quinta-feira, novembro 27, 2014

Os selvagens e o banho quente


Quem beneficia com as amnistias fiscais aos capitais fugidos do país? (ler aqui)


O interesse público e os interesses do Público. A imprensa de mercado tem sabido transformar uma detenção no reality show que mais vende e este, por sua vez, tem conseguido provocar reacções que ecoam pelas redes sociais como espelho do povo que somos, a base a partir da qual se projecta o país que podemos ser.
Como todos os produtos low profile, o capítulo de hoje resume-se em meia dúzia de palavras: o recluso número 44 do Estabelecimento Prisional de Évora não tem banho quente. Tenho a certeza que quer o recluso 44, quer o 23 e o 35, quer também todos os portugueses sem direito a banho quente se sentiriam imensamente reconfortados se a maioria das reacções fossem, por um lado, de solidariedade para com todos eles e, por outro, de repúdio por todos os responsáveis políticos da Nação que concederam os milhares de milhão de euros em perdões fiscais que notícias como esta mostram como vão fazendo falta para dar o mínimo de dignidade às vidas de todos os portugueses, reclusos ou não.
Porém, infelizmente, os públicos rasca primam não apenas pelo imediatismo dos produtos jornalixicos das suas preferências, também pelo primitivismo das suas reacções. Pelo que vou lendo nas redes sociais, os selvagens dividem-se em dois grandes grupos. O primeiro congratula-se com o facto de até numa prisão com condições bastante acima da média, talvez a melhor do país, haja reclusos, nomeadamente o 44, sem direito a banho quente. O segundo, em vez de se solidarizar com o recluso 44, com o 10 e o 21, daquela e de outras prisões, ainda reclama banhinho quente e mais que seja para um desses governantes que andaram a oferecer os milhões em perdões fiscais que agora fazem falta em Orçamentos sem provisões sequer para mandar reparar um cilindro. Qual será o país idealizado por estas tribos? Estes selvagens metem mesmo medo.

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