domingo, novembro 30, 2014

Ela olha para a vida que passa ao seu redor!...


A minha árvore de natal!


Os bons amigos


Não temos que ser todos iguais!...


Cavalo com medo da água mas que se consegue superar...

Como fazer uma selfie no espaço!...

Porque não se acaba de vez com a profissão docente?


A fotografia acima reproduzida - publicada no jornal Correio da Manhã de 19 de Outubro do presente ano - traduz exactamente a maneira como eu imaginei o papel do professor nas aulas onde entrarem os tablets,com conteúdos previamente programados por tecnólogos.

Esse papel será, como, em linguagem "pedagógica" há muito tempo se diz, de (mero) gestor, guia, orientador... Será isso, mas não será de professor.

Trata-se de um papel que, de modo recorrente, é imposto aos professores, sendo que muitos o aceitam e o defendem.

Sem recuar muito no tempo, encontramo-lo:
- nos "pacotes didácticos à-prova-de-professor", "inventados", nos anos sessenta, nos Estados Unidos da América e difundidos com grande rapidez por vários países;
- nas velhinhas "máquinas de ensinar" e, depois, no "ensino assistido por computador";
- nos actuais manuais escolares, que, quais "pacotes didácticos", incluem tudo o que é preciso para aprender;
- agora, nos novos equipamentos que são os computadores portáteis, os quadros interactivos, etc.

E, repare bem o leitor: todas estas alternativas que, com a apregoada supremacia de recursos - os quais, dependendo da época, podem ser em papel ou digitais - afastam o professor da sua função de ensinar, são acompanhados da promessa de sucesso educativo garantido.

Note a subtileza do que se encontra implícito no artigo de onde retirei a imagem (aqui): se mantivermos o professor (apenas e só) como intermediário entre os recursos e os alunos, se ele deixar de ser verdadeiramente professor, todos os alunos aprenderão tudo. Assim teremos o céu na terra!

É lamentável que uma sociedade aceite esta ideia e a confirme.
É lamentável que cientistas, tão eruditos como os que se referem na notícia do jornal a que me refiro e muitos outros que tenho ouvido, a promovam.
E, mais lamentável é que haja escolas e professores estejam alinhados por ela e se ajam de acordo com ela.

Sociedade, cientistas, escolas, professores, toda a gente deveria perceber que o professor é um profissional intelectual cujo mandato é ensinar. 

Isto significa que, face às directrizes e orientações da tutela e da escola, tem por dever filtrar e organizar o conhecimento, aferir os objectivos e dar-lhes sentido, seleccionar os métodos e os recursos que comprovadamente são mais adequados à aprendizagem...

Este trabalho - sim é um trabalho -, que requer uma enorme competência, precisa de ser feito para todas as disciplinas e/ou temáticas que lecciona, tendo em conta, sobretudo, as turmas, os grupos de alunos e os alunos individualmente.

Um professor é um decisor: alguém que, a partir do que se encontra determinado superiormente, tem a obrigação de escolher, em liberdade e com sentido de responsabilidade, de entre as possibilidades de acção aquela que, num determinado momento, se afigura mais adequada na concretização do que é oBem em termos de educação formal.

Negar-se esta faceta ao professor, que é a matriz da sua função, é negar a sua existência.
Mais honesto seria acabar-se, de vez, com esta profissão!


DAQUI

Carrasco será, ao menos que seja simpático

O carrasco bonzinho  da preferência de um grupo entusiasmado e suficientemente numeroso para colocar o PS à frente em todas as sondagens é António Costa e a sua austeridade fofinha. Estou neste preciso momento a ouvi-lo pela rádio. Não diz uma palavra sobre rasgar o Tratado Orçamental da austeridade para todo o sempre, mas fala em mudança. Não fala em renegociação da dívida pública que nos vai custando parcelas cada vez maiores de Estado social, mas enche a boca com a palavra esperança. Nada diz sobre o rompimento cada vez mais necessário com um paradigma com provas dadas de fracasso, que põe países inteiros a produzir lucros em vez de riqueza, que faz ricos em função da pobreza que semeia e que nos custa parcelas cada vez maiores de poder de compra e estabilidade de vida, presentes e futuros, mas fala em futuro. Diz que é necessário "conversar com a Europa". Assim, "conversar", se der, dá, se não der, paciência. O carrasco bonzinho é "europeísta". Nada diz sobre o que fará se não der. E em França e em Itália, países muito maiores e com muito maior peso do que nós governados pelo mesmo "europeísmo" de Costa, não deu.

Todo o texto aqui

A sombra


Uma explicação simples de como se faz lavagem de dinheiro...



Retirado da série "Breaking Bad"

Dívida & Deficit – estratégia de empobrecimento

A dívida pública portuguesa tem vindo a aumentar, tal como o volume dos juros, a despeito da redução do deficit e isso leva a que se pergunte quais os limites para o desmantelamento dos serviços públicos e para o aumento das receitas. Esta situação, há muito deixou de ser um problema financeiro e o afundamento do BES, da empresa de regime PT e os casos judiciais de corrupção revelam que há um problema político, de regime.

Na UE o panorama é semelhante ainda que atenuado pela maior pujança económica dos países do Centro; porém, a falta de democracia, a aceitação do TTIP e o caso LuxLeaks revelam também uma aproximação dos limites físicos do capitalismo.

A redução dos deficits, mormente em Portugal, nada tem de virtuoso; baseia-se na redução dos saldos primários negativos que mais não representam que a expressão da perda de direitos e cortes em serviços públicos à população. E fazem o deficit quase coincidir com os crescentes pagamentos de juros, como manda o BCE, a UE e o sistema financeiro que os guia.

sábado, novembro 29, 2014

Boa noite!


Pizza! Pizza! Pizza! Pizza!


O ponto alto de um mau dia!...


Pessoas que podemos encontrar no metro












As intermitências das línguas...


Um momento etnográfico



The Death Whistle: Um interessante instrumento usado pelos Astecas



Alguém me tira uma foto?


Os homens não se medem aos palmos...E as mulheres também não!...


À Justiça o que é da Justiça

Para além de uma condenação ao pagamento de 18 milhões a dividir por quatro arguidos, o caso Homelandtem como primeiro desfecho provisório, ainda passível de recurso, a condenação  do ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Duarte Lima, a dez anos de prisão efectiva por um crime de burla qualificada ao BPN e outro de branqueamento de capitais. Como costuma acontecer nestes casos, Duarte Lima também se diz vítima de uma brutal injustiça mas desta vez ainda não se ouviu falar nem em instrumentalização da Justiça nem nenhum comentador de serviço se lembrou de fazer comparações com outros casos, aquele "então e os outros?" que já não se aguenta. À Justiça o que é da Justiça. Assim está melhor.

DAQUI

É TUDO UMA CABALA

Felizmente não somos um povo histérico, pois de outro modo estaríamos a correr nus pelas ruas, sem direcção, chocando uns contra os outros e gritando “u-lulululululu”.
Porquê? Pelo seguinte: Ainda nem uma semana tem uma notícia razoavelmente simpática sobre o défice, que aparentemente está a mirrar. A notícia é só razoavelmente simpática porque as descidas devem-se ao aumento da receita fiscal, ou seja, ao estrafegamento do cidadão luso, esbulhado pelo seu próprio país. Claro que também há uma dose de receita fiscal que vem do Totoaudi, porque o cidadão luso gosta de jogar e desatou a pedir facturas, mas não é a lotaria que nos está a tirar do buraco.
Porém, mesmo espoliados e com frio, pelo menos parece que o défice mirra e isso já não é completamente mau, pois podia perfeitamente estar a subir. Não seria a primeira vez que ficávamos sem nada em solidariedade para com as contas públicas e elas nem um abraço.
Sucede que Bruxelas falou hoje, para nos dar uma alegria, como sempre, porque Bruxelas não nos consegue ver cabisbaixos. Diz então que Portugal está em risco de incumprimento do défice. E como é que isto se resolve? Exactamente! Um Audi ali para o cavalheiro que disse “com mais medidas de consolidação”.
Ou seja, ainda não chega. Isto parece os jogos sem fronteiras. Parece que transportamos, sobre um piso escorregadio, um enorme balde de água que devemos verter para outro balde até atingirmos uma determinada medida. Às vezes parece que estamos mesmo quase, “vai, vai, vai, vai”, mas na verdade não chega e temos de ir buscar mais.
Ora, do lado da despesa está quieto, porque o Governo até já está a trabalhar à luz das velas. Dizem eles que não podem poupar nem mais um tostão e nós só temos de acreditar, pois sabemos que o Estado esforça-se por nos representar da melhor forma, em respeito pelos valores mais nobres da República, entre os quais, aquele que dita que um líder parlamentar não pode andar de Renault Clio.
Por falar em despesa, sabemos também que a despesa com o Parlamento vai subir 6 milhões de euros em 2015. Porquê? Por causa das campanhas eleitorais. Ou seja, os portugueses pagam 6 milhões de euros para serem aldrabados durante 15 dias.
Bom, mas se do lado da despesa nada mais há a fazer, porque não podemos andar por aí com uma democracia toda maltrapilha, então será do lado da receita que temos de ir ao encontro dos receios de Bruxelas. Isto se quisermos ir, porque o Governo já disse que não é preciso. A gaita é que os portugueses sabem que sempre que Bruxelas disse que era preciso uma coisa e o Governo disse que não era, quem é que acabou por ter razão? Exactamente! Outro Audi ali para a senhora que disse “Bruxelas”.
O cidadão luso está, por isso, muitíssimo feito ao bife. Olhem para o vosso pecúlio e pensem “vai ter de ir mais qualquer coisinha”. Às vezes na arrecadação temos lá coisas que já não usamos mas que têm valor. É alienar.
Na verdade, esta não é uma novidade assim tão grande. Fomos avisados, aquando da bancarrota, que estavam pela frente décadas de grande riqueza mas ao contrário – não se diz a outra palavra para não dar azar. Felizmente, temos alternativa, porque a oposição, que nos levou pela mão até à bancarrota, já explicou, milhares de vezes, que isto resolve-se com o crescimento económico, o que é uma verdade indesmentível. Mas… e como é que se consegue esse crescimento económico brutal, que nos tira da forca, assim do dia para a noite? Ah, isso é surpresa. Primeiro temos de votar e eles depois logo dizem. Queríamos saber já, era? Lambões.
Tem de se ter paciência. Até lá, o Parlamento podia entreter-se a investigar, por exemplo, como é que se chegou a este descalabro. Uma espécie de comissão parlamentar de inquérito ao caso Portugal. Mas tinha de ser uma comissão parlamentar de inquérito a sério, porque as de brincar só concluem coisas a fingir e para o caso não chega.
Ora, como já se viu que o Parlamento não consegue levar a cabo uma comissão de inquérito a sério, temos ser nós, a nossas expensas, a fazer essa investigação, para a qual eu quero, desde já, contribuir, sem pedir nada em troca, porque eu faço isto pelo meu país, que ainda é Portugal mas que já esteve mais longe de ser a Estónia.
Pois bem, a minha cabala é que o problema de Portugal são as cabalas. Não há corrupção, não há incompetência, não há má gestão pública, não há falta de ética nem de patriotismo, não há incúria nem desleixo, há apenas muitas cabalas. Mesmo aquela ideia de que Portugal é um país estruturalmente pobre, desigual e marcado pela injustiça, é uma enorme cabala. Devíamos por isso, em vez de querer respostas para os problemas que o país nem sequer tem, procurar quem nos mete estas aldrabices na cabeça, impedindo-nos de ver um país próspero, justo e que oferece uma qualidade de vida tão grande que os seus habitantes até equacionam emigrar, pois provavelmente não se consideram merecedores de tanta folgança.

Pausa da sesta


DOS DEZ ANOS DE PRISÃO EFECTIVA PARA DUARTE LIMA

Se o processo de constituição do direito é fenomenológico e normativo, impõe-se a interrogação: quais são os momentos dos normativos vigentes? Os especialistas responderão: direito só há um o vigente e mais nenhum.  

A vigência é o modo de ser do direito e engloba duas categorias: a validade e a eficácia. Para Kant, por exemplo, "a validade sem eficácia é inoperante e a eficácia sem validade é cega".

Um Estado que se afirma de direito, como o nosso, e em que a validade e a eficácia são acusadas da dissolução na espuma dos dias, é fundamental o exemplo, desde logo, dos primeiros dignitários do Estado.

Olhamos para o estado de boa parte das figuras políticas, e dos mais variados quadrantes, e ficamos perplexos. E ficamos ainda mais preocupados se considerarmos a atmosfera que exibem primeiro-ministros e muitos dos "capitães" partidários como é o caso de Duarte Lima. Argumente-se o que quiser, mas é indisfarçável a crise da democracia.

sexta-feira, novembro 28, 2014

O Cante Alentejano


 

Ser e não ser!...


cábulas!


Os mais giros anúncios publicitários!...

CARLOS MOEDAS, O "FACILITADOR"

Manuel Castro Almeida, secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, membro de um governo que está a destruir a ciência nacional, acha que Carlos Moedas é que nos vai salvar, "facilitando" a obtenção de verbas. Acontece que não tem esse poder de favorecimento do país da sua nacionalidade. 
Há uma componente europeia da ciência, que Moedas superintende, para a qual Portugal paga mais do que recebe. A mudança dessa situação não está à vista: pelo contrário, a "avaliação" em curso vai piorar a competitividade do sistema científico-tecnológico nacional, ao diminuí-lo de uma forma drástica (cortando para cerca de metade). E há uma ajuda europeia a Portugal ao desenvolvimento regional, onde a ciência poderá entrar. Aí as regras não são nada claras e seria bom que Castro Almeida as esclarecesse.


DAQUI

O homem do saco


O eterno cócó

Passos Coelho e a gestão do momento. O outro é que é o mau, eu é que sou o bom. Aproveitar a prisão de Sócrates para insinuar a necessidade de voltara tentar criminalizar o enriquecimento ilícito é uma excelente ideia se incluir os vários parágrafos que este camarada saltou, um para cada privatização a preço de amigos que o seu Governo conduziu, outro para cada SWAP, outro para cada negócio em que o Governo pagou a multinacionais para o ajudarem a definir as condições de venda do produto que essas empresas depois apareceram a comprar e outro ainda sobre telhados de vidro da marca Tecnoforma. A nacionalização do amontoado de prejuízos da delinquência banqueira merece um capítulo com muitos parágrafos, por isso deixei para o final a nacionalização do BES, que este senhor diz ter falido por má gestão e não por falhas de supervisão, versão vagamente semelhante à que o seu colega de Évora forneceu sobre a nacionalização do BPN. Eles vão-se plagiando na disputa de fiéis que lhes agradeçam a governação do país. O Sócrates é melhor “có” Passos e o Passos é melhor “có” Sócrates. O cocó da alternância. Vamo-lo pagando.

DAQUI

A NOTA 1 DO PRESO 44

O juiz Carlos Alexandre fundamentou a prisão preventiva de José Sócrates com tudo, menos com o perigo de alarme social. No entanto, talvez o devesse ter feito, pois a carta que o preso 44 escreve da prisão mete um bocadinho de medo. A população de Évora nem dormiu.
O ex-primeiro-ministro jura vingança ao juiz que o prendeu. Bom, não literalmente. Na verdade, Sócrates diz «não raro a prepotência atraiçoa o prepotente». E como nunca se deixa de aprender, Sócrates também diz: «Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder – de prender e de libertar.»
Esta afirmação também mete um bocadinho de medo. Sócrates descobriu o verdadeiro poder. Agora é chegar lá, prender tudo e só sai em liberdade quem der 50 paus ao Perna.
Vamos lá ver uma coisa. Para quem considerou o espectáculo em torno da sua detenção uma infâmia, talvez tivesse sido mais inteligente fazer um comunicado mais sóbrio, onde, por exemplo, não ameaçava o juiz que o prendeu de vingança. É que tudo o resto é contribuir para a infâmia, pois tudo o resto é espectáculo.
Bastava dizer quer ia lutar pela sua inocência e se porventura quisesse adiantar mais alguma coisa em sua defesa, então podia dizer que o Perna não levava dinheiro, levava chouriços; que a mãe enriqueceu com o volfrâmio e com as raspadinhas; e que o Carlinhos da Lena sempre teve grande olho para o negócio, tanto que lá e
m Alijó, quando iam ao café, a malta toda pagava 20 escudos pelo café, menos o Carlinhos, que ganhava 40.
E podia transmitir tudo isto através do seu advogado, que é, sem dúvida, até ao momento, a melhor coisa que José Sócrates deu ao país. Por onde andou este advogado? Apetece-me branquear capitais só para ser defendido pelo dr. Araújo.
A verdade é que, com este comunicado, onde promete vingança e sugere que existem contornos políticos, embora lá diga que o país pode seguir em frente, José Sócrates só acrescentou espectáculo ao espectáculo que ele diz não desejar, mas que parece apreciar um bocadinho.
É que José Sócrates nem sequer pede respeito pela sua privacidade e intimidade, que é o pedido elementar num comunicado deste tipo e particularmente útil para quem se queixa do espectáculo. Em vez disso, Sócrates termina lembrando que “Este processo só agora começou”. Que é só mais uma sentença para deixar as populações em sobressalto.
Seja como for, podem descansar todos aqueles que estavam muito preocupados com o espectáculo mediático, porque é lógico que Sócrates, mesmo perante as circunstâncias, aprecia. Ou melhor, há suspeitas de que aprecia. Assim é que é.

SIM, PSIQUIÁTRICO



PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE PARA O CANTE ALENTEJANO



Grupo Coral Etnográfico da Casa do Povo de Serpa

Reacção em cadeia...


Enviado pela leitora B.V.

Então bom dia!


quinta-feira, novembro 27, 2014

Não te metas com as tabelas de rua!...


Orquestra toca as melodias do Microsoft Windows - The Windows Waltz!



Enviado pelo leitor A.G.

Visão e percepção da realidade



Quem passa na zona da Porta Férrea nota que está em obras, mas é curioso que o tapume com a imagem da zona intervencionada não pareça, à primeira vista, tão falso como numa fotografia. 

A nossa visão é selectiva e incompleta e o nosso cérebro tem de fazer uma operação de engenharia inversa, procurando resolver em pequeníssimas fracções de segundo um problema com mais variáveis do que dados, preenchendo as lacunas e resolvendo as incoerências, a partir de imagens familiares ou plausíveis. Por isso somos muitas vezes enganados, mesmo achando ter claramente visto

A Lua junto ao horizonte parece muito maior, mas se a fotografarmos ou se medirmos o seu diâmetro acaba-se a ilusão (embora no segundo caso o nosso cérebro se recuse a mudar de opinião). Há dezenas de ilusões ópticas que nos enganam, confundem ou que nos conduzem a  imagens ambíguas sobre as quais não conseguimos decidir algum aspecto. Distâncias iguais que nos parecem diferentes, relevos que não existem mas que vemos, volumes que variam entre côncavos e convexos, olhos que nos perseguem, cores enganadoras, e tantas outras ilusões que são exploradas pelo acaso, pela arte e pela publicidade, muitas vezes para nos enganarem.

O céu é mais violeta que azul, mas nós vemos melhor o azul. Uma cor que julgamos ver poderá afinal ser outra, ou porque o nosso cérebro se enganou ou porque fomos enganados. O nosso cérebro gosta de regularidades e narrativas com pormenores. O catálogo das ilusões cognitivas é enorme. A nossa percepção dos riscos é enganadora. Uma memória pode formar-se a partir de uma ilusão. O inverossímel impostor Tom Castro de Borges pode não ser assim tão inverossímil. E as primeiras impressões são frequentemente as melhores porque o nosso cérebro, provavelmente, não quer mudá-las. O testemunho é a prova rainha em direito, mas também a mais falível. As evidências podem ser muito fortes, mas podemos continuar a acreditar nos nossos preconceitos.

 Nalguns caso a nossa visão e percepção da realidade melhoram com a consciência da ilusão e com o treino, noutros não. Quando voltarmos a olhar o painel este vai parecer-nos mais falso, mas a Lua junto ao horizonte não muda de tamanho. 

DAQUI

Amigos de Mário Soares

Em 30 de Novembro de 1983, chefiava Mário Soares o governo do Bloco Central, foi invectivado por manifestantes, em Coimbra. O governante pressionou um agente da PSP para que actuasse. Levados os detidos a Tribunal, o juiz Herculano Nogueira considerou não ter o caso acolhimento, pois o Código Penal exigia apresentação de queixa pelo ofendido. O estadista Soares não se conteve:Se o juiz entendeu que não foi um crime público, o problema é dele. Ficamos a saber que esse juiz não se importa que lhe chamem gatuno. O magistrado denunciou Sua Excelência ao Conselho Superior da Magistratura por desrespeito para com um órgão de soberania e a independência dos tribunais . Daí a dias, o Conselho de Ministros alterou o Código Penal, fazendo com que fosse dispensada qualquer queixa do ofendido, sempre que se tratasse de crimes de difamação, injúrias e outras ofensas contra órgãos de soberania e respectivos membros. Uma lei à medida. 

Em 26 de Novembro de 2014, à saída da prisão de Évora, onde foi visitar o amigo José Sócrates, o ex-governante e ex-presidente da República e actual Conselheiro de Estado invectivou magistrados, inspectores da Judiciária e da Autoridade Tributária, quantos, ao longo de um ano, cooperaram nos fundamentos processuais (até ao momento, 800 páginas de provas indiciárias), que persuadiram um juiz de Instrução Criminal a ditar prisão preventiva para um ex-primeiro-ministro. Mas ontem, Mário Soares, um ex-primeiro-ministro absolveu José Sócrates, outro ex-primeiro-ministro e condenou liminarmente a Justiça. O primeiro foi declarado inocente sem esperar pelo julgamento e a segunda considerada uma tropelia, uma vergonha, uma infâmia, uma bandalheira, coisa de uns tipos, de malandros.Pensaria Mário Soares, em 1983, que um belo dia, em 2014, poderia ser vítima da sua alteração do Código Penal? 

É evidente que o ex-primeiro magistrado da Nação sempre adoptou a pele de animal feroz na defesa de determinados amigos. Não se trata de uma questão de idade ou de emoção de circunstância. Defendeu continuadamente o amigo Carlos Andrés Pérez (1922-2010), que foi presidente da República da Venezuela, alvo de impeachment por acção da Procuradoria-Geral da República e do Congresso Nacional, sendo destituído, em 1993, detido preventivamente e depois sentenciado a dois anos e quatro meses de prisão. Acusação confirmada: peculato doloso e apropriação indevida. No que toca à fortuna pessoal, por via política, as estimativas situavam André Pérez ao nível das centenas de milhões de dólares. Era alcunhado saudita.Igualmente defendeu convictamente o amigo Bettino Craxi (1934-2000), ex-primeiro-ministro de Itália, amigo de Berlusconi, apanhado na Operação Mãos Limpas. Demitiu-se por corrupção. Não cumpriu a pena de 14 anos. Fugiu para a Tunísia, onde faleceu, amparado pelos 150 milhões de euros da conta-poupança afincadamente amealhada ao leme do governo. 

Neste momento, José Sócrates não é inocente: apenas beneficia de presunção de inocência. Ontem, em Évora, Mário Soares, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República e actual conselheiro de Estado, protagonizou uma cena de degradação entre o patético e o preocupante. O patético é óbvio. O senador está a precisar de descanso no Palácio da Pena. O preocupante é que alguém o secunde, pois está convencido que o país pensa como ele. José Sócrates até poderá ter alguma razão para queixumes. Mas muito mal andará se continuar a receber visitas de nível tão elevado.


DAQUI

Os selvagens e o banho quente


Quem beneficia com as amnistias fiscais aos capitais fugidos do país? (ler aqui)


O interesse público e os interesses do Público. A imprensa de mercado tem sabido transformar uma detenção no reality show que mais vende e este, por sua vez, tem conseguido provocar reacções que ecoam pelas redes sociais como espelho do povo que somos, a base a partir da qual se projecta o país que podemos ser.
Como todos os produtos low profile, o capítulo de hoje resume-se em meia dúzia de palavras: o recluso número 44 do Estabelecimento Prisional de Évora não tem banho quente. Tenho a certeza que quer o recluso 44, quer o 23 e o 35, quer também todos os portugueses sem direito a banho quente se sentiriam imensamente reconfortados se a maioria das reacções fossem, por um lado, de solidariedade para com todos eles e, por outro, de repúdio por todos os responsáveis políticos da Nação que concederam os milhares de milhão de euros em perdões fiscais que notícias como esta mostram como vão fazendo falta para dar o mínimo de dignidade às vidas de todos os portugueses, reclusos ou não.
Porém, infelizmente, os públicos rasca primam não apenas pelo imediatismo dos produtos jornalixicos das suas preferências, também pelo primitivismo das suas reacções. Pelo que vou lendo nas redes sociais, os selvagens dividem-se em dois grandes grupos. O primeiro congratula-se com o facto de até numa prisão com condições bastante acima da média, talvez a melhor do país, haja reclusos, nomeadamente o 44, sem direito a banho quente. O segundo, em vez de se solidarizar com o recluso 44, com o 10 e o 21, daquela e de outras prisões, ainda reclama banhinho quente e mais que seja para um desses governantes que andaram a oferecer os milhões em perdões fiscais que agora fazem falta em Orçamentos sem provisões sequer para mandar reparar um cilindro. Qual será o país idealizado por estas tribos? Estes selvagens metem mesmo medo.

DAQUI

QUANTOS SÃO...QUANTOS SÃO....


Enviado pela leitora B.V.

A justiça burguesa e a prisão de José Sócrates

A recente detenção e aprisionamento de José Sócrates levantou uma onda de choque, particularmente entre os seus correligionários e amigos. A indignação e as críticas focaram, não tanto a substância das acusações, mas em especial o modo como o aparelho repressivo de estado agiu neste caso. E, provavelmente, têm alguma razão em relação a este comportamento (às habituais fugas planeadas de informação, às amálgamas da acusação, às medidas de coacção inexplicadas, etc). Mais uma vez, a arrogância e a arbitrariedade do poder judicial ficaram aqui bem patentes. Pena é que muitos só protestem quando também lhes acontece a eles. Mas, sobre a arrogância e a arbitrariedade de alguma magistratura, do mesmo se poderão queixar, igualmente, vários elementos de outros partidos do regime.
Contudo, em relação aos assalariados e ao povo e, particularmente em relação aos “subversivos” (comunistas e anarquistas), a actuação do aparelho repressivo de estado atinge normalmente maior arrogância e brutalidade – quer a nível policial, judicial ou prisional. Quem já passou pelos cárceres do regime compreende do que falo. Uma coisa é certa: a legislação actual e o aparelho repressivo vigente são da responsabilidade das classes burguesas dirigentes, servem o patronato e são essencialmente dirigidas contra os trabalhadores. Assim, as classes dominantes burguesas, a que pertence o ex-primeiro ministro, não deviam ter muito de que se queixar – as suas leis também lhes podem ser aplicadas. Depende, em muito, das fracções da burguesia que dominam no momento.
Mas o grande mal disto tudo é que, no actual regime, esta gente (José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas ou Cavaco Silva) nunca é realmente julgada pelo essencial das malfeitorias que pratica contra os trabalhadores e o povo. Assistimos, não poucas vezes, a guerras levadas a cabo apenas entre as diversas fracções da burguesia (com algumas vinganças de permeio) ou referentes a “ilegalidades” resultantes do habitual funcionamento do próprio sistema de exploração capitalista, como é o caso da corrupção. E, às vezes, as acusações de “ilegalidades” são guardadas em carteira para momentos oportunos. Contudo, na maior parte dos casos, após a agitação necessária, a montanha pare um rato.
Nunca é demais chamar a atenção: ao contrário do que as classes dominantes e os seus agentes nos pretendem inculcar, a justiça deles (a justiça burguesa) não é neutra, é uma justiça de classe!

A culpa é do motorista


AINDA NÃO É DESTA QUE SOMOS CORRIDOS DA QUINTA

Às vezes fico com a sensação de que Portugal foi-nos entregue só para tomarmos conta. Ou seja, não somos um povo soberano, somos apenas os caseiros. Talvez por isso tenhamos que estar permanentemente a prestar contas lá fora.
Sobre a detenção de um ex-primeiro-ministro, por exemplo, das poucas coisas que o Presidente da República disse foi que a imagem externa do país “não se vai alterar significativamente”. Parece que um dos filhos dos caseiros foi apanhado com um charro, mas o pai não está preocupado porque os patrões estão satisfeitos com o trabalho e sabem que estas coisas acontecem.
Bom, mas é claro que a imagem externa do país foi a grande preocupação dos portugueses, quando repararam que um individuo que governou o país durante seis anos foi preso por corrupção. Nem os portugueses pensaram noutra coisa.
Às vezes podiam ter ficado preocupados com o que lhes estará eventualmente a custar essa corrupção. Podiam ter ficado intrigados sobre a dimensão dos crimes que são apontados ao ex-primeiro-ministro. Sobre as vulnerabilidades do Estado de Direito. Sobre a desconfiança relativamente ao poder judicial.
Mas não. O que preocupa verdadeiramente os portugueses deve ser a imagem externa do país, segundo o Presidente deles. E o Presidente está tranquilo, porque estas coisas não beliscam a imagem externa. Nem o ex-primeiro-ministro ser acusado de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, encontrando-se em prisão preventiva. Nem os chineses estarem a conquistar a Europa através de um sistema de corrupção em Portugal. Nem o actual primeiro-ministro ser suspeito de estar envolvido num esquema que servia para desviar fundos comunitários. Nem o vice-primeiro-ministro ter sido o ministro da Defesa quando foram feitos vários negócios que estão sob investigação. E muito menos belisca a imagem externa de Portugal, naturalmente, o facto de o Presidente da República ter sido o maior amigo dos mentores de uma das maiores fraudes financeiras, lucrando também com ela. Sem saber, claro. Porque se um amigo meu me viesse agora dar a ganhar duzentos mil euros, eu, dependendo do amigo, também não queria saber como é que ele os conseguia.
Então o que é que afecta a imagem externa do país? – perguntam enfim os portugueses, já também eles próprios se lixando para eles próprios. Bom, afecta a imagem externa do país… ora bem… afecta a imagem externa do país… bom, assim de repente… já sei! Afecta a imagem externa do país o Éder, por exemplo, que não tem jogado grande coisa. Sim, o Éder pode eventualmente afectar a imagem externa do país, mas tudo o resto o mundo lá fora sabe que são coisas que acontecem.
Entretanto, hoje queria sair mais cedo, mas não sei se ainda estão cá os patrões. Sim, porque eles vieram cá agora por causa disto do Zézito ter ido para a cadeia. Pelo menos a comunicação social portuguesa fez várias notícias sobre a presença da comunicação social estrangeira, que é uma espécie de alerta para toda a quinta “cuidado, estão cá os patrões”.

Olá bom dia !


Então boa noite!


quarta-feira, novembro 26, 2014

O que esta miúda pensa sobre a prisão preventiva de sócrates!


Detenção??!!!


Sem factura!



Ser jornalista de exteriores é uma profissão de alto risco!...

Cadê o outro?


Enviado pela leitora B.V.

O NOVO PRESÉPIO


Enviada pela leitora G.C.

CRIMES ECONÓMICOS E CRIMES PENAIS

Os piores crimes que um governante pode cometer não estão capitulados no Código Penal, podem ser cometidos sem infringir nenhum dos seus artigos:   são os crimes de lesa economia nacional.   Desgraçadamente, Portugal tem experimentado uma série contínua deles ao longo das últimas décadas. Começaram pelas privatizações selvagens e pela destruição da Reforma Agrária. Continuaram com a entrada na UE e a adesão ao Euro. Prosseguiram ao longo de anos com projectos absurdos como a rodoviarização acelerada no tempo de Cavaco como primeiro-ministro; com o desbaratar de dinheiros públicos com a construção de estádios no tempo de Guterres; intensificaram-se no governo Sócrates com negócios concebidos ad hoc para o capital financeiro e monopolista como as PPPs, o TGV, o novo aeroporto, os veículos eléctricos e muitos outros. 

É por crimes económicos como estes que os governantes deveriam ser julgados. O facto de muitos deles, incidirem também em crimes capituláveis no Código Penal é uma questão a latere. Tomá-la como principal é despolitizar os problemas, abdicar da análise numa óptica de classe e cair numa crítica moralista – como se o desastre a que Portugal foi conduzido fosse devido apenas à "desonestidade" de políticos. As portas giratórias entre governantes e capital monopolista continuam a girar intensamente e isso não é enquadrável no Código Penal. Se e quando alguns políticos são apanhados nas malhas da justiça por questões do dito Código, isso não deve fazer esquecer o principal.


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A casa dos segredos

O país à espera da notícia. Parecia a casa dos segredos. Todos davam palpites, todos muito íntimos a comentar com enorme familiaridade alguém que a grande maioria só conhece da televisão, todos muito certeiros nas suas convicções. E o veredicto lá saiu. José Sócrates permaneceria na casa. Bruá! Alguns paladinos do segredo de Justiça fizeram coro, agora contra o inaceitável segredo de Justiça. O juiz apenas comunicou aos arguidos e aos seus advogados, que não se queixaram do mesmo que os paladinos, a fundamentação da sua decisão de mantê-los em prisão preventiva.

E, como se a detenção fosse motivada por tráfico de enchidos de Vinhais e não de corrupção em larga escala, como se o que estivesse a ser averiguado fosse o estupro de um Zangado de peluche e não branqueamento de capitais e fraude fiscal, como se um dos envolvidos não tivesse sido Primeiro-ministro durante seis longos anos, continuou a ouvir-se o mesmo refrão que nasceu logo na Sexta-feira, “isto é apenas um caso de Justiça sem consequências políticas, porque à Justiça o que é da Justiça e à política o que é da política”. Entende-se. O que José Sócrates fez, se fez, não o fez sozinho. Há muita gente preocupada, preocupada consigo mesmo, preocupada com as consequências políticas que o envolvimento de um Primeiro-ministro num caso com a dimensão deste sempre terá e preocupada em semear na opinião pública e para proveito próprio, pessoal ou partidário, as mesmas solidariedades que vêm tornando possíveis toda a espécie de negócios, por mais ruinosos que sejam. E foram.

Proveitosos também. A ruína do lado que perde é sempre igual à fortuna do lado que ganha. À Justiça o que é da Justiça, muito bem, julgar se quem os conduziu do lado das perdas não jogou em vários tabuleiros e também participou no banquete que proporcionou ao lado dos ganhos, para que desta vez fiquemos todos a saber se foram apenas maus negócios ou uma divisão de proveitos reflexa da nossa divisão de perdas. Recordemos alguns. A memória do público da política, tão boa como a do público da casa dos segredos, esquece rapidamente os episódios e os protagonistas das séries passadas.

A estranha nacionalização selectiva do BPN apenas nacionalizou dívidas, deixando nas mãos da máfia que as amontoou tudo o que tinha valor. A reabilitação do parque escolar foi feita por meia dúzia de empresas contratadas maioritariamente sem concurso, logo, a preços malucos. Américo Amorim tornou-se o homem mais rico de Portugal do dia para a noite com a privatização da Galp. A exploração da rede hídrica nacional foi concessionada por quase um século a troco de umas migalhas. Empresas como a J. P. Sá Couto, que pôde vender com desconto pago pelos contribuintes o computador Magalhães em todas as escolas portuguesas, e a Martifer, que pôde vender a todos aqueles com dinheiro para aproveitarem a borla bombas de calor alegadamente ecológicas com descontos da mesma tipologia, estavam prestes a falir antes do negócio que as tornou imensamente lucrativas. As PPP que se constituíram para a construção de auto-estradas foram sendo renegociadas em termos cada vez mais desvantajosos para o Estado e, também progressivamente e na mesma medida, mais vantajosos para o parceiro privado. O “interesse nacional” foi constantemente invocado para justificar construções em áreas até aí ecologicamente protegidas. Foram perdidas largas centenas de milhão de euros descontados por todos nós para nos garantirem velhices dignas quando já não trabalharmos num jogo de casino que envolveu paraísos fiscais. A lista de negócios do socratismo é infindável, não cabe toda aqui.

Se aqui a trago é para ilustrar aquele “à política o que é da política”: o julgamento que dela fizeram os portugueses que a prolongaram despindo o santo que a produziu para vestir o santo que vendeu a preços novamente de amigo, entre outras, a EDP, a REN, os CTT, a ANA, os Estaleiros de Viana e se prepara para alienar a TAP, novamente sem outra reacção que não o mesmo despir do santo responsável pela nova lista para voltar a vestir o padroeiro da central de negócios responsável pela lista que a antecedeu. Com votos que condenam e não com a abstenção que vai permitindo esta alternância do arco da roubalheira seria possível, no “à política o que é da política”, condená-los a todos em simultâneo. Mas o coro exige-o é no “à Justiça o que é da Justiça” e pergunta: “então e os outros?” Os outros também teriam outros que, por sua vez, ainda teriam outros que também teriam outros outros.



CELEUMA DAS DILIGÊNCIAS

Que a Justiça não é propriamente o maior orgulho dos portugueses, já se sabe. Antes pelo contrário. Os portugueses nem mostram a Justiça a ninguém. Se aparece aí alguém de fora e pergunta pela Justiça, os portugueses dizem que ela saiu. E se esse alguém diz que espera, os portugueses dizem que não pode ser, porque ela saiu para uma viagem de solitário pelo Atlântico num veleiro de quatro metros.
É este o orgulho que os portugueses têm na sua Justiça, que é demasiado lenta e muito pouco fiável. Ou melhor, “diz-se” que é demasiado lenta e muito pouco fiável, pois a maioria dos portugueses também nunca a viu porque não tem dinheiro para os bilhetes. É mais barato apanhar um avião para ir ver uma ópera a Milão do que ir ali ao lado pedir Justiça. Mesmo quando se tem razão, que seria um pormenor relevante se a Justiça tivesse pachorra para ouvir as pessoas. Em vez disso, a Justiça deixa-as desabafar e depois prega sempre com o bordão em quem dá menos luta, que é para o assunto ficar por ali.
Ora, como se não bastasse o desgosto que os portugueses têm com a Justiça, nem quando aparentemente ela está a funcionar os portugueses podem ser felizes, pois há sempre alguém a arguir vergonhas. “Isto é uma vergonha, aquilo é uma vergonha, é tudo uma vergonha”.
O caso mais recente é, como não podia deixar de ser, a detenção de José Sócrates. Há quem diga que foi uma vergonha, sobretudo pelo espectáculo que a Justiça montou. Vamos lá ver uma coisa: É possível deter um ex-primeiro-ministro para interrogatório sem se ser espectacular? Como? O juiz Carlos Alexandre chegava ao pé de Sócrates ao volante de um táxi e dizia-lhe “entre, já lhe explico” e depois interrogava-o às voltas pela cidade. Era isto? Ou Sócrates vestia-se de mulher e partiam os dois em lua de mel. Isso então era o ideal, porque nem o interrogavam em território nacional, aí é que ninguém sabia mesmo de nada.
Bom, mas há quem diga que nem sequer é preciso prender para ouvir. Na verdade, convidar para um chá era mais correcto, mas em casos de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais há questões que não podem seguir as regras da boa educação e em que é preciso ouvir o mais rapidamente possível os envolvidos, impedindo-os de contactos entre eles. Isto é elementar. Não é telefonar para um suspeito de corrupção e dizer-lhe “passe aqui no Tribunal, gostava de trocar umas impressões consigo aqui sobre uns dinheiros que supostamente meteu ao bolso, mas veja lá quando é que pode, pois eu não quero de maneira nenhuma condená-lo já em praça pública”.
Também se ouviu, sobre o caso de Ricardo Salgado, algumas pessoas defenderem a vergonha que foi terem ido buscar o homem a casa, quando ele tinha prometido que passava por lá. E nem o deixaram ir no seu carro, teve de ir no da polícia.
Como é que a investigação não confiou num homem em que “aparentemente, alegadamente, talvez, não sei, dizem que é uma hipótese” não se deve confiar? E a questão do carro… então e se Ricardo Salgado, no caminho, se jogasse contra um poste, arrependido que estava dos crimes que aparentemente cometeu? Seria uma vergonha para a Justiça, que o tinha deixado ir pelos seus próprios meios. Mas como foi nos meios da polícia, foi uma vergonha para a Justiça porque não o deixou ir pelos seus próprios meios.
Mas enfim, estas diligências incomodam aqueles que não querem ver políticos e banqueiros nestas circunstâncias e por isso vamos lá então propor alterações ao código do processo penal para que isto não se repita.
E assim, um ex-banqueiro não deve ir no carro da bófia, quando muito vai a bófia no carro do ex-banqueiro, que há-de ser muito maior e mais confortável. Mas a boleia não será sequer uma necessidade se o ex-banqueiro se disponibilizar para ser ouvido, gentileza que se deve agradecer, confiando plenamente que no dia certo e à hora marcada ele lá estará. Se não estiver, foi porque não pôde, porque isto são pessoas muito ocupadas. E se nunca mais aparecer, lá terá as suas razões, provavelmente nem gostou do convite e está no seu direito, pois quando fugiu era um homem livre.
Também os ex-governantes devem ser tratados com especial cuidado. Por exemplo, um ex-governante que apanhe um avião em direcção a Lisboa deve ser ilibado de todas e quaisquer suspeitas, porque voltou para casa e isso é tão lindo. Ele podia ter ido para o Brasil, para a Venezuela ou até para Cuba, mas voltou para casa. Os portugueses deviam estar emocionados em vez de chocados.
Mas se ainda assim o Tribunal quiser ouvi-lo, então devem perguntar-lhe se tem vagar e pedir para escolher o local, que não deve ser o Tribunal, sob pena de se ser condenado em praça pública. O ideal é os interrogatórios decorrerem num shopping com muita gente, mas mesmo assim o juiz e o suspeito devem sorrir várias vezes para não causar qualquer desconfiança.