terça-feira, abril 28, 2015

Danos reputacionais? E daí?

A Comissão Executiva (CE) do Grupo Lena disse ao Expresso que “os prejuízos em Portugal e no estrangeiro” que decorrem da detenção do vice-presidente Joaquim Barroca no âmbito da Operação Marquês são “de carácter reputacional”, acrescentando ainda que “Em 2014, tivemos os melhores resultados de sempre“. Sobre José Sócrates, esse grande amigo do Grupo Lena, o presidente da CE Joaquim Paulo Conceição (JPC) mostra-se convicto que o processo que colocou o ex-primeiro-ministro atrás das grades resulta de “um equívoco”, algo que “será demonstrada no sítio certo, em sede de  Justiça“. É sempre reconfortante podermos contar com a vasta experiência de grandes empresários como este senhor para percebermos, antes da justiça se pronunciar, que tudo isto não passou de um embuste e que o 44 é afinal vítima de um equívoco. Um equívoco milionário mas ainda assim um equívoco.
Chamou-me a atenção o facto de JPC ter feito referência aos tais danos reputacionais como algo de somenos, que inclusive não afecta a actividade empresarial do grupo. E convenhamos que existe muita sabedoria nestas palavras. Até porque, se danos reputacionais dessem cabo da actividade das empresas encostadas ao Estado, pouco sobraria do tecido. No PSI-20 seria a tragédia.
No fundo, as palavras de JPC valem para muitas empresas como para a nossa casta política. Se os tão comuns danos reputacionais tivessem impacto na sobrevivência dos partidos do regime, o bloco central desapareceria mais rápido que o PASOK. Mas como a reputação interessa cada vez menos, até porque a malta já se vai habituando à banalização do tráfico de influências e da corrupção generalizada, está tudo bem. A informação é tanta e os casos multiplicam-se de tal forma que a maioria acaba por cair no esquecimento. Há-de chegar o dia que Sócrates, o inocente, habitará o Palácio de Belém. E daí? Cavaco e Soares não o habitaram também?