domingo, novembro 30, 2014

Porque não se acaba de vez com a profissão docente?


A fotografia acima reproduzida - publicada no jornal Correio da Manhã de 19 de Outubro do presente ano - traduz exactamente a maneira como eu imaginei o papel do professor nas aulas onde entrarem os tablets,com conteúdos previamente programados por tecnólogos.

Esse papel será, como, em linguagem "pedagógica" há muito tempo se diz, de (mero) gestor, guia, orientador... Será isso, mas não será de professor.

Trata-se de um papel que, de modo recorrente, é imposto aos professores, sendo que muitos o aceitam e o defendem.

Sem recuar muito no tempo, encontramo-lo:
- nos "pacotes didácticos à-prova-de-professor", "inventados", nos anos sessenta, nos Estados Unidos da América e difundidos com grande rapidez por vários países;
- nas velhinhas "máquinas de ensinar" e, depois, no "ensino assistido por computador";
- nos actuais manuais escolares, que, quais "pacotes didácticos", incluem tudo o que é preciso para aprender;
- agora, nos novos equipamentos que são os computadores portáteis, os quadros interactivos, etc.

E, repare bem o leitor: todas estas alternativas que, com a apregoada supremacia de recursos - os quais, dependendo da época, podem ser em papel ou digitais - afastam o professor da sua função de ensinar, são acompanhados da promessa de sucesso educativo garantido.

Note a subtileza do que se encontra implícito no artigo de onde retirei a imagem (aqui): se mantivermos o professor (apenas e só) como intermediário entre os recursos e os alunos, se ele deixar de ser verdadeiramente professor, todos os alunos aprenderão tudo. Assim teremos o céu na terra!

É lamentável que uma sociedade aceite esta ideia e a confirme.
É lamentável que cientistas, tão eruditos como os que se referem na notícia do jornal a que me refiro e muitos outros que tenho ouvido, a promovam.
E, mais lamentável é que haja escolas e professores estejam alinhados por ela e se ajam de acordo com ela.

Sociedade, cientistas, escolas, professores, toda a gente deveria perceber que o professor é um profissional intelectual cujo mandato é ensinar. 

Isto significa que, face às directrizes e orientações da tutela e da escola, tem por dever filtrar e organizar o conhecimento, aferir os objectivos e dar-lhes sentido, seleccionar os métodos e os recursos que comprovadamente são mais adequados à aprendizagem...

Este trabalho - sim é um trabalho -, que requer uma enorme competência, precisa de ser feito para todas as disciplinas e/ou temáticas que lecciona, tendo em conta, sobretudo, as turmas, os grupos de alunos e os alunos individualmente.

Um professor é um decisor: alguém que, a partir do que se encontra determinado superiormente, tem a obrigação de escolher, em liberdade e com sentido de responsabilidade, de entre as possibilidades de acção aquela que, num determinado momento, se afigura mais adequada na concretização do que é oBem em termos de educação formal.

Negar-se esta faceta ao professor, que é a matriz da sua função, é negar a sua existência.
Mais honesto seria acabar-se, de vez, com esta profissão!


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