quinta-feira, abril 30, 2015

A TRISTE FIGURA DA COLIGAÇÃO EUA-ARÁBIA SAUDITA

Deserções aos milhares das bases e dos quartéis, que alguns serviços europeus de informações avaliam na ordem dos 10 mil efectivos, obrigaram a Arábia Saudita a cancelar, ou mesmo a desistir, da invasão terrestre do Iémen. A medida foi tomada não tanto pelo elevado número de militares que abandonaram os seus postos, ainda assim cerca de 10 por cento do contingente previsto para a invasão, mas porque a debandada revela a falta de ânimo das forças armadas da ditadura para se envolveram em batalhas terrestres, depois do falhanço das operações aéreas, que não atingiram nenhum dos objectivos proclamados e alcançaram o único não anunciado: chacinar dezenas de milhares de civis numa repugnante campanha de terror.

Reparem agora como Washington e Riade explicam a pretensa suspensão dos ataques – a Arábia Saudita anunciou o fim dos bombardeamentos aéreos, embora prossigam – através dos seus órgãos de propaganda, na tentativa de limpar a face da carnificina civil e do fracasso militar. Seriam argumentos dignos dos Monty Piton, ou da guerra de Solnado, não se desse o caso de a campanha de terror ter vitimado um número incontável de civis, incluindo mulheres e crianças, que pagaram com a vida mais estes jogos de guerra imperiais.

Washington, pela voz do impagável e servil New York Times, garante que os bombardeamentos aéreos sauditas pararam (o que, por enquanto, é mentira) devido às intensas pressões da Administração Obama, na verdade incomodada pelas repercussões negativas geradas através do mundo pela sangrenta operação terrorista contra a população civil iemenita.

A Arábia Saudita, a contas com as deserções em massa e perante o silêncio cúmplice – eventualmente aliviado – de uma dezenas de aliados, entre os quais a junta do Egipto, garante que cancela a invasão e suspende os bombardeamentos porque atingiu os objectivos militares.

Atingiu? Vamos ver.

Riade diz que destruiu a força aérea inimiga. É verdade: o pouco que havia estava no chão e às ordens do presidente Abu Mandour Habi, refugiado na capital saudita.

Riade afirma que destruiu as capacidades do inimigo em mísseis balísticos. É uma verdade de Monsieur de La Palisse: não havia mísseis balísticos no Iémen.

Riade assegura que destruiu o controlo de comando inimigo. Não se sabe é qual, porque havia tantos controlos de comando como os grupos coligados com os rebeldes xiitas houthis, entre eles a Al-Qaida e os sunitas urbanos do ex-presidente Saleh.

Riade jura que limitou os movimentos dos rebeldes houthis. Ora os houthis mantêm em seu poder a capital Sanaa e as regiões meridionais petrolíferas, incluindo o porto estratégico de Adem; por isso, não necessitam de se mover para controlar o país.

Riade revela que, através das acções já realizadas, garantiu a segurança do seu território e a protecção do governo “legítimo” do presidente Habi. Também é verdade. O Iémen jamais ameaçou o território saudita; e o presidente Habi não pode estar mais protegido, uma vez que se encontra em Riade, no colo da família real, uma vez que as operações realizadas não o devolveram ao posto em Sanaa a que diz ter direito.

Um glorioso êxito militar, como se percebe, da não menos gloriosa aliança entre o farol da democracia planetária e um dos faróis do terrorismo planetário. Enquanto isso, a mal afamada Al Qaida reforçou a presença no Iémen, pois ficou incólume nas posições que detinha entre os grupos que repartem o poder no país; e o esforço militar no Iémen aliviou a pressão sobre o não menos mal afamado Estado Islâmico, mais incólume ainda do que já estava antes, apesar da apregoada campanha de bombardeamentos aéreos norte-americanos.

Quanto a isto, duas deduções podem fazer-se. Dificilmente os bombardeamentos aéreos resultam quando não se pretende liquidar o que se ataca; e perante os resultados dos ataques de aviação no Iémen e contra o Estado Islâmico há que dar razão aos militares, incluindo comandos da NATO, segundo os quais as guerras aéreas não ganham conflitos e o império sofre de graves lacunas em termos de guerras convencionais.