na bandeira azul. Essa abusiva designação disfarça mal o pendor hegemónico do grande capital, desejoso de dominar a bacia mediterrânica e as margens do mar Negro.

Na UE podem desenhar-se, um centro de poder polarizado num triângulo que tem vértices em Londres, Berlim e Milão e duas periferias, uma a Leste e outra a Sul onde, por comodidade, incluímos a Irlanda. As periferias correspondem a áreas de produção de bens e serviços que nada têm de relação com as necessidades dos seus povos mas antes, com a segmentação da produção orientada a partir do Centro, de acordo com os interesses do capital financeiro e das multinacionais. Neste contexto, as economias periféricas vão perdendo o que ainda tiverem de articulação interna entre as suas atividades económicas para se tornarem objeto da “especialização” ditada pelo mercado, isto é, pelo poder sediado no Centro. É ainda neste contexto que Portugal, por exemplo, se vem desindustrializando e orientando para o mercado turístico, como produtor de têxteis e calçado ou como terreno para a profusão do eucalipto, enquanto a Alemanha se vocaciona para a produção de material de transporte (automóveis, locomotivas, material de guerra, produtos químicos).

Esta segmentação promove uma grande desigualdade na geração de rendimentos, deficits comerciais nas periferias e superavits no Centro, onde se acumulam capitais ávidos de uma colocação rentável. E daí o fornecimento pelos bancos do Centro, de crédito aos bancos das periferias, para estes se encarregarem de encontrar formas de colocação no financiamento de empresas e famílias, que paguem os juros aos financiadores do Centro e ofereçam ainda margens de lucro para os bancos das periferias. A integração numa mesma área económica, financeira e monetária (como para os países onde vigora o euro) facilita esses fluxos: de empréstimos do Centro para as periferias, reembolsos e juros das periferias para o Centro. Como a aplicação desses capitais nas periferias terá de ter, forçosamente, em conta a divisão de trabalho no seio da UE, aquele financiamento vai privilegiar sectores virados para o consumo interno, para desenvolver bolhas imobiliárias ou de obras públicas de utilidade duvidosa. Os Estados nacionais, como departamentos do capital financeiro, dominados por classes políticas mafiosas, entram nesta dança, endividam-se e quando a ressaca chega, está aberto o caminho para um longo calvário de austeridade.

As desigualdades daí resultantes geram dependências e subalternidades, grandes diferenças salariais e na qualidade de vida, longe das promessas que pareciam concretizáveis, sobretudo a partir das entradas massivas de fundos comunitários, de uma homogeneidade de bem-estar para todos os povos comunitários e que se demonstra ter sido publicidade enganosa para os povos das periferias, como também para muitos milhões de trabalhadores dos países do Centro.